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Linha Direta

Brasil envia missão à Argentina para destravar negociação no setor automotivo

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Os setores automotivos de Brasil e Argentina, integrados e dependentes um da economia do outro, podem passar da atual fase de suspensões temporárias de trabalhadores a demissões. Para evitar esse impacto em pleno ano eleitoral, a presidente Dilma Rousseff tem urgência num entendimento com o governo argentino. Por isso, envia hoje a Buenos Aires uma delegação liderada pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Mauro Borges. Mas, conseguir destravar o comércio de veículos, não parece ser uma missão fácil para o Brasil no contexto de dificuldades econômicas da Argentina.

Montadora de carros em São Bernardo do Campo, São Paulo
Montadora de carros em São Bernardo do Campo, São Paulo Reuters/Nacho Doce
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O setor automotivo é o que mais emprega mão-de-obra no Mercosul. A produção de veículos do Brasil caiu 8,4% no primeiro trimestre e a da Argentina, o dobro, 16%.  Para o Brasil recuperar essa produção, precisa convencer os argentinos de eliminarem as restrições que afetam o comércio de veículos entre os países. As exportações brasileiras de veículos caíram 32% no primeiro trimestre do ano. E 80% das exportações brasileiras vão para Argentina.

Se o fluxo de exportações brasileiras à Argentina não for normalizado, o setor automotivo brasileiro pode começar a demitir. Várias montadoras já estudam programas de demissão voluntária e menor carga semanal de trabalho. Por isso, esta missão do ministro do Desenvolvimento, Mauro Borges, é considerada "urgente".

Lado argentino

O panorama na Argentina é ainda pior do que no Brasil. São três os aspectos que afetam o setor automotivo argentino. Em primeiro lugar, o menor crescimento econômico brasileiro tem afetado as exportações argentinas de veículos. O Brasil também é o principal destino dos automóveis argentinos. Compra 60% do que a Argentina exporta.

Em segundo lugar, a Argentina tem um forte problema de falta de dólares e tem feito piruetas para evitar que as reservas do Banco Central diminuam. Uma dessas medidas afeta o Brasil diretamente: a restrição aos veículos importados em torno de 20%.

Por último, a Argentina passou a aplicar um imposto interno de 30 a 50% para automóveis acima do equivalente hoje a 21 mil dólares ou 47 mil reais. Com isso, os preços dispararam. Somado a esse imposto, os automóveis aumentaram em média outros 30%, devido à desvalorização da moeda em janeiro. O resultado é que os automóveis estão entre 50 e 100% mais caros desde janeiro. E, ao mesmo tempo, a Argentina ruma para a recessão econômica.

Em março, as vendas caíram em média 35%. A queda nos automóveis mais caros foi de até 90%. No segmento médio, a queda foi de até 50%. A Volkswagen, por exemplo, ameaça suspender ou demitir 700 funcionários, cerca de 10% de todo o pessoal da companhia na Argentina.

Propostas brasileiras

No último dia 28 de março, Brasil e Argentina assinaram um memorando de entendimento sobre uma linha de crédito que o Brasil pode oferecer para facilitar o comércio bilateral. A Argentina tem pouca margem de manobra para liberar dólares aos importadores. O Brasil tem interesse em resolver essa dificuldade da Argentina para poder vender.

A linha de crédito poderia ser em torno de 2 bilhões de dólares. Haveria uma proteção cambial por 90 dias, no mínimo, para atenuar a incerteza quanto à variação do câmbio numa Argentina onde pode haver uma nova desvalorização da moeda.

Ouça a análise compelta do correspondente da RFI em Buenos Aires, Marcio Resende.

 

 

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