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Novo presidente afegão deve conter avanço dos talibãs

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Sob a ameaça constante de atentados terroristas e fraudes eleitorais, os afegãos vão às urnas neste sábado para escolher o próximo presidente. O atual dirigente, Hamid Karzai, chega ao fim de 13 anos de governo com um balanço contestado – o país enfrenta um pico de instabilidade, com o avanço perigoso dos talibãs, a economia está dilacerada e as incertezas sobre o futuro são completas, já que as tropas internacionais americanas e da Otan sairão do país até o final do ano.

Cartazes com os candidatos as eleições presidenciais afegãs nas ruas de Cabul.
Cartazes com os candidatos as eleições presidenciais afegãs nas ruas de Cabul. REUTERS/Parwiz
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Oito candidatos disputam as eleições presidenciais, e três despontam como favoritos. Abdullah Abdullah é o principal representante da oposição e foi o segundo colocado nas eleições de 2009. Abdullah garante que só as fraudes podem impedi-lo de vencer.

Outro favorito, Zalmai Rassul, era o ministro das Relações Exteriores e foi conselheiro de segurança de Karzai, de quem reivindica ser o herdeiro político. Por fim, o pesquisador e economista internacionalmente respeitado Ashraf Ghani, professor de Columbia, surpreendeu durante a campanha eleitoral ao reunir cada vez mais admiradores em seus comícios.

O antropólogo e ex-diplomata Georges Lefeuvre, especialista no Afeganistão e no Paquistão, acha que o resultado do pleito é uma incógnita. “Zalmai Rassul com certeza tem a preferência da comunidade internacional, porque ele é muito ocidentalizado na sua forma de ser, de falar, de dialogar. Mas não é a comunidade internacional que vota: são os afegãos. Portanto ninguém pode ter certeza ao dizer ‘esse vai ganhar’”, constata.

Vencer o medo

O vencedor das eleições vai comandar a difícil transição do país após 13 anos de intervenção internacional. O secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, encoraja os afegãos a participarem do pleito, apesar dos riscos de atentados. “Este é o dia em que o povo afegão vai decidir o futuro que ele quer. Vão para as urnas, exercitem os seus direitos democráticos, porque apenas vocês têm o direito de decidir sobre o futuro do seu país”, afirmou.

Nas últimas semanas, os talibãs deixaram claro que farão o possível para atrapalhar a votação. A maioria dos analistas concorda que o risco de ocupação pelos rebeldes após a saída dos ocidentais é o principal desafio para o próximo presidente. O consultor e pesquisador afegão Karim Pakzad, do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas de Paris, observa que, apesar do medo, a população protagoniza uma mobilização eleitoral sem precedentes no país.

“Estamos assistindo a uma mobilização extremamente importante da população. Milhares, e às vezes dezenas de milhares de pessoas participam dos comícios eleitorais dos três candidatos favoritos no primeiro turno”, relata. “É verdade que nem toda essa multidão comparece espontaneamente, mas mesmo assim podemos dizer que a necessidade de realização de eleições começa a entrar na sociedade afegã.”

Karzai criticado

O atual presidente deixa o poder sob críticas de todos os lados. Dos ocidentais, por não assinar um acordo de segurança com os Estados Unidos para garantir uma presença militar americana no país em 2015. Dos afegãos, por não ter conseguido afastar o terrorismo e ter promovido poucos avanços no desenvolvimento econômico e das instituições afegãs. “Algumas instituições que classificamos como ‘democráticas’, entre aspas, puderam surgir no Afeganistão.

Mas o balanço de Karzai sob o ponto de vista da segurança, da economia e principalmente do funcionamento do Estado, é extremamente negativo”, observa Pakzad. “Mesmo com os 150 mil soldados da coalizão internacional, ele não foi capaz de garantir a segurança. Os talibãs são capazes de fazer ações terroristas até no coração da capital, Cabul. Os talibãs sequer negociam com Karzai porque sabem que o Afeganistão vai ficar muito enfraquecido sem a ajuda internacional, no final do ano.”

Nas eleições de 2009, Karzai foi reeleito sob a sombra de um índice elevado de fraudes. A violação das urnas deve se repetir neste 5 de abril, mas para Lefeuvre, o problema não necessariamente invalida os resultados. “Nada indica que agora isso vai se repetir. É preciso ter em mente que há uma população urbana afegã que começa a saber como funciona uma democracia parlamentar, com um sistema de votações, etc.

Mas a cultura de uma campanha eleitoral à ocidental ainda está longe de acontecer”, explica o consultor. “Vai haver fraudes. O que é relevante saber é quanto de fraudes haverá. Se afetarem 2, 3 ou 4% dos votos, não terão retirado o valor representativo da eleição.”

O segundo turno das eleições afegãs está previsto para o dia 28 de maio.

 

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