Venda de submarinos à Austrália é "contrato do século", dizem jornais
O principal assunto dos jornais franceses desta quarta-feira (27) é a venda de 12 submarinos para a Marinha da Austrália, anunciada na véspera. A negociação, chamada pela imprensa de "contrato do século", é considerada histórica, não só pelo valor - € 34 bilhões -, mas também pela quantidade de empregos que deve gerar em uma França em busca de trabalho.
Publicado em:
A estimativa feita pelo próprio presidente da DCNS, a empresa que vai fabricar os submarinos, é de que a empreitada deve gerar cerca de 4 mil empregos, a maioria na cidade de Cherburgo, na Normandia, onde eles deverão ser produzidos. O jornal Aujourd'hui en France foi até a cidade e retratou a euforia da população com essa possibilidade de um investimento inédito. Os famosos estaleiros de Cherburgo fabricaram 107 submarinos nos últimos 100 anos.
Mas o próprio Aujourd'hui en France alerta que não é possível estourar a champanhe antes da hora, ou pelo menos enquanto o contrato não estiver assinado. Até agora, tudo o que se tem é uma declaração do primeiro-ministro australiano dizendo que, na concorrência aberta pelo país, a proposta francesa foi melhor que as da Alemanha e Japão.
O jornal recorda a anunciada venda dos caças Rafale para a Índia, que foi celebrada, mas jamais concretizada. Podemos recordar também a intenção do Brasil em comprar os mesmos caças Rafale, o que também nunca acabou acontecendo. Outro “senão” apontado pelo Aujourd'hui en France: todo o sistema de combate dos submarinos, que representa 30% do seu valor, não é francês, mas norte-americano.
DCNS, herdeira dos arsenais reais
Já o jornal Le Figaro, que faz oposição ao governo de François Hollande, hoje se rende ao trabalho de negociação do presidente para obter o contrato e ressalta que a intervenção do poder executivo junto ao governo australiano foi decisivo. A DCNS é uma empresa privada cujo principal acionista é o próprio governo francês.
O trabalho em conjunto das autoridades, destaca o Figaro, permitiu aos franceses baterem dois concorrentes de peso na licitação: a alemã Thyssen-Krupp Marine Systems (TKMS) e o consórcio japonês Mistubishi Havey Industries, que também tinha apoio de Tóquio. Já o jornal econômico Les Echos aproveita a ocasião para relembrar a história da DCNS, herdeira dos arsenais da monarquia francesa, criados pelo Cardeal Richelieu, em 1631.
Críticas do Libération
O diário de esquerda Libération é o único mais crítico em relação à venda dos submarinos. Em uma capa irônica, onde se vê François Hollande cercado de seus ministros durante o anúncio do negócio, a manchete diz "Os garotos da Marinha".
No subtítulo, o Libération afirma: "a venda de 12 submarinos alegrou o poder executivo", e também questiona: "seria um paradoxo para um governo de esquerda?". De fato, parece que o governo socialista francês jamais será tão de esquerda quanto querem seus apoiadores.
NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.
Me registro