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Em época de Natal, associações feministas francesas protestam contra brinquedos estereotipados

Enquanto muita gente ainda faz as compras de Natal, associações feministas da França, como Osez ("Ousemos", em português) e Les Chiennes de Garde ("Cadelas de guarda") se debruçam sobre os estereótipos sexistas no universo dos brinquedos. Os grupos militantes defenderam em 2018 a campanha nacional  “Marre du rose” (Cansados do rosa), mas muitos especialistas dizem que as crianças devem "ter o direito de escolher", para o seu próprio equilíbrio.

Associações feministas da França questionam os estereótipos sexistas no universo dos brinquedos.
Associações feministas da França questionam os estereótipos sexistas no universo dos brinquedos. AFP/Leon Neal
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Com informações de Corinne Binesti

"Na minha casa eu tenho cerca de trinta bonecas e bonecos", diz Baptiste, de 7 anos. "Eu os adoro porque eles são articulados. É legal, podemos mexer a cabeça e tudo mais. Há bonecas que eu chamei de Homem-Aranha e um boneco que chamei de Rose."

A entrevista acima demostra que, naturalmente para uma criança, os brinquedos não pertencem necessariamente a um gênero específico, mas a indústria continua a segmentar o mercado seguindo esta lógica. Além disso, nas prateleiras de algumas grandes marcas, a cor rosa continua a ser atribuída às meninas e o azul aos meninos.

Joan é responsável por uma loja de brinquedos bastante frequentada. Ele diz que hoje, apesar dos esforços dos fabricantes, esses códigos de cores ainda são relevantes e o mundo das meninas e dos meninos sempre são separados. "Está claro que os temas são distintos", diz ele. “As cozinhas de brinquedo são atribuídas às meninas, enquanto os jogos de super-heróis para meninos”, completa

Lola, estudante de 22 anos e vendedora de uma grande loja durante a época de Natal, destaca a questão das fantasias. "A menina se veste mais frequentemente de enfermeira e o menino de cavaleiro armado."

O unissex virou passado

Na década de 1970, o famoso jogo dinamarquês Lego fez sucesso ao se promover como unissex: não usava nenhum código de cor. Meninas e meninos podiam brincar, imaginando construírem castelos e outras formas com os pequenos tijolos.

Trinta anos depois, a Lego lançou, em 2012, a gama de produtos para garotas "LEGO friends": um universo onde a cor rosa reinava e as meninas eram submetidas a um bairro de "madames", onde as únicas atividades possíveis eram fazer compras e assar biscoitos. Por outro lado, a seção destinada aos meninos continha várias profissões, da área da tecnologia à construção. A marca concorrente, Playmobil, seguiu os mesmos passos.

Céline Piques, da associação feminista Ousemos, explica que "quase não há mais brinquedos unissex. As opções para elas sugerem o confinamento em casa e, para eles, fazem apologia às armas e à violência."

Quando questionada sobre sua responsabilidade quanto ao assunto, a indústria de brinquedos argumenta que atende à demanda dos pais. Céline Piques contrapõe essa ideia. "A segregação é uma estratégia deliberada de marketing dos fabricantes. E infelizmente, quando segmentamos o mercado entre meninas e meninos, os brinquedos não podem ser compartilhados nem mesmo entre irmãos. E é isso que faz a fortuna dessas empresas."

A liberdade de escolha é o melhor para as crianças

A psicóloga Anne Olivier trabalha em uma creche em Bonneuil-sur-Marne, perto de Paris. Segundo ela, "o que conta para o equilíbrio de uma criança é poder escolher os presentes. “Devemos oferecer um campo de descobertas o mais amplo possível. A criança é um pequeno engenheiro, que experimenta com coisas diferentes através dos brinquedos e isso é importante para a sua formação," completa.

No momento em que as mulheres gradualmente conquistam espaço em todas as áreas da vida econômica e se emancipam, a regressão no mundo dos brinquedos é significativa: "Pessoalmente, não vejo atributos físicos que determinem naturalmente os brinquedos aos quais uma criança poderia brincar", protesta Lola.

Neurobióloga e diretora do Centro de Pesquisa do Instituto Pasteur, Catherine Vidale concorda. "É a educação e não a biologia que explica as diferenças. A estrutura e o funcionamento do cérebro mudam de acordo com a história vivida por cada um. Hoje compreendemos melhor porque todos nós temos cérebros diferentes, independentemente do sexo", explicou, em uma conferência chamada "O cérebro tem sexo?".

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