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O Mundo Agora

Gás e petróleo estão por trás dos conflitos na Ucrânia e Iraque

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Não tem jeito: vira e mexe, e os conflitos mais importantes no mundo têm um cheiro inconfundível de gás e de petróleo. A questão do acesso a reservas e do fornecimento de hidrocarbonetos paira em torno das crises na Ucrânia ou no Iraque. Claro, não é a única razão. Na Ucrânia, Putin quer deixar claro que a Rússia está voltando a ser uma grande potência e que ela tem todo o direito de definir o futuro dos Estados vizinhos. Enquanto que no Iraque a briga é entre o Irã e a Arábia Saudita. Cada um tentando controlar o governo de Bagdá nessa guerra secular entre xiitas e sunitas. E em cada um desses teatros estratégicos, o objetivo é tentar acabar com a influência dos Estados Unidos. Tirar os americanos da jogada para poder se digladiar em paz com as potências vizinhas.  

Operário fecha válvula de gás em Striy, no Oeste da Ucrânia. Maio 2014
Operário fecha válvula de gás em Striy, no Oeste da Ucrânia. Maio 2014 REUTERS/Gleb Garanich/Files
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Cortar o gás da Ucrânia é uma ameaça aos consumidores europeus

Mas apesar destes vários motivos geopolíticos clássicos, gás e petróleo continuam fundamentais. Dois fatos novos estão transformando a equação energética do planeta. O primeiro é o estouro da produção de gás e petróleo de xisto nos Estados Unidos. Os americanos, em pouquíssimo tempo, estão se tornando os maiores produtores do mundo e vão até começar a exportar. O segundo foi a anexação da Crimeia pela Rússia e agora a chantagem de Moscou que decidiu cortar o fornecimento de gás para a Ucrânia que recusa ter que pagar para a Gazprom uma quantia absolutamente absurda que quebraria a economia ucraniana e colocaria o país nas mãos do Kremlin. Essas manobras russas ascenderam uma luz vermelha na Europa que importa da Rússia mais de 30% do seu consumo de gás. Cortar o fornecimento que passa pelo gasoduto que atravessa a Ucrânia, como a Rússia já o fez em 2006 e 2009, é uma ameaça direta para os consumidores europeus. Pela primeira vez os dirigentes europeus estão pensando seriamente na maneira de diminuir drasticamente a dependência com relação ao gás russo. Daí a idéia de que o gás de xisto americano, bem mais barato, poderia um dia substituir parte das importações que vem da Rússia. E daí também, a corrida de Putin para assinar um acordo de exportação com a China para mostrar aos europeus que ele tem uma alternativa.

Queda do preço do petróleo seria uma catástrofe para Putin

Tudo isso são jogos geopolíticos clássicos. Mas na verdade, para a Rússia, são as exportações de petróleo que mantêm o orçamento do país. Mas para isso o barril não pode baixar além dos 100 dólares, senão as contas não fecham. Uma queda dos preços seria uma catástrofe para as ambições de Putin e é uma arma nas mãos de Washington. A produção crescente de hidrocarbonetos nos Estados Unidos e em toda a área atlântica em geral – no Brasil, na Argentina, nas costas africanas e no México – além dos renováveis cada vez mais baratos e no pulo que vêm dando as tecnologias para economizar energia, vai começar a pressionar para baixo os preços mundiais. O mercado está se dividindo em dois sistemas. Os fornecedores atlânticos abastecendo as duas maiores economias do mundo (Europa e Estados Unidos) e os produtores do Oriente Médio vendendo para o Japão, a China e a Ásia emergente. A Rússia, no meio, pode perder muito com isso.

A chave dos preços da energia continua sendo o Oriente Médio com as suas reservas fabulosas. E aí entra a crise iraquiana. A Arábia Saudita também não tem interesse numa queda dos preços. Enquanto houver caos no Iraque, o imenso potencial de produção iraquiano não virá inundar o mercado. E também complica uma solução rápida da questão nuclear iraniana, o que traria de volta ao mercado as grandes reservas iranianas. Não é por nada que fundações sauditas dão dinheiro para grupos islamistas radicais sunitas e que Riad quer ver um governo de união nacional em Bagdá para contrabalançar a influência xiita do Irã. A Rússia também está colocando lenha na fogueira, jogando uns contra outros com armas e apoios políticos. Enquanto os americanos pensam em cooperar com o Irã para salvar a integridade do Iraque e uma farta produção de petróleo. Essa explosão geral na região e a guerra interna na Ucrânia vão determinar a nova geografia mundial do petróleo.

Clique no ícone acima para ouvir a crônica de política internacional de Alfredo Valladão, do Instituto de Estudos Políticos de Paris;

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