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Medicina

França: Jérôme Hamon, o homem de três caras, fala após um novo transplante

Em sua vida, Jérôme Hamon, 43, já teve três faces: primeiro homem do mundo a ter sofrido dois enxertos de rosto, ele aceitou imediatamente sua nova aparência, sua nova "identidade". O francês tem neurofibromatose tipo 1 (doença de von Recklinghausen), uma deficiência genética que deformou o seu rosto.  

O professor Laurent Lantieri posa ao lado de tela que mostra as três estapas de enxertos de seu paciente
O professor Laurent Lantieri posa ao lado de tela que mostra as três estapas de enxertos de seu paciente Philippe LOPEZ / AFP
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Ainda hospitalizado, três meses depois de sua operação em Paris, ele apareceu com uma face lisa e imóvel, que não combina com as características de seu crânio. Isto deve ocorrer gradualmente, desde que o tratamento imunossupressor seja seguido, prevenindo novas rejeições.    

"Sinto-me muito bem", disse o paciente de transplante de 43 anos, durante um encontro com a imprensa na semana passada.    

"Eu não posso esperar para me livrar de tudo isso", acrescenta, cansado do tratamento pesado que ele tem que sofrer, e falando com dificuldade.    

Este feito sem precedentes é creditado à equipe do Prof. Laurent Lantieri, cirurgião plástico especialista em enxerto do Hospital Europeu Georges-Pompidou, da rede pública de Paris. Lantieri já havia feito, no mesmo paciente, um primeiro transplante facial total, em 2010, no Hospital Henri-Mondor, em Créteil, próximo a Paris.    

Verme marinho       

O primeiro transplante foi um sucesso, como ele disse em um livro publicado em abril de 2015: "Você viu o senhor?". Infelizmente, no mesmo ano, por ocasião de um resfriado comum, ele foi tratado com um antibiótico incompatível com seu tratamento imunossupressor.

Em 2016, ele começou a mostrar sinais de rejeição crônica, e o rosto foi novamente se deteriorando.    

No verão de 2017, ele foi hospitalizado e, em novembro, sua face enxertada, que possuía áreas de necrose, precisou ser removida. Ele permaneceu, então, dois meses "sem rosto" em terapia intensiva no Georges-Pompidou, o tempo que a Agência da biomedicina procurava um doador compatível. Momentos difíceis de viver, com uma face que se autodestruía.    

Mas em casos excepcionais, paciente excepcional. "Toda a equipe da terapia intensiva ficou impressionada pela coragem de Jérôme, sua vontade, sua força de caráter em uma situação trágica, porque mesmo quando ele está esperando, ele nunca se queixa. Estava quase sempre de bom humor ", disse o anestesista Bernard Cholley.    

O doador de rosto foi um jovem de 22 anos, que morreu a centenas de quilômetros de Paris. O professor Lantieri ficou sabendo em uma noite de domingo, 14 de janeiro, o que desencadeou uma grande logística.    

“Nós precisávamos primeiro retirar essa cara na segunda-feira durante o dia.  À noite, ela deveria ser transportada o mais rápido possível, pela estrada, para o Georges-Pompidou”, arquitetou o cirurgião.

Com o aval da Agência Nacional de Segurança de Medicamentos (ANSM), uma técnica revolucionária foi utilizada para a preservação do enxerto: além de permanecer imerso em uma solução clássica, este beneficiou-se das propriedades da hemoglobina de verme marinho para reter oxigênio.   

 "Está tudo bem, sou eu"

Jérôme Hamon entrou na sala de cirurgia na segunda-feira, 15 de janeiro. "Por volta do meio-dia, a equipe realizou a preparação do receptor: preparou os vasos e os nervos para que pudéssemos fazer esse transplante", diz o professor Lantieri.

Em seguida, foi como colocar delicadamente uma máscara, conectando-a com a complexa anatomia da cabeça. Logo, a equipe observou que o enxerto mostrava sinais encorajadores de vida por ficar manchado. 

O paciente saiu do bloco na terça-feira, no final da manhã, após uma operação excepcional. A informação só vazou para a imprensa alguns dias depois.

Sefundo o cirurgião, a operação respondeu a uma pergunta dos pesquisadores na área: “Podemos refazer um transplante facial? Sim, podemos retransplantar, e é isso que conseguimos", explicou o professor Lantieri. 

Para evitar uma rejeição, a operação exigia "limpar o sangue dos anticorpos", por uma plasmaferese e "bloquear a produção desses anticorpos" por tratamento com drogas durante "os três meses anteriores ao transplante", detalhou Eric Thervet, nefrologista.

"No primeiro transplante, eu aceitei o enxerto imediatamente, considerei que era meu novo rosto e agora é a mesma coisa", diz Jérôme Hamon hoje. "Se eu não tivesse aceitado esse novo rosto, teria sido uma tragédia de fato, é uma questão de identidade. Mas está tudo bem, sou eu." 

Já houve 40 enxertos faciais no mundo desde o primeiro, o da francesa Isabelle Dinoire em 2005.

(Com informações da AFP)

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