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França: quem vai representar a direita na eleição presidencial de 2017?

No domingo (26), acontece o segundo turno das primárias da direita e do centro. Um último debate na TV na quinta-feira (24), foi a ocasião para os candidatos François Fillon e Alain Juppé, ambos do partido Os Republicanos, marcarem pontos juntos ao eleitorado.,O vencedor da votação entrará na corrida presidencial de maio de 2017. 

François Fillon (à esq.) e Alain Juppé durante o último debate das primárias da direita e do centro na França
François Fillon (à esq.) e Alain Juppé durante o último debate das primárias da direita e do centro na França REUTERS/Eric Feferberg/Pool
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Já favorito, François Fillon foi considerado o melhor por uma grande maioria de eleitores da direita e do centro, tendo sido mais convincente do que Alain Juppé no debate, que foi acompanhado por 8,5 milhões de espectadores.

Fillon venceu com folga o primeiro turno das primárias, com 44,1% de votos, equivalente a 1. 890 266 eleitores. O rival, Alain Juppé, ficou bem atrás, com 28,6% e 1.224 855 vozes. Foi justamente por causa dessa diferença, e da oportunidade de inverter a situação em um último debate, que se esperava de Juppé uma atuação mais brilhante e incisiva, o que não aconteceu. Tenso, ele não conseguiu "virar a mesa" a seu favor nas quase duas horas de discussão, como demonstram as pesquisas divulgadas pelo canal France 2, que transmitiu o programa, logo após o encerramento: 57% dos espectadores consideraram melhor a atuação de François Fillon, contra 39% para Alain Juppé.

Lembrando que foi um debate de cavalheiros, sem trocas virulentas ou agressivas, o confronto cordial foi uma oportunidade para os eleitores captarem diferenças fundamentais entre os candidatos sobre temas essenciais.

Pontos fortes do debate entre Fillon e Juppé

Trabalho

O tempo de trabalho dos funcionários públicos é um dos principais pontos de discórdia dos candidatos. Juppé argumenta que não se pode pedir a funcionários para trabalharem mais, ganhando menos, mas defende um aumento progressivo das 35 horas atuais para 39 horas, "porém, não de modo brutal, não repentinamente".

Indagando se Fillon, se eleito, pretende passar a 39 horas desde 2017, com um salário correspondente a 35 horas, Fillon respondeu que Juppé está mostrando que não pretende mudar as coisas: "Acho que os funcionários, que têm estabilidade de emprego devem fazer um esforço suplementar para o país se recuperar".

Quanto à redução dos cargos públicos, Fillon defendeu sua proposta de suprimir 500 mil empregos, aumentando o tempo de trabalho. Juppé propõe suprimir a metade.

Modelo social

François Fillon atacou um modelo social francês "que não existe mais, com 6 milhões de desempregados, milhões de jovens que não estão na escola nem em formação profissional, mas na rua". Já para Alain Juppé, a melhor forma de consolidar o sistema de aposentadoria é subir progressivamente a idade legal para 65 anos.

Segurança

Alain Juppé estima que é preciso rearmar o Estado e lamentou que foram extintos 250 mil postos policiais durante o quinquenato de Nicolas Sarkozy (2007-2012), quando Fillon foi primeiro-ministro.

A resposta do rival foi enfática, "não lamento a supressão de cargos na polícia. Por que santificar os policiais e não os professores, enfermeiras etc? Vinte mil policiais nunca estão em ação, podemos digitalizar e simplificar os processos", respondeu.

Aborto

O tema deu muito o que falar antes do debate, pois durante entrevistas, François Fillon admitiu que é contra o aborto, do ponto de vista pessoal.

Considerando o aborto um direito fundamental, Juppé não perdeu a oportunidade de revidar que "há alguns dias um conservador da Idade Média virou contra o aborto". Pressionado para esclarecer sua posição, Fillon respondeu que não vai tocar na lei que autoriza o aborto, que nunca o fez quando era primeiro-ministro e não o fará se for presidente. E lembrou: "Em meu livro também digo que não vou modificar a lei. Minha consciência é problema meu", respondeu.

A França é multicultural?

Este foi um dos pontos mais relevantes do debate. Se para Alain Juppé, a identidade da França é, em primeiro lugar, a diversidade, para Fillon, a base identitária do país é sua história, sua cultura e sua língua, enriquecidas pelas contribuições da população estrangeira.

Juppé apontou a divergência entre os dois sobre o assunto, lembrando que as pessoas não são todas iguais: "Temos origens diferentes, religiões diferentes, e também ideias políticas diferentes", declarou.

Relações com a Rússia

As relações entre França e Rússia estão estremecidas pela reprovação francesa aos ataques aéreos russos na Síria, em apoio às forças do presidente Bachar al-Assad.Elas também estiveram na ordem dia, principalmente porque François Fillon vem sendo criticado por sua proximidade com o país. Foi elogiado pelo presidente Vladimir Putin como "um grande profissional que se distingue dos outros homens políticos do planeta", o que provocou comentários irônicos como "é a primeira vez que um presidente russo escolhe um candidato francês à presidência".

Fillon se defende, afirmando que "o interesse da França não é mudar de aliança e se voltar para a Rússia ao invés dos Estados Unidos, mas existe a vontade de retrabalhar um laço com Moscou", admite, criticando fortemente a política atual do presidente François Hollande em relação à Rússia. "Isto leva o país a se endurecer, a se isolar e a acionar os reflexos nacionalistas".

Como os jornais franceses analisaram o debate?

Todos os jornais estimam que o debate entre Fillon e Juppé foi cordial, depois de uma semana recheada de polêmicas sobre temas quentes da campanha como o aborto, a adoção por casais homossexuais, o eleitorado ultracatólico que votou em Fillon e a proximidade do pré-candidato com o presidente russo, Vladimir Putin. Com 65% de intenções de voto no segundo turno, Fillon é considerado o grande favorito.
 

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