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O Mundo Agora

Chipre não foi tratado como outros países do sul da Europa

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Depois de torcer o braço do presidente cipriota até quebrar os ossos, as autoridades da zona euro congratulam-se por ter salvo Chipre da falência. Mas não é bem assim que os cipriotas estão vendo as coisas. As condições impostas à ilha de Afrodite têm tudo para afundar a sua economia numa recessão sem fim. A pequena ilha mediterrânea vive só de turismo e de um setor financeiro que representa quase oito vezes o PIB do país – o dobro da percentagem habitual nos outros países europeus. O acordo acatado pelos ministros de Finanças europeus vai simplesmente liquidar o setor financeiro cipriota. O segundo banco da ilha vai ser desmantelado enquanto o primeiro, que vai herdar os depósitos inferiores a 100.000 euros que sobrarem, vai ter que meter a mão em quase 40% dos depósitos superiores a esta quantia. O “corralito” pedido pelos responsáveis da zona euro – e sobretudo pela Alemanha de Ângela Merkel – é confiscação da braba, mesmo se os depositantes, acionistas e detentores de dívidas vão receber ações bancárias em contrapartida.O resultado imediato é acabar com a única verdadeira fonte de crescimento econômico do país. E ninguém sabe ainda o que vai acontecer quando os bancos, fechados há mais de dez dias vão abrir as portas de novo. Pode até ser que não haja um pânico generalizado com todo mundo correndo para sacar suas poupanças. Mas é claro que nenhum investidor estrangeiro ou nacional vai colocar dinheiro novo no circuito. Não vai ser fácil arrumar crédito em Chipre e a consequência direta será uma recessão profunda, uma explosão do desemprego e uma queda brutal nos salários. Os ministros das Finanças europeus felicitam-se de terem vencido a guerra contra uma “economia de cassino” baseada na dinheirama depositada em Chipre pelos oligarcas e mafiosos russos, na lavagem de dinheiro e nos impostos minúsculos cobrados das empresas que investiam no país. Tudo bem. A moralidade venceu e os amigos de Vladimir Putin vão ter que cuspir o tutu. Só que com a economia de cassino também foi-se a economia real. Chipre, uma ilha pobre, dividida pela ocupação turca no norte, não tem outro modelo econômico. Inventar um outro caminho vai levar anos senão décadas. O país, de fato, foi condenado a uma falência progressiva e sem fim se quiser permanecer no euro.A verdade é que Chipre, por ser pequena e malandra, não foi tratada com a mesma consideração que outras economias da Europa do Sul que receberam ajuda europeia. As quantias necessárias para tirar a ilha do buraco são ridículas comparadas com o que se gastou para ajudar a Grécia, a Itália, Portugal, Espana ou Irlanda. E quanto às acusações de “paraíso fiscal” e de economia dependente demais do setor financeiro, ninguém caiu seriamente em cima do Luxemburgo, de Malta ou até da Holanda. Bater em Chipre era só mais fácil, sobretudo para os políticos alemães em campanha eleitoral que querem se mostrar como ardentes defensores dos interesses dos contribuintes nacionais.Clique acima para ouvir na íntegra a crônica de política internacional de Alfredo Valladão.

Bancos do Chipre permanecem fechados para se adpatarem às novas exigências dos credores do país.
Bancos do Chipre permanecem fechados para se adpatarem às novas exigências dos credores do país. AFP PHOTO / LOUISA GOULIAMAKI
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