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O Mundo Agora

Pacote de resgate do Chipre lembra o “corralito” argentino

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Os ministros de Finanças europeus acabam de dar um tiro de canhão nos próprios pés. O pacote para resgatar a economia cipriota, ameaçada de falência iminente, está criando ainda mais pânico e instabilidade. Não só em Chipre, mas na Europa inteira. As condições impostas ao governo de Nicósia para desbloquear o resgate de 10 bilhões de euros destrói, do dia para a noite, os dois principais pilares da estabilidade financeira dos bancos europeus. O primeiro é a garantia legal de que os depósitos bancários até 100.000 euros devem ser protegidos em caso de crise. O segundo é que as grandes instituições financeiras que compram títulos de bancos também têm que aceitar perdas em caso de resgate. Ora, o pacote cipriota tem tudo a ver com os famosos “corralitos” argentinos que metem a mão no dinheiro dos depositantes de maneira indiscriminada: quem tiver até 100.000 euros, até as contas correntes minúsculas, deverá ser expropriado de quase 7% do depósito. Para os que têm mais do que isso, o “corte de cabelo” vai custar quase 10%. Pior ainda: para não serem acusadas de sentar em cima da garantia jurídica que protege os pequenos depositantes, as autoridades financeiras européias chamam “imposto” essa verdadeira confiscação de patrimônio. A hipocrisia corre solta. Quanto aos detentores de títulos bancários cipriotas ou de contas depositadas em filiais no exterior dos bancos da ilha, esses vão escapar ilesos.Como no caso dos “corralitos”, a reação dos mercados e dos depositantes foi de falta de confiança geral. Os cipriotas correram para os caixas eletrônicos para sacar o máximo de dinheiro possível, o euro caiu no mercado de câmbio e as bolsas do mundo inteiro passaram no vermelho com medo de que essa desastrada decisão já tivesse fragilizado todo o sistema bancário europeu. E não é por menos. Meter a mão na poupança dos cidadãos comuns era um tabu absoluto. Quebrar esse tabu é quebrar a confiança sem a qual não há banco que possa funcionar. Gregos, italianos, portugueses ou espanhóis, com economias no fio da navalha, começam a achar que podem virar também a bola da vez. Sobretudo quando um funcionário da Comissão Européia sai dizendo que esse tipo de “imposto” poderia ser aplicado em outros países. O perigo agora é que qualquer alerta financeiro na Europa pode provocar uma corrida para sacar a poupança dos bancos. E a história já demonstrou sobejamente que esse tipo de comportamento é sempre o prelúdio de uma crise generalizada.Mesmo sem chegar a estas situações extremas, o problema hoje é que essa crise de confiança não toca só os pequenos depositantes. Os grandes atores financeiros globais vão certamente tentar cobrir os riscos, colocando parte de seus fundos em mercados fora da zona euro. Londres, Zurique, Wall Street ou Singapura vão ganhar dinheiro. Clique acima para ouvir na íntegra a crônica de política internacional de Alfredo Valladão.

Protestos em frente ao parlamento de Nicosia, capital de Chipre, provocados pela decisão do Eurogrupo de taxar os depósitos bancários, 18/03/2013
Protestos em frente ao parlamento de Nicosia, capital de Chipre, provocados pela decisão do Eurogrupo de taxar os depósitos bancários, 18/03/2013 REUTERS
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