A revista L’Obs desta semana lembra o ataque terrorista ao Bataclan através do prisma de jovens casais diretamente afetados pela tragédia. A seguir, um resumo de seus testemunhos.
Nawal e Jérémy
Eles já eram um casal no dia 13 de novembro de 2015. Ele estava no show do grupo americano Eagles of Death Metal. Ela o avisou por torpedo: “está tendo um tiroteio em République, espero que você esteja longe”. Ao escutar estampidos, ele se escondeu atrás de um amplificador, junto com o baixista do grupo. Para nunca mais esquecer, Jérémy tatuou no antebraço a imagem de uma jovem sendo abraçada por um esqueleto. “A mulher é Nawal e eu sou o que volta do inferno”, diz o sobrevivente.
Adrien e Valentina
Eles se conheciam há apenas seis meses. De repente, estavam na fossa macabra da sala de espetáculos, onde dezenas de pessoas foram assassinadas a esmo. Ele a protegia com o próprio corpo, enquanto sussurrava palavras doces no ouvido da namorada. Conseguiram aproveitar um momento em que o terrorista recarregava a arma e fugiram. O trauma, ao invés de implodir o casal, expôs todos os medos e hesitações, cimentando a relação.
Benjamin e Julie
Eles são exemplares típicos da chamada geração “Y”, como diz a reportagem, com o “celular grampeado na mão”. O cupido foi um aplicativo. Depois de duas semanas trocando mensagens, o primeiro encontro é marcado no Bataclan, na noite fatídica. Eles estão no mezanino e quando os tiros começam, conseguem se refugiar no banheiro, de onde são resgatados pelas forças especiais. A experiência os transforma em casal imediatamente, inseparáveis, durante meses. Mas Benjamin sente a necessidade de se afastar de tudo ligado ao Bataclan, incluindo Julie. “Ela me lembrava demais daquilo tudo”, diz. E o casal se desfez em fevereiro.
Sophie e C.
Foi numa cama de hospital que ela se declarou ao amigo, quando ele foi visitá-la. “Quando se vê a morte de perto, nenhuma declaração é impossível”, diz Sophie. Ele é comprometido, mas desfaz o relacionamento por ela. Ferida na perna, a recuperação de Sophie – física e psicológica – é longa e dolorosa, mas ele continuou a seu lado. “O amor me salvou”, diz ela.
Benoît e Claire
Benoît ficou duas horas na fossa do Bataclan, de olhos fechados, imóvel. Tinha a certeza que ia morrer. O telefone vibrava no seu bolso, mas ele não ousava atender, com medo dos atiradores. Era Claire, em casa, preocupada. Dois meses depois, resolveram fazer algo muito diferente, para fugir dos fantasmas do Bataclan. Foram para Las Vegas e se casaram. A cerimônia foi oficiada por um sósia de Elvis Presley. Hoje, eles quase nunca saem. Ela foi ao cinema uma vez em um ano. Ele não se arrisca a tomar uma cerveja em um terraço e também nunca mais foi a um concerto.
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