Migrantes que tentam atravessar o Eurotúnel mudam rotina da cidade de Calais

Cada vez mais migrantes vindos do Oriente Médio e da África tentam fazer a travessia do túnel sob o Canal da Mancha para tentar chegar ao Reino Unido. A maioria deles vive em um local isolado batizado de “jungle”, que fica a 8 quilômetros do Eurotúnel. Alguns se deslocam a pé, outros de ônibus, e o trajeto é um dos raros momentos em que eles encontram os moradores da cidade de Calais.

Em Calais, os migrantes não são sempre bem recebidos pela população. REUTERS/Pascal Rossignol

Alice Pozycki, enviada especial da RFI a Calais.

A convivência entre migrantes e locais nem sempre é fácil. O bilhete de ônibus custa € 1 e, desde a semana passada, o motorista está mais atento para evitar viajantes que tentam não pagar. A bordo, uma dezena de pessoas da Eritreia encasacadas com roupas quentes e cachecóis se preparam para se aproximar das margens da entrada do túnel. O motorista, de 24 anos, não se incomoda: “Eles tem o direito de pegar o ônibus como qualquer pessoa”.

No centro da cidade, os migrantes precisam descer para pegar uma outra linha. Sentada em uma parada, uma mulher de cabelos curtos se diz contrariada. Ela afirma não suportar a presença dos migrantes e diz que costuma descer quando algum deles entra no coletivo. “Me incomoda porque eles não são respeitosos. Falam entre eles e não sabemos o que estão dizendo... E ainda por cima tem a insegurança”.

40 minutos de viagem

O comportamento da mulher intriga Mohamad Isaac, um sudanês que chegou a Calais há apenas uma semana. “Algumas pessoas têm medo da gente. Quando estamos caminhando em uma calçada, elas atravessam a rua. Não sei exatamete por que. Talvez por eu ser negro.”

Estima-se em 3 mil migrantes para uma população total da cidade de 75 mil. Apesar do receio de alguns moradores de Calais, são também entidades de voluntários da própria cidade que ajudam os recém-chegados, como mostrou esta reportagem da RFI no ano passado. 

Depois de 40 minutos de viagem, o grupo de migrantes da Eritreia chega ao terminal do túnel sob o Canal da Mancha. Na descida, migrantes e moradores de Calais não trocam olhares.