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França

Autora de queixa de estupro contra ministro de Macron é neta de Mitterrand

Uma reportagem da revista semanal Ebdo, que chegou às bancas nesta sexta-feira (9), aponta o envolvimento do ministro francês da Transição Ecológica, Nicolas Hulot, em um suposto assédio sexual, além de relatar uma queixa de estupro contra ele, arquivada pela Justiça em 2008. A autora da denúncia de estupro, que falou à reportagem sob anonimato, acabou tendo sua identidade revelada. Trata-se de Pascale Mitterand, neta do ex-presidente socialista François Mitterrand (1981-1995).

O ministro da Transição Ecológica, Nicolas Hulot, foi acusado de estupro e assédio sexual.
O ministro da Transição Ecológica, Nicolas Hulot, foi acusado de estupro e assédio sexual. REUTERS/Charles Platiau
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Lançada há apenas um mês, a Ebdo já está envolvida em um escândalo que pode afetar sua reputação no mercado, sem que se saiba se para o bem ou para o mal.

A revista afirma que uma mulher de 31 anos, ex-funcionária da Fundação Hulot [Ong criada pelo ministro], hoje assessora na Assembleia Nacional, teria sido "possivelmente vítima de assédio sexual" da parte de Hulot, caso concluído por uma "transação posterior". Apesar de citada no texto, ela desmentiu posteriormente qualquer ligação com Hulot. O ministro denunciou, por sua vez, "uma mentira", acrescentando "nunca ter havido assédio sexual nem "transação posterior" entre os dois.  

Já Pascale Mitterrand, 40 anos, publicou hoje um comunicado por meio de seu advogado confirmando ser a autora da denúncia de estupro. Ela contou sua história à revista Ebdo sob o pseudônimo de Maria*, nascida em "uma grande família francesa". Ela pediu anonimato, assim como seu pai, também ouvido pela publicação. Porém, o nome dos Mitterrand logo veio à tona.

Queixa após prescrição do crime

Maria* relata ter sido abusada sexualmente na casa de Hulot, na ilha da Córsega, em junho de 1997, quando tinha 20 anos. Ele já era o conhecido apresentador do programa de TV Ushuaia, enquanto ela iniciava sua vida profissional. Gilbert Mitterand, filho do meio do ex-presidente e pai de Pascale, declarou à reportagem que a filha nunca utilizou o termo "estupro", dizendo na época que havia tido uma relação sexual "contra sua vontade".

À revista, ela explica que decidiu dar queixa à polícia onze anos depois dos fatos, em 2008, porque naquele momento, com o crime prescrito, o caso não teria repercussão para a família. Questionada sobre qual era, então, seu objetivo com o boletim de ocorrência – registrado em uma delegacia do balneário de Saint-Malo (noroeste) –, a mulher afirma que não queria levar Hulot a julgamento, apenas "colocá-lo diante de sua consciência".

A acusação causou surpresa na França, pois o ecologista é uma das personalidades mais populares do país. Pilar do governo de Emmanuel Macron, ele chegou a ser cotado como candidato às eleições presidenciais de 2017.

Hulot se defende na TV

Consciente de que a reportagem seria publicada hoje, Hulot antecipou sua defesa. Em uma entrevista concedida ontem ao canal BFMTV, o ministro disse que a acusação de estupro era "ignominiosa". O ecologista de 62 anos negou ser autor de qualquer agressão sexual e descartou a possibilidade de renunciar. "A Justiça fez uma investigação e decidiu arquivar o caso", argumentou, "o que também deve ser levado em conta." Ele acrescentou que a relação sexual foi consentida e que a mulher era maior de idade na época. "Evidentemente, não há nada que me faça me sentir culpado", alegou.

À reportagem da Ebdo, Hulot afirmou que pediu para prestar depoimento quando soube da ocorrência, em 2008. Segundo o ministro, "ficou clara a ausência de qualquer ato repreensível". No processo arquivado pela Procuradoria de Saint-Malo, consta que os dois protagonistas apresentaram em seus depoimentos "uma versão contraditória sobre o consentimento à relação sexual precipitada" e que a denúncia foi arquivada por "prescrição de prazo".

Pascale Mitterand condena vendaval midiático

Diante das proporções que o escândalo tomou, Pascale Mitterand diz em seu comunicado que seu nome está sendo associado "a um vendaval midiático visando Nicolas Hulot contra seu consentimento". "Ela e sua família não endossam a publicidade dada ao caso", menciona o texto assinado por seu advogado. O comunicado destaca que "depois da queixa feita em 2008, ela nunca reativou o caso sob a forma judicial ou ao lado do protagonista".

Mas há dois dias, o "affaire" Hulot (caso, em português) provoca desconforto ao governo e deixa a mídia francesa em polvorosa. As denúncias de assédio sexual se multiplicaram na França com a criação do movimento #BalanceTonPorc (Entregue Seu Porco), na sequência da onda de acusações contra o produtor americano Harvey Weinstein. Diversas personalidades de todos os setores vêm sendo visadas, mas ninguém imaginaria que o "bom-moço" do governo Macron, célebre ex-apresentador do canal Ushuaia, também fosse acusado.

Presidente e premiê franceses defendem ministro

Hulot recebeu apoio do primeiro-ministro francês, Edouard Philippe, e do presidente Emmanuel Macron. Em comunicado assinado pelo chefe de Estado, o Palácio do Eliseu descarta qualquer possibilidade de demitir o ecologista sem um indiciamento judicial. Já o premiê francês declarou que não "há motivos para duvidar da palavra" de Hulot.

O ecologista garante que não renunciará, a não ser que o caso prejudique sua família. "São eles que vão guiar minha decisão", afirmou, em entrevista à BFM TV.

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