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Terrorismo

Jornais franceses dão razão à Apple no litígio sobre celular de terroristas nos EUA

Três jornais franceses destacam em primeira página nesta sexta-feira (19) o litígio entre a Apple e a justiça nos Estados Unidos. Dois meses e meio depois do ataque terrorista em San Bernardino, na Califórnia, um tribunal americano ordenou à empresa criar um programa para que o FBI possa desbloquear o iPhone usado por um dos envolvidos no ataque, medida que poderia ser estendida a outras investigações se necessário.  

Farook e Malik: IPhone impenetrável.
Farook e Malik: IPhone impenetrável. (FBI, left, and California Department of Motor Vehicles via AP)
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Alegando que as implicações dessa ordem são "arrepiantes", o presidente da Apple, Tim Cook, prometeu lutar contra as autoridades até o fim, para defender o direito à vida privada de seus clientes e evitar abusos de espionagem como os que envolveram a Agência Nacional de Segurança (NSA).

Capa do Libération, o assunto provoca polêmica. O jornal afirma que a Apple se recusa a ajudar o serviço secreto americano a decifrar as mensagens e ligações telefônicas de terroristas porque isso poderia ter repercussão sobre os iPhones de qualquer pessoa. "Seria a revanche do cidadão comum espionado?", questiona o jornal francês em seu editorial.

Libération estima que o pedido da justiça americana é legítimo, pois uma investigação criminal pode exigir a exploração de dados sigilosos. O problema atual é que o próprio serviço secreto americano abusou de escutas, como foi revelado por Edward Snowden no escândalo da NSA, e a confiança está abalada, diz o Libération. Quem pode garantir que se a Apple instalar um decodificador em seus telefones, o recurso seria usado apenas em casos flagrantes de terrorismo, argumenta o diário. "Deve-se conceder esse poder absoluto a Estados espiões", questiona o jornal, se posicionando pela proteção de dados pessoais.

Celulares encriptados desafiam autoridades

O jornal Le Figaro afirma que o dilema entre respeito à vida privada e segurança é tão velho quanto a democracia nos Estados Unidos. No caso do atentado em San Bernardino, o FBI já tentou, sem sucesso, entrar ao menos dez vezes no iPhone do terrorista Syed Rizwan Farook e de sua mulher, ambos abatidos pela polícia. Porém, o casal deve ter instalado um programa que impede o desbloqueio do telefone, daí o pedido de ajuda à Apple. A empresa, por outro lado, garante não ter meios de advinhar o código de proteção instalado pelo terrorista.

Le Figaro nota que as autoridades francesas não comentam uma declaração do diretor da NSA, de que os atentados de 13 de novembro em Paris não teriam acontecido se a polícia tivesse percebido que os envolvidos se comunicavam por celulares encriptados. A justiça francesa tem atualmente oito celulares em seu poder utilizados em operações criminosas que não puderam ser decifrados por utilizar esses sofisticados sistemas de proteção de dados.

O jornal Aujourd'hui en France nota que autoridades e organizações criminosas e terroristas travam uma guerra tecnológica permanente. O diário lembra que a segurança dos celulares foi reforçada pelos fabricantes depois dos abusos da NSA, e agora é como se o feitiço se voltasse contra o feiticeiro. Em uma charge que ironiza a situação, dois homens conversam. O primeiro afirma, enquanto desbloqueia o celular: "se você se enganar de código de acesso, o telefone se autodestrói". O amigo pergunta: "É um kamikaze?"

 

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