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França/processo

Começa processo de ex-dirigentes da France Télécom, acusados de levar empregados ao suicídio

Centenas de pessoas compareceram nesta segunda-feira (6) diante do tribunal correcional de Paris, onde começou julgamento dos ex-dirigentes da empresa acusados de assédio moral. O chamado “management do terror” teria levado ao suicídio de vários empregados da France Télécom

Didier Lombard, ex-CEO da France Telecom, chega para assistir ao julgamento do grupo francês France Telecom, que se tornou Orange em 2013, e seus ex-chefes por "assédio moral" na corte criminal de Paris, França, 6 de maio de 2019.
Didier Lombard, ex-CEO da France Telecom, chega para assistir ao julgamento do grupo francês France Telecom, que se tornou Orange em 2013, e seus ex-chefes por "assédio moral" na corte criminal de Paris, França, 6 de maio de 2019. REUTERS/Charles Platiau
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Esta é a primeira vez que uma empresa do CAC 40, o índice da Bolsa de Paris, vai a julgamento por assédio moral. As audiências acontecem até o dia 12 de julho. A primeira delas, nesta segunda-feira, contou com a presença de diversas testemunhas que participam do processo, entre elas parentes dos funcionários que se suicidaram.

Três dirigentes da France Télécom comparecem ao tribunal: o ex CEO, Didier Lombard, o número 2 da empresa, Louis Pierre Wenes, e o ex-diretor de recursos humanos, Olivier Barberot. Eles serão julgados por assédio moral, definido no código penal francês como “ações repetidas que têm como objeto ou efeito uma degradação das condições de trabalho.”

Quatro outros responsáveis, julgados por cumplicidade, podem pegar um ano de prisão e pagar uma multa de até € 15 mil. A diferença em termos judiciários é que o processo será por assédio institucional, não somente entre uma vítima e uma pessoa acusada dos abusos.

Plano de demissão

Na época, com a chegada da Internet móvel, uma crise econômica atingiu o mercado das telecomunicações mundial. A França não escapou à tendência. Em 2006, os dirigentes implantaram um plano de demissões que previa o corte de 22 mil pessoas em um total de 120 mil assalariados.

Em um discurso diante de um grupo de executivos, pouco depois do anúncio do corte, Didier Lombard declarou que colocaria as demissões em prática de qualquer maneira, “pela porta ou pela janela”. Barberot batizou o programa de “crash program”. As declarações foram usadas no processo e na época chocaram a opinião pública, como lembra o jornal Le Monde.

Entre 2008 e 2009, 35 assalariados da France Télécom se mataram, alguns deles no local de trabalho. Os juízes se debruçaram sobre um inquérito que analisou o funcionamento da empresa entre 2007 e 2010. “Trata-se de um assédio moral feito em escala industrial, organizado pelos seus dirigentes”, resumem os juízes de instrução no documento enviado ao tribunal, que descartou a queixa inicial de homicídio involuntário.

Controle excessivo e marginalização

Os acusados não serão julgados pelas suas escolhas estratégicas, mas pelos seus métodos. Os juízes detalham no inquérito dispositivos para desestabilizar os funcionários, como controle excessivo, marginalização, e mudanças frequentes nas atribuições.

Trinta e nove assalariados são citados no processo: 19 deles se suicidaram, 12 fizeram uma tentativa de suicídio, e oito tiveram depressão grave ou precisaram parar de trabalhar. “O que esperamos, é que os ex-dirigentes da France Télécom sejam condenados”, declarou Patrick Ackermann, representante do sindicato SUD. “Espero que eles se digam arrependidos, e assumam que ultrapassaram os limites”, diz.

 

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