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Coreia do Sul e Japão anunciam acordo sobre escravas sexuais

Os governos da Coreia do Sul e do Japão anunciaram nesta segunda-feira (28) terem chegado a um acordo histórico sobre o drama das mulheres submetidas à escravidão sexual pelo exército japonês durante a Segunda Guerra Mundial. Após um encontro de ministros das Relações Exteriores dos dois países em Seul, o Japão aceitou pagar à Coreia do Sul uma indenização às poucas sobreviventes desse período de um bilhão de ienes (cerca de R$ 32 milhões).

Algumas das sobreviventes sul-coreanas dos bordéis militares japoneses durante a Segunda Guerra Mundial.
Algumas das sobreviventes sul-coreanas dos bordéis militares japoneses durante a Segunda Guerra Mundial. REUTERS/Hong Ki-won/Yonhap
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O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, considerou que o acordo inicia uma "nova era" nas relações entre os dois países. Por meio de Fumio Kishida, ministro das Relações Exteriores, Abe expressou o arrependimento do povo japonês pelo sofrimento causado e pediu perdão às vítimas, abrindo o caminho de um restabelecimento total das relações entre Tóquio e Seul.

Em 2007, logo que chegou ao poder, o chefe de Governo provocou uma onda de indignação quando declarou que a maior parte das mulheres, que ficaram conhecidas como "mulheres conforto", não havia sido obrigada a se prostituir.

Segundo vários historiadores, 200 mil mulheres, principalmente coreanas, mas também chinesas, indonésias e de outras nacionalidades, foram submetidas à escravidão sexual pelo exército japonês durante a Segunda Guerra Mundial. Na Coreia do Sul restam 46 sobreviventes.

Questão atrapalhou a relação entre Coreia do Sul e Japão

A questão da escravidão sexual vinha envenenando as relações entre os dois vizinhos há décadas. Até recentemente, a presidente sul-coreana Park Geun-Hye manteve uma posição intransigente sobre o assunto, dizendo que esse era o maior obstáculo à amizade entre as duas nações. No mês passado os dois países realizaram uma cúpula bilateral em Seul, na qual decidiram acelerar as negociações para solucionar o problema.

Segundo o chefe da diplomacia sul-coreana, Yun Byung-Se, o acordo é "definitivo e irreversível". Ele também indicou que o seu país evitará levantar a questão durante os próximos encontros internacionais.

Desde que ambos os países normalizaram suas relações, em 1965, o Japão entregou cerca de US$ 800 milhões (R$ 3,1 bilhões) em subsídios ou empréstimos à Coreia do Sul. Contudo, esse montante foi financiado por fundos privados e não pelo governo japonês. Desta forma, Seul continuou a exigir que o Japão formulasse uma nova declaração para pedir perdão às mulheres escravizadas nos prostíbulos do exército imperial e que indenizasse as sobreviventes.

O acordo desta segunda-feira também prevê que Seul se esforce, em cooperação com as associações de vítimas, a mudar de lugar uma estátua que simboliza o sofrimento das chamadas 'mulheres conforto' que está atualmente na frente da embaixada japonesa. Tóquio considera esta obra insultante.

Interferência dos EUA na questão

Apesar do anúncio de hoje, uma ala mais consercadora e nacionalista do governo japonês se recusa a admitir as atrocidades cometidas contra as mulheres asiáticas durante a Segunda Guerra Mundial. De acordo com o correspondente da RFI em Tóquio, Frédéric Charles, depois do fim do conflito, os Estados Unidos não quiseram levar os altos responsáveis à justiça internacional.

Embora contrarie os norte-americanos, Washington prefere ver seus aliados concentrados em outras questões, como uma resposta conjunta às ambições da China na região. De acordo com muitos observadores, a Casa Branca pressionou a presidente Park para aliviar sua posição.

Acordo é insuficiente

Para a historiadora francesa especialista em Coreias, Juliette Morillot, o acordo é insuficiente porque priorizou as relações entre os dois países e não as vítimas dos abusos sexuais em si. "Conversei hoje com uma dessas mulheres que eram escravas sexuais e elas não estão interessadas em indenizações, mas no reconhecimento do erro pelos japoneses", explica.

Segundo Morillot, as vítimas têm a impressão de não terem sido suficientemente levadas em conta nas negociações. "É isso que, mesmo com o estabelecimento do acordo, ainda permanece atravessado na garganta dessas mulheres", completa.

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