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França/Política

Ex-ministro afastado por calote fiscal é pressionado para deixar Assembleia

Cresce no meio político francês a pressão para que o ex-ministro Thomas Thévenoud, obrigado a deixar o governo devido a um calote fiscal, renuncie ao seu mandato de deputado no parlamento francês. Nomeado para ocupar a Secretaria de Estado para o Comércio no novo governo do premiê Manuel Valls, Thévenoud ficou apenas nove dias no cargo e, na sequência, foi expulso do Partido Socialista (PS).

O ex-ministro Thomas Thévenoud ao chegar ao Palácio do Eliseu, em 27 de agosto.
O ex-ministro Thomas Thévenoud ao chegar ao Palácio do Eliseu, em 27 de agosto. © AFP/BERTRAND GUAY
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A ministra da Ecologia, Ségolène Royal, estimou nesta quarta-feira (10) que Thévénoud não "tem mais lugar na Assembleia Nacional", e sua decisão de se manter no cargo é "o contrário do exemplo a ser dado". De acordo com Ségolène, "os que fazem as leis devem aplicá-las a si mesmos".

Thomas Thévenoud foi excluído do governo francês logo após a descoberta de que ele não tinha declarado impostos durante vários anos. Segundo o jornal satírico Le Canard Enchaîné, ele também não pagou durante três anos o aluguel do apartamento onde morava, em Paris.

O escândalo, considerado outro duro golpe para o governo cada vez mais impopular do presidente François Hollande, não foi suficiente para fazer Thévenoud desistir de sua carreira política. Expulso do Partido Socialista, com o qual se elegeu deputado pela região de Saône-et-Loire, ele decidiu reassumir seu cargo na Assembleia. Thomas Thévenoud vai integrar uma bancada de parlamentares sem partido ou de formações independentes.

Políticos de direita e esquerda pregam sua demissão

A oposição explora politicamente o caso, denunciando o descuidado do presidente Hollande e do primeiro-ministro Manuel Valls com a nomeação de um político irresponsável para a equipe de governo.

A indignação com a decisão de Thévenoud de voltar à Assembleia é compartilhada por todos os membros do governo socialista. A ministra dos Assuntos Sociais, Marisol Touraine, considera "absolutamente lamentável", a recusa de Thénevoud em renunciar. Segundo ela, o caso "alimenta o sentimento de impunidade dos políticos" e "lança descrédito sobre todo mundo".

O fato de Thévenoud ter sido membro do PS é considerado uma "situação agravante" para a ministra da Energia, Ségolène Royal. "Nós deveríamos defender os mais desfavorecidos, lutar pela justiça social, pela justiça em geral, pelo exemplo público", disse. "Como podemos exigir dos cidadãos, que já enfrentam dificuldades, que paguem seus impostos sendo que os que têm mais recursos e condições, e que deveriam dar o exemplo, não o fazem?", indagou a ministra da Energia.

Para a líder da extrema-direta, Marine Le Pen, o deputado não renuncia porque teria feito um acordo com o governo para que os socialistas mantenham sua maioria na Assembleia. Depois da saída de Thévenoud, o PS conta com 289 deputados de um total de 577, ou seja, um número exato para a maioria absoluta.

Voto de confiança? 

No dia 16 de setembro, a Assembleia irá analisar o pedido de voto de confiança encaminhado pelo primeiro-ministro Manuel Valls, que pretende ter o apoio da cada para acelerar seu programa de reformas. O voto de Thévenoud pode ser importante ao governo. Isto porque um grupo estimado de 30 a 40 de deputados da ala mais à esquerda do PS, descontentes com a política econômica de Hollande, anunciou que vai se abster na votação.

Ao deixar o cargo de Secretário de Estado para o Comércio, Thévenoud disse ter sido um "contribuinte negligente"e não um "fraudador". Em entrevista ao jornal de Saône-et-Loire, no início do mês ele declarou: "Podem me acusar de negligência, mas não de desonestidade".

O deputado também respondeu às denúncias do jornal gratuito Metro News de que havia omitido uma declaração para a Alta Autoridade pela transparência e vida pública (HATVP, na sigla em francês) de suas atividades como empresário individual.

O político explicou que tinha aberto a empresa apenas para remunerar uma empregada doméstica e não "tinha ficado rico" com esse negócio particular. Depois de ter encontrado uma solução para o pagamento, Thévenoud disse ter fechado a empresa. Na mesma entrevista, ele desafiou os que exigem a renúncia de seu mandato como deputado e o acusam de enriquecimento ilícito de apresentarem suas declarações de patrimônio.

Imprensa aponta indignação dos franceses

O caso do deputado Thomas Thévenoud ganhou as manchetes de vários jornais da França nesta quarta-feira. A imprensa estampa a revolta dos franceses porque o presidente François Hollande aumentou signitivamente os impostos da classe média desde que chegou ao poder e ainda cometeu o erro de nomear um assessor que não paga o que deve ao Tesouro.

O jornal Aujourd'hui en France chegou às bancas com a manchete "O homem que escandaliza os franceses". O Libération se pergunta quantos casos como o do deputado existem no governo e no parlamento. No caso de Thévenoud, por enquanto, o que se descobriu foi um problema de omissão fiscal, já que ele pagou os impostos atrasados.

Mas é bom lembrar que Hollande teve um ministro afastado por fraude e evasão fiscal, o ex-ministro do Planejamento Jerôme Cahuzac, e outros dois ministros suspeitos de declarar patrimônio subestimado, para pagar menos impostos. Com tanta cara de pau, os eleitores franceses também perderam a confiança em seus políticos, afirmam os jornais.

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