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Imprensa

Feministas comemoram perdão de Hollande à mulher que matou marido

Os principais jornais desta quarta-feira (29) tratam de uma notícia que comoveu os franceses neste fim de ano: a graça que o presidente francês, François Hollande, concedeu a Jacqueline Sauvage, que estava presa depois de ter sido condenada a dez anos de prisão pela morte do marido. A mulher, que sofreu quase 50 anos de violências físicas, psicológicas e sexuais, tornou-se símbolo da luta contra a violência contra a mulher na França. Feministas e defensores dos direitos humanos comemoraram a decisão, que desagradou a Justiça do país.

Capa do jornal Libération desta quinta-feira (29) mostra Jacqueline Sauvage (direita) agradecendo sua advogada.
Capa do jornal Libération desta quinta-feira (29) mostra Jacqueline Sauvage (direita) agradecendo sua advogada. Reprodução/Libération
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"Jacqueline Sauvage, enfim, livre" é a manchete do diário Libération. Jacqueline, de 69 anos, matou o marido em setembro de 2012 com três tiros nas costas, depois de ser violentada e abusada sexualmente ao longo dos 47 anos de casamento.

No tribunal, ela contou que, no dia do assassinato, cumpria uma licença médica por ter sofrido graves agressões físicas pelo marido dias antes. Não bastasse a violência contra a esposa, Norbert Marot, de 65 anos e alcoólatra, não poupou seus quatro filhos das mesmas violências durante toda a sua vida. Um dos filhos do casal, sofrendo de várias sequelas psicológicas que geraram as agressões, se suicidou em 2012, um dia antes da morte do pai.

A graça é uma espécie de perdão que é concedido desde a época da monarquia na França e que entrou oficialmente na Constituição francesa em 1958. Com a decisão de Hollande de conceder a graça à Jacqueline Sauvage, ela pôde sair da prisão.

Em janeiro deste ano, o presidente francês já havia concedido uma graça parcial à Sauvage, mas a própria Justiça francesa não permitiu que ela deixasse a prisão. "Às vésperas de seu aniversário de 69 anos, essa mulher condenada a dez anos de prisão pela morte do violento marido pôde se beneficiar de uma graça total", destaca o jornal Libération.

Decisão agrada direita e esquerda francesas

A imprensa também analisa a decisão do presidente francês, anunciada na véspera do aniversário de Jacqueline Sauvage, a poucos dias do Réveillon e a poucos meses do final do mandato de Hollande.

Em comunicado emitido na noite de quarta-feira (28), Hollande explica que concedeu a graça a Sauvage por considerar que “seu lugar não é mais na prisão, mas com a sua família”.

Libé ressalta que a decisão do presidente lhe rendeu elogios de toda a opinião pública francesa, ONGs feministas, por defensores dos direitos humanos e por toda a classe política francesa, tanto da direita, como da esquerda - uma situação inédita para o presidente, que bateu recordes de impopularidade.

O rosto de Jacqueline Sauvage também estampa a capa do jornal Aujourd'hui en France, sob a manchete: "Por que Hollande a concedeu a graça". Nas duas páginas seguintes, o diário relembra o duro trajeto sofrido pela mulher e também o efeito surpresa que o presidente francês causou ao decidir perdoar Jacqueline. Segundo Aujourd'hui en France, Hollande, que foi eleito com a etiqueta do "presidente normal", quer que os franceses se lembrem dele como "o presidente humano".

Já o conservador jornal Le Figaro destaca a opinião dos juízes sobre a decisão, um "gesto muito hipócrita", para a secretária geral da União Sindical dos Magistrados, Céline Parisot. Para ela, a graça concedida pelo presidente desrespeitou os juízes e os valores de independência da justiça do país, dando a impressão de que Hollande pode invalidar as decisões judiciais como bem entender.

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