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França

Neve gera caos na França: de quem é a culpa?

O norte da França e especialmente a região parisiense viveram um verdadeiro caos na última quarta-feira (7), quando entre 12 e 20 centímetros de neve foram registrados. Engarrafamentos quilométricos, transporte público perturbado, trens de grandes linhas bloqueados, creches e escolas fechadas... No dia seguinte ao incidente, a população se pergunta: por que o país é tão despreparado para enfrentar o inverno?

Várias pessoas tiveram que abandonar seus automóveis na estrada N118, periferia de Paris, por causa das dificeis condições de circulação.
Várias pessoas tiveram que abandonar seus automóveis na estrada N118, periferia de Paris, por causa das dificeis condições de circulação. Reprodução France 3
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Quase todos os anos, a situação se repete: a neve cai e a França para. Paris era cenário de um drama digno de um filme de catástrofe desde a noite de terça-feira (6). Inéditos 730 quilômetros de engarrafamento foram registrados nos arredores da capital francesa. Muitos motoristas não conseguiram voltar para suas casas após o trabalho. Vários resolveram deixar seu veículo pelo caminho. Cerca de duas mil pessoas tiveram de ser levadas a abrigos improvisados.

Nas estações, com metade dos trens bloqueados, a companhia férrea nacional mandou o recado: adiem suas viagens. Resultado: centenas de passageiros dormiram nas próprias estações. Já a rede pública de transporte não pensou duas vezes e cancelou a circulação de ônibus.

Mas o verdadeiro caos estava para chegar. No dia seguinte à primeira neve, Paris amanheceu sob uma espessa camada branca, inclusive estradas e rodovias. Milhares de parisienses não conseguiram ir ao trabalho. Outros não puderam deixar seus filhos nas creches, fechadas. No norte da França, os transportes escolares foram interrompidos. Nas primeiras horas da manhã, a ministra do Transporte aconselhava na rádio France Info: "Deixem seus carros nas garagens. A recomendação é evitar as estradas".

De quem é a culpa?

Seria cômico se não fosse trágico. E se a situação não se repetisse quase todos os anos. E se a Météo France, o serviço nacional de meteorologia, não estivesse anunciando a chegada da neve há pelo menos uma semana. Nesta quinta-feira (8), enquanto o gelo derrete e mais neve está prevista para sexta-feira (9), autoridades trocam farpas sobre a responsabilidade do caos.

Para o ex-premiê francês Manuel Valls, há um grave problema de organização e falta de antecipação. "Apontei a falta de reatividade, de maneira geral, que constatamos frequentemente, inclusive quando eu fui ministro do Interior e primeiro-ministro", avaliou.

A deputada governista Amélie de Montchalin reconheceu o erro, mas salientou que ele não é apenas culpa da administração nacional: é "coletivo". "A Météo France lançou o alerta, mas é verdade que na França temos às vezes uma dificuldade coletiva de reagir a essas medidas", disse.

Questionada sobre uma solução para o problema, ela sugere que, no futuro, as pessoas possam negociar para permanecer em suas casas. "Nos Estados Unidos, quando há um 'blizzad day', a economia e os serviços públicos que não são vitais param, retira-se a neve dos lugares e, em seguida, tudo continua", exemplificou.

Paris é a única cidade incapaz de lutar contra o frio?

A rádio France Info enumera nesta quinta-feira vários países que, como a França, enfrentam episódios de neve, mas com destreza. "Será que é só Paris a única cidade incapaz de lutar contra o frio?", questiona uma matéria publicada em seu site.

De fato, alguns países como Canadá, Rússia e Suécia são mais habilidosos na preparação contra o inverno. Em Montreal, o chamado "orçamento neve" é de 171 milhões de dólares canadenses (equivalente a R$ 433 milhões), uma soma que permite a retirada constante da neve acumulada nas cidades e estradas.

Já em Moscou, em caso de forte queda de neve, como a que atingiu a capital russa no último fim de semana, os moscovitas se mobilizam. Cerca de 70 mil funcionários públicos foram convocados para limpar as estradas. Na segunda-feira (5), foi a vez de militares realizarem o trabalho.

Em Estocolomo, em caso de "vinterväglag", ou queda de neve, o foco são nos automobilistas. A polícia determina quando os pneus especiais devem ser utilizados e a medida é obrigatória.

Impossível evitar a neve de cair no inverno

"Poderíamos evitar isso?", é a manchete de capa do jornal Aujourd'hui en France desta quinta-feira, que estampa na capa, uma fila de automóveis cobertos de neve e abandonados na beira da N118, uma importante rodovia na região de Paris.

O diário aborda as principais dúvidas dos franceses, sobre o alerta do serviço de meteorologia, circulação de carros, qualidade das estradas, comunicação com a população... a lista é longa e as respostas nem sempre são satisfatórias. O metrô parisiense - que, diferentemente dos ônibus, bondes e trens interurbanos - funcionava normalmente ontem, apesar da superlotação - não pode, por exemplo, aumentar a frequência de circulação. Alguns passageiros tiveram que esperar até uma hora para conseguir entrar em um vagão na quinta-feira.

"Talvez o governo não possa fazer tudo", diz o diário em editorial. O jornal admite que há falhas, mas também pouco se valoriza o trabalho que é feito pelos bombeiros, policiais e voluntários. E conclui: "é preciso lembrar que no inverno faz frio e neva".

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