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França/Discriminação

Prefeito de extrema-direita faz lista de alunos muçulmanos e vai parar na delegacia na França

A França vive mais uma grande polêmica relacionada ao islamismo. O prefeito de Béziers (sul), Robert Ménard, realizou um levantamento ilegal do número de estudantes muçulmanos nas escolas públicas da cidade. O político, eleito com o apoio do partido de extrema-direita Frente Nacional, revelou segunda-feira (4) à noite em um programa de televisão que 64,6% dos alunos das escolas de Béziers são muçulmanos. Ao ser perguntado como conseguiu a cifra, ele respondeu que compilou as listas de presença das classes e que determinou a religião pelos sobrenomes dos alunos.

Robert Ménard foi eleito prefeito de Béziers em março de 2014 com o apoio do partido de extrema-direita Frente Nacional.
Robert Ménard foi eleito prefeito de Béziers em março de 2014 com o apoio do partido de extrema-direita Frente Nacional. AFP PHOTO / SYLVAIN THOMAS
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A ação do prefeito poderá lhe custar caro. Ele compareceu hoje à delegacia de polícia de Montpellier, depois de ser convocado para depor no inquérito aberto pelo procurador local. Uma lei francesa de 1978 proíbe coletar dados de caráter pessoal que mostrem as origens raciais ou étnicas, as opiniões políticas, filosóficas e religiosas. O desrespeito a essa lei pode ser punido, de acordo com o Código Penal, com uma pena de cinco anos de prisão e € 300 mil de multa, o equivalente a R$ 1,29 milhão.

Segundo advogados e juristas, Ménard também poderia ser processado por incitação à discriminação, já que ele usou os números para afirmar que existe uma quantidade, de acordo com ele, demasiadamente elevada de alunos muçulmanos na cidade.

A provocação do prefeito lhe rendeu críticas dos líderes franceses. O primeiro-ministro Manuel Valls disse que a República não faz nenhuma distinção entre suas crianças e que atos como esse não podem ficar sem consequências. Valls acrescentou que Ménard deverá responder por suas declarações na justiça. O presidente François Hollande afirmou que um levantamento da religião dos alunos é contrário a todos os valores franceses.

Prefeito evoca hipocrisia

Ontem, procurado por jornalistas para reagir às críticas, Ménard assumiu mais uma vez sua posição para, segundo ele, "acabar com a hipocrisia".

"Sim, na nossa cidade, desculpem-me de dizer, existe um número muito grande de imigrantes. Isso quer dizer que a integração é impossível. A assimilação, então, nem se fala. O que eu quero é que as crianças tenham as mesmas chances, não importa de onde elas venham. Mas com um sistema como esse, em que as pessoas negam, desdenham, tentam esconder a realidade, nunca encontraremos uma solução", afirmou o prefeito de Béziers.

Além da indignação, a ação de Ménard poderia lhe valer o cargo. A ex-ministra ecologista da Habitação Cécile Duflot pediu ao governo que suspenda Ménard. Segundo a lei, um prefeito pode ser suspenso pelo poder executivo do país.

Alguns especialistas defendem a revogação da legislação que proíbe o levantamento étnico, alegando que a prática é útil para estudos de sociologia e orientação de políticas públicas. Porém, as marcas do colaboracionismo francês na perseguição aos judeus durante a Segunda Guerra Mundial ainda estão presentes na memória coletiva e levam as autoridades a defender os ideais de igualdade e fraternidade do espírito republicano.

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Robert Ménard

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