Entre decepção e esperança, brasileiros na França votam no domingo
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Este domingo, 5 de outubro, é dia de ir às urnas, inclusive aqui na França. A única diferença é que enquanto no Brasil os eleitores votam para deputado, senador, presidente e governador, os brasileiros que transferiram o título para o exterior só podem dar sua opinião sobre o próximo presidente da República.
Taíse Parente, em colaboração para a RFI
Está enganado quem pensa que distância é sinônimo de desinteresse. Para o professor de literatura Saulo Neiva,
o voto é um direito importante e simbólico para os brasileiros que moram no exterior. Não só eles podem contribuir concretamente para a construção de uma sociedade, mas também se sentem parte do país, mesmo sem estarem envolvidos no dia a dia brasileiro.
Política tem poder de mudança
Há 23 anos na França, Saulo acredita que hoje em dia há muitas razões para se interessar pelas eleições. O professor decidiu transferir o título de Recife para a França no ano passado, em parte por acreditar que a política tem o poder de modificar a sociedade.
"Hoje em dia a gente vê que há muitas discussões, que a sociedade civil se organiza melhor e que pode, inclusive, fazer manifestações nas ruas como em 2013. A sociedade tem mudado muito. Eu percebo muita inclusão social, há um apoio do governo federal para desenvolvimento do ensino universitário, e claro, apesar de tudo, ainda há muita desigualdade social. É engraçado, talvez a distância dê um outro olhar sobre a coisa, mas eu acho que o fato dos grandes líderes do partido da presidente estarem na prisão depois dos escândalos de corrupção do Mensalão é um sinal negativo, claro, mas é também algo positivo, um sinal de amadurecimento do país. Então é nesse sentido que o processo político é importante e que dá vontade mesmo de votar".
Mais engajada
A doutoranda Nataly Jollant, que transferiu o título de Manaus este ano, também afirma que o voto é parte do seu direito e dever de cidadã brasileira.
A estudante de 30 anos, que já se interessava por política antes de vir para a França, diz que debate muito o assunto com seus amigos da faculdade.
Há nove anos longe de casa, Nataly afirma que, na verdade, a convivência com os franceses, cultura em que a população é muito engajada, fez seu gosto por política crescer.
Decepção com a política
Já no caso de Adail Viveiros, cenógrafo de 50 anos, o interesse corre no sangue.
Seu pai foi engajado nos movimentos anti-ditadura e perseguido pelos militares. Em Paris há 17 anos, Adail continua antenado no noticiário político brasileiro, apenas com menos frequência. Neste domingo, ele vai às urnas mais uma vez e diz que continuaria votando, ainda que não fosse obrigatório e mesmo estando um pouco decepcionado com os políticos.
"É importante votar, mas o que seria mais importante seria desenvolver ao longo do tempo um mecanismo que permitisse ao eleitor controlar o eleito. Eu tenho andado muito desconfiado da vontade dos políticos de desenvolver um projeto de sociedade. Por exemplo, aqui na França a gente tem um governo que foi eleito sob a bandeira socialista, se revelou em seguida social-liberal e que hoje em dia podemos descrever como sendo um governo de direita". Então, nesse âmbito, Adail acha que todo o processo democrático no ocidente está muito descreditado e que temos que escolher o político "menos pior".
Confiar em quem?
Já Angelina Jacob, de 53 anos, também está desconfiada da política. A manicure, que vive em Paris há nove anos, diz que, para ela, o voto não passa de uma obrigação.
"Eu não me interesso por política. As reclamações sempre são as mesmas e para mim não muda nada. Já basta o último presidente que a gente confiou, o Collor, ter acabado com todo mundo. De lá pra cá, confiamos no Lula e o povo diz que ele roubou e rouba junto com a Dilma. Então vamos confiar em quem? Eu vou votar porque tenho que votar e pronto, mas acredito que se não fosse obrigatório ninguém ia".
Felizes ou não com os votos ou os candidatos, as urnas esperam todos os brasileiros, no Brasil e no exterior, no próximo domingo.
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