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Para Leonardo Boff, papa não se interessa pelos dogmas da igreja

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O Vaticano anunciou há um ano o novo papa. O argentino Jorge Bergoglio, que se referiu a si mesmo como o papa que veio do fim do mundo, assumiu o comando da Igreja católica com o nome de Francisco e com a missão de reformar uma igreja manchada pela corrupção, por escândalos de pedofilia e pela perda de fiéis. Para o teólogo Leonardo Boff e para a escritora e jornalista Isabelle de Gaulmy, a prioridade do papa nesse primeiro ano de pontificado foi se aproximar do povo em detrimento da imposição de dogmas.

Capa do primeiro número da revista dedicada ao Papa Francisco: "Il mio Papa".
Capa do primeiro número da revista dedicada ao Papa Francisco: "Il mio Papa". reprodução
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Nesse primeiro ano à frente dos católicos, de fato, o papa adotou um tom mais conciliador. Apelou para a compreensão para as relações de homossexuais e de divorciados e disse desejar maior participação de leigos e das mulheres na igreja. Mas os dogmas profundos do catolicismo não devem ser mudados, como avalia Isabelle de Gaulmyn, autora do livro "Un pape pour tous" (um papa para todos, em português) e editora-chefe da versão eletrônica do jornal católico La Croix.

"Ele não vai reinventar o dogma que conhecemos. Mas ele tem um jeito de ser papa e, sobretudo, de dizer como se deve ser cristão que acho muito interessante. Ele age como um padre que podemos encontrar nas igrejas todos os dias", avaliou. Ainda segundo a especialista no Vaticano, "tradicionalmente, o papa é alguém que fala dos grandes princípios e da verdade, mas o papa Francisco diz que, antes de ensinar dogmas e verdades, é preciso acolher as pessoas e falar de misericórdia", ponderou.

O teólogo brasileiro Leonardo Boff, um dos expoentes da teologia da libertação, também argumenta que o papa Francisco deu um novo rosto para a igreja. Prova disso é sua maneira desmitificar o papel de sumo pontífice. "A grande reforma do papa foi a do papado. Ele não começou fazendo a reforma da Cúria. Ele despaganizou e desmitologizou a figura do papa. Ele nem se apresenta como papa. Ele se apresenta como o Bispo de Roma que quer dirigir a igreja na caridade (...) e se sente irmão dos demais bispos", avaliou. Ainda segundo o Boff, o papa não se interessa pelas doutrinas. "Esse papa não está interessado em doutrinas e dogmas. Ele está interessado nos valores".

Ainda conforme o teólogo, Francisco, que é o primeiro papa não europeu em mais de 13 séculos de história da Igreja Católica, também traz para dentro da instituição um olhar diferente forjado numa região que costumava ser periférica mas, que hoje, é uma das únicas fontes de renovação do catolicismo. “As igrejas da América Latina não são mais igrejas- espelho. Elas são igrejas-fonte com sua própria tradição, sua própria teologia. (...) Esse papa vem desse caldo cultural e eclesial. Esse é um cristianismo mais popular e mais aberto ao diálogo”, afirmou.

Papalatria
Mesmo sem tocar nos pilares da Igreja, o que para muitos críticos é motivo de decepção, Isabelle de Gaulmyn argumenta que Francisco consegue interessar para além do mundo dos fiéis católicos. Porém essa idolatria do papa ou "papalatria", como ela define, vai, justamente, de encontro ao que prega o próprio papa. "Esse é um papa que disse, imediatamente, que a Igreja tem que confiar mais nos episcopados locais. Ele não quer que tudo seja centralizado na figura do papa, em Roma. Pelo contrário. Por isso essa espécie de 'papalatria' é contrário de tudo o que ele quer”.

Além do assédio midiático, Francisco também terá que enfrentar o núcleo conservador do Vaticano para fazer as reformas que deseja, explica Leonardo Boff. Mas ele diz acreditar que o papa argentino terá fôlego para continuar as suas reformas. “Ele vai contaminar os bispos, os padres e vai produzir uma certa crise do cristianismo conservador”, argumentou.

Fiel ao seu estilo, o papa Francisco passará a data que marca o primeiro ano do seu pontificado de forma discreta. Ele fica até esta sexta-feira (14) em um retiro espiritual fora do Vaticano.
 

 

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