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França

Médicos ameaçam “greve de aborto” e enfurecem feministas francesas

Grupos de feministas francesas exigem sanções ao Sindicato dos Ginecologistas e Obstetras da França (Syngof), que em março ameaçou realizar uma greve de procedimentos de interrupção de gravidez. Os médicos queriam ser recebidos pelo Ministério da Saúde para debater um outro assunto, dissociado do aborto, e utilizaram o possível bloqueio dos procedimentos como forma de pressionar o governo.

Manifestantes fizeram protesto em frente ao Conselho Nacional da Ordem dos Médicos para exigir sanções ao sindicato de ginecologistas.
Manifestantes fizeram protesto em frente ao Conselho Nacional da Ordem dos Médicos para exigir sanções ao sindicato de ginecologistas. Anaïs Leleux/ Twitter
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A tática enfureceu representantes feministas, que alegam uma instrumentalização de um direito de toda a mulher francesa há quase 45 anos: o de interromper uma gravidez indesejada, até 12 semanas de gestação. Os ginecologistas queriam forçar o governo a negociar mudanças em um fundo de garantia da categoria, que eles gostariam que fosse ampliado para médicos condenados por erros médicos.

“Na nossa situação tão perigosa atual, nós devemos criar um escândalo e estarmos prontos a parar a prática de IVG (interrupção voluntaria de gestação) para sermos ouvidos”, dizia uma mensagem enviada pelo Syngof aos seus 1,6 mil associados, em 12 de março. A entidade alegou que o aborto “cria polêmicas” e por isso foi escolhido para a ameaça de greve.

Comparação a homicídio

Para as mulheres, a estratégia é uma afronta. “A escolha foi ideológica: eles poderiam ter ameaçado uma greve de exames de colo de útero, por exemplo”, disse à RFI Anaïs Leloux, militante da associação Groupe F. “Não chegamos a ficar surpresas, porque esse sindicato já emitiu diversas opiniões perturbadoras sobre o direito ao aborto. O presidente já comparou a prática a um homicídio, o que é inadmissível.”

Leloux é a autora de uma queixa registrada na Procuradoria de Paris contra o sindicato, que ela acusa de “incitação a entraves ao IVG” e “atentado ao direito dos pacientes de escolher livremente o seu médico”. “Desta vez, não vamos deixar barato e exigimos sanções. Eles retiraram a ameaça, mas isso não é suficiente porque não é possível que em pleno 2019, médicos se organizem para paralisar as práticas de interrupção da gravidez.”

Leloux divulgou um modelo de email de protesto para ser enviado por mulheres de todo o país ao Conselho Nacional da Ordem dos Médicos, para que tomasse providências contra o sindicato de ginecologistas. Em poucos dias, mais de 13,3 mil mensagens foram enviadas. A entidade convocou os três ginecologistas autores do texto, mas, por enquanto, não acionou a câmara disciplinar que poderia avaliar a possibilidade de punições à principal entidade representativa da categoria.

Empecilhos ao aborto

“É triste porque se tornou uma luta de mulheres contra homens, que se sentem no direito de sentar em cima do direito das mulheres. As três pessoas que dirigem o sindicato são religiosa ou politicamente contrárias ao aborto.”

No ano passado, a cláusula de consciência dos médicos sobre o aborto já havia provocado polêmica – em muitas localidades isoladas, organizações feministas denunciaram que as mulheres não conseguiam realizar o procedimento porque os poucos médicos evocavam esse recurso.

Além disso, a cláusula pode acabar atrasando ou até impedindo o procedimento. Consultado, o médico pode pedir um período de reflexão, durante o qual o prazo legal para a interrupção da gravidez pode estourar.

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