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Imprensa

Com greves, atentados e violência nas ruas, França tem primavera conturbada

"Em que mundo estamos vivendo?". A pergunta é a manchete pouco convencional do jornal Aujourd'hui en France desta quinta-feira (16) e que traduz bastante o sentimento dos franceses nesta primavera de muitos problemas. O jornal lista eles logo na capa: "policiais assassinados por terroristas, atentado em Orlando, hordas de black blocs quebrando as ruas de Paris e hooligans assustando a Eurocopa".

A capa do "Aujourd'hui en France" de hoje destaca o difícil momento por que passa a França.
A capa do "Aujourd'hui en France" de hoje destaca o difícil momento por que passa a França. RFI
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Tudo isso junto transformou o cotidiano dos franceses em uma realidade não muito otimista. A única coisa que parece dar certo para a França no momento é a sua seleção de futebol, que na véspera se tornou a primeira classificada para as oitavas de final da Eurocopa, depois de uma segunda vitória, desta vez dois a zero contra a Albânia.

Nas arquibancadas do Estádio Vélodrome, em Marselha, o presidente François Hollande aproveitou um dos raros momentos do seu dia a dia em que pôde comemorar alguma coisa. De volta ao gabinete, ele terá de tomar uma decisão difícil nos próximos dias: proibir ou não as manifestações contra a reforma trabalhista, que há quatro meses paralisam o país e que transformaram as ruas de Paris novamente em um campo de guerra na última terça-feira (13).

Dois dos principais jornais franceses desta manhã dedicam suas edições justamente a esta decisão que deverá ser tomada pelo governo. E os dois, em campos opostos. O jornal de esquerda Libération traz em sua manchete "A Batalha da Opinião" e diz que o governo Hollande está "dramatizando" a violência ocorrida na terça-feira, quando até mesmo um hospital infantil de Paris foi atacado por black blocs - que são chamados de casseurs - infiltrados no protesto, o que indignou a opinião pública.

Falta de autoridade

O primeiro-ministro, Manuel Valls, acusou a principal central sindical organizadora das manifestações, a CGT, de não estar trabalhando para conter estes atos violentos. O Libération diz que a acusação tem por objetivo jogar a população contra a CGT e a sua causa, que é barrar a reforma que flexibiliza o mercado de trabalho francês. O jornal ressalta que, até o início da violência, a opinião pública era amplamente favorável aos protestos, com 65% que os consideravam "justificados".

Já o jornal conservador Le Figaro também bate no governo, mas por uma razão totalmente oposta: ele considera que Hollande e seu primeiro-ministro estão sendo permissivos demais com os movimentos violentos e exige que o governo reestabeleça a ordem. A manchete do Figaro é "Autoridade do Estado: Hollande sob pressão".

Em um duro editorial, o diário cita Maquiavel ao dizer que o presidente deixa o destino do país ser governado “por Deus e pela fortuna”. Também diz que a ameaça de Hollande de proibir as manifestações chega tarde demais e que, desde 2012, quando assumiu o governo, sua falta de ousadia conduziu a França ao que chama de "estado de esgotamento moral propício a todo tipo de tumulto".

O Figaro diz que falta autoridade a Hollande e Valls e pede ainda que os líderes da central sindical CGT sejam responsabilizados financeiramente pela destruição causada na terça-feira. O tom duro dos jornais de hoje mostra que os nervos estão à flor da pele não apenas nas ruas, mas também nas redações francesas.

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