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O Mundo Agora

Crise dos refugiados pode levar Europa a agir militarmente

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A chanceler alemã, Angela Merkel, está começando a pagar caro a sua posição generosa a favor dos refugiados que se amontoam nas fronteiras da Europa. A tentativa de assassinato da candidata à prefeitura de Colônia por um racista confesso, e os ataques incendiários contra refúgios para imigrantes, demonstram que até na Alemanha a rejeição vem crescendo. O grupo Pegida – ultranacionalista e xenófobo – estava às moscas. Hoje já se sente bastante forte para convocar uma manifestação de massas na cidade de Dresden.

Uma grande maioria dos refugiados tentam chegar na Alemanha, eleita como eldorado após a decisão da chanceler Angela Merkel de acolher 800 mil migrantes.
Uma grande maioria dos refugiados tentam chegar na Alemanha, eleita como eldorado após a decisão da chanceler Angela Merkel de acolher 800 mil migrantes. REUTERS/Dado Ruvic
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Claro, esses atos de intolerância são minoritários. Quando Merkel anunciou que estava disposta a acolher 800.000 refugiados, houve uma imensa mobilização para recebê-los. E a candidata à prefeita esfaqueada, também favorável à vinda dos refugiados, foi eleita com maioria absoluta no primeiro turno. Mas não dá para tapar o sol com peneira: a chanceler está sendo criticada dentro do seu próprio partido e por vários dirigentes de países vizinhos membros da União Europeia.

Merkel tem motivos de sobra para sentir compaixão por pessoas que tentam escapar de guerras e regimes autoritários. Filha de um pastor protestante morando na velha Alemanha do Leste comunista, ela entende perfeitamente esse anseio de fugir para a paz e a liberdade. Só que o mundo não está para angelismos.

Prometer que a Alemanha, mesmo sendo um dos países mais ricos do mundo e precisando de imigrantes, vai abrir as portas para quase um milhão de pessoas, transformou em realidade os sonhos de populações inteiras desamparadas no Oriente Médio e em alguns países africanos. Uma esperança que veio alimentar ainda mais a enxurrada de migrantes para a Europa com uma ideia fixa: alcançar o Eldorado alemão.

É claro que os Europeus mais ou menos xenófobos estão chorando de barriga cheia. A grande maioria dos refugiados africanos, sírios ou afegãos estão acampados, em condições deploráveis, nos Estados vizinhos bem mais pobres do que a próspera e democrática Europa. A Turquia administra dois milhões de refugiados sírios e a Jordânia mais de um milhão. Mas não há dúvida de que o problema é politicamente explosivo.

Alguns países do Leste membros da União Europeia, com a Hungria na frente, não querem saber de acolher refugiados e estão construindo muros nas fronteiras. Tirando a Suécia, que sempre foi mais aberta, os outros países da Europa ocidental só aceitam os fugitivos a conta-gotas e mesmo assim enfrentam pressões e agressões de seus movimentos de extrema-direita domésticos cada vez mais de vento em popa. As últimas eleições legislativas na Suíça, consagraram o avanço espetacular de um partido anti-imigrantes e anti-europeu.

E até na Alemanha, o parlamento decidiu adotar regras mais restritivas para a entrada de novos migrantes. É puro veneno político ameaçando os equilíbrios políticos de vários países europeus e a própria coesão da União.

Os principais líderes europeus estão perfeitamente conscientes do perigo. Daí a decisão coletiva, empurrada por Angela Merkel, de definir uma distribuição do fluxo de refugiados entre todos os Estados membros. Daí também o projeto de reforçar drasticamente os controles nas fronteiras externas da União e convencer os países periféricos, como a Turquia, de fazer o trabalho sujo de impedir a passagem dos refugiados.

A chanceler alemã que sempre foi contra a entrada da Turquia na União Europeia, agora foi conversar com Ancara prometendo retomar e facilitar as negociações de adesão. Claro, isso não basta. Para estancar a maré de refugiados, a única solução é resolver o problema na fonte. Isto é: uma ajuda realmente eficiente ao desenvolvimento e à construção de instituições democráticas nos países de origem.

E também, por vezes, intervenções militares necessárias para restabelecer e manter a paz. Frente ao desafio migratório e às pressões e agressões russas nas suas fronteiras orientais, a Europa e sobretudo a Alemanha, não podem mais adiar um debate sério sobre o seu “hard-power” e sua utilização.

Está na cara que os Estados Unidos não estão mais a fim de mandar a cavalaria cada vez que europeus estão em apuros. A hora do “ou vai ou racha” está chegando rapidamente.
 

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