Alemanha se deu conta de que acolher migrantes será tarefa difícil
A ameaça que representa o fluxo de refugiados ao acordo Schengen, de livre circulação de pessoas na Europa, e a situação delicada da Alemanha, que parece ter perdido o controle em relação à chegada maciça dos migrantes, são os temas em destaque na imprensa francesa desta terça-feira (15).
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O jornal francês Libération foi a Munique e constatou que antes mesmo da chegada de 70 mil pessoas à cidade, desde o dia 31 de agosto, o sistema de asilo já estava completamente saturado. Uma das funcionárias do maior centro de acolhimento de migrantes na cidade fez um alerta à reportagem francesa: se não houver mais rapidez e menos burocracia na análise dos pedidos, o sistema vai entrar em colapso.
Muitos candidatos a asilo, principalmente de países do leste da Europa, estão na fila de espera há vários anos. Com a proposta de passar os pedidos dos sírios na frente, o processo vai ficar muito mais difícil, segundo a fonte ouvida pelo jornal.
A Alemanha precisa da mão-de-obra dos estrangeiros para dar mais dinamismo à economia e compensar o envelhecimento da população, mas essa disposição pode enfrentar resistência diante dos problemas do sistema atual, escreve Libération.
Alemanha saturada
A imprensa francesa também repercutiu a decisão da Alemanha de fechar suas fronteiras com a Áustria, rompendo temporariamente com o acordo Schengen, que permite a livre circulação de pessoas em vários países da Europa.
Segundo Libération, a decisão surpreendente de Angela Merkel é uma maneira clara de fazer pressão e forçar países como a Hungria a aceitar o sistema de quotas de distribuição de refugiados nos países da União Europeia.
Já Le Figaro critica violentamente a ação de Merkel. "Ela abriu as portas da Alemanha, promovendo uma onda de solidariedade elogiada por todos, mas a decisão agora se voltou contra ela mesma", avalia o editorial do jornal. Seus aliados já haviam alertado que o país estava perdendo o controle da situação.
O fechamento da fronteira com a Áustria é visto pelo Le Figaro como um símbolo da grande confusão que reina atualmente entre os europeus. Vários países já reergueram suas fronteiras e revelaram a intenção de decretar estado de emergência. Conclusão do jornal: "os migrantes fizeram o espaço Schengen voar pelos ares".
Riscos de mudança em relação aos refugiados
Les Echos diz que o governo da Alemanha, depois de ter aberto as portas para os migrantes, voltou atrás e restabeleceu as fronteiras. Para o jornal, mesmo com certo atraso, as autoridades reagiram aos alertas emitidos por quem está trabalhando diretamente com a chegada maciça de migrantes. Voluntários temem que a solidariedade demonstrada nos últimos dias possa se transformar em rejeição.
Angela Merkel, que na sexta-feira celebra dez anos à frente do governo alemão, está sob muita pressão depois que reconheceu que o acolhimento dos refugiados "não será tarefa fácil".
Le Echos informa que os europeus não chegaram a um acordo na reunião de segunda-feira, em Bruxelas, que deveria definir a distribuição de quotas dos refugiados entre os países do bloco. O único consenso, aponta o jornal, é com relação a medidas para enviar de volta a seus países de origem os migrantes que tiverem seus pedidos de asilo rejeitados.
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