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Linha Direta

Maduro aproveita presidência do Mercosul para reforçar legitimidade

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A Venezuela assume hoje a presidência temporária do Mercosul, o bloco comum de países sul-americanos. No entanto, as atenções estão voltadas para o impasse surgido após a divulgação de que países da região foram espionados pelos Estados Unidos e a decisão do Paraguai de ficar fora do bloco, em oposição à presidência rotativa da Venezuela.

O chanceler da Venezuela, Elias Jaua (à esq.), olha o telefone celular durante reunião de cúpula do Mercosul, nesta quinta-feira 11 de julho, em Montevidéu.
O chanceler da Venezuela, Elias Jaua (à esq.), olha o telefone celular durante reunião de cúpula do Mercosul, nesta quinta-feira 11 de julho, em Montevidéu. REUTERS/Andres Stapff
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O governo venezuelano pretende aproveitar seu mandato rotativo para amenizar os efeitos da crise econômica interna. Um dos grandes produtores mundiais de petróleo, a Venezuela sofre com a industrialização deficiente e a necessidade de adquirir produtos importados. Porém, de acordo com especialistas, o benefício será mais político que comercial.

Milos Alcalay, que foi embaixador da Venezuela no Brasil entre 1996 e 2001, lembra que a Venezuela não tem condições de promover grandes exportações, exceto de produtos derivados do petróleo, e isto coloca o país numa posição de desvantagem frente a países que são fortes exportadores de commodities e manufaturados, caso do Brasil e da Argentina, por exemplo. Assim, dirigir o Mercosul vai representar mais um ganho político, sobretudo para o presidente Nicolás Maduro, acusado internamente de ilegitimidade.

Esta semana a Venezuela lançou a Missão Mercosul, um programa social para que os empresários locais possam se beneficiar com negócios feitos no bloco. Porém, o ex-embaixador Alcalay e o economista Angel García Banchs acreditam que este programa vai privilegiar empresários ligados ao governo, os "boliburgueses" − como são chamados os venezuelanos que enriqueceram com as políticas do regime bolivariano. O dispositivo deve excluir empresários que não apoiaram as políticas implementadas ao longo da era Chávez e que continuam em vigor com Maduro. Segundo esses especialistas, a Venezuela vai continuar a exportar energia em troca de alimentos e outros produtos básicos.

Por muito tempo, durante a chamada "era das expropriações", o governo atacou a iniciativa privada. Com Maduro, a tensão com o setor privado diminuiu um pouco, mas não chega a haver uma política de incentivo, algo que promova, que devolva este setor e a confiança no governo, principalmente com garantias para a propriedade privada. O sistema cambial não facilita em nada o fluxo financeiro deste empresariado, que tem que trabalhar com dois tipos de câmbio: o oficial, cujo dólar está cotado a 6,30 bolívares fortes, e o parelelo, cotado a mais de 30 bolívares fortes, o que implica uma verdadeira ginástica financeira. Há também que levar em conta a dependência de matéria prima oriunda do exterior, ou seja, o empresariado não tem autonomia.

Asilo a Snowden

A possibilidade de a Venezuela conceder asilo a Edward Snowden é vista como uma cortina de fumaça pela população, uma manobra orquestrada pelo governo para encobrir a crise de abastecimento e a crise política interna que se arrastam desde as eleições de abril deste ano, com a negativa da oposição em aceitar o resultado das urnas. Outro ponto é a dialética da confrontação com o "imperialismo" americano, embora Venezuela e Estados Unidos tenham ensaiado há poucas semanas uma aproximação. A Venezuela, chamando a atenção com o apoio a Snowden, ganha destaque mundial, fomentando a chamada "diplomacia do espetáculo". Está previsto que durante a cúpula do Mercosul os sócios façam um ato de repúdio aos casos de espionagem divulgados por Snowden. 

Novo embaixador no Brasil

O novo embaixador venezuelano em Brasília é o militar e ex-ministro da Defesa Diego Molero Bellavia. Molero se define como "socialista, anti-imperialista e sobretudo chavista", tendo ratificado por diversas vezes seu compromisso com a Revolução Bolivariana.

O ex-embaixador Alcalay vê nesta nomeação uma militarização da diplomacia venezuelana e uma desconsideração com a presidente Dilma Rousseff, que lutou contra a ditadura militar. Sem contar com o atual momento do Brasil, onde seria adequado ter alguém com um perfil diplomático e não militar em um cargo tão representativo para ambos os países.

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