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França inicia debate nacional sobre qualidade da informação na era da IA

A França inicia nesta terça-feira (3) um debate nacional consagrado ao direito à informação de qualidade na imprensa, ante o atual contexto de proliferação de fake news, o uso distorcido de recursos de deep web e os progressos da inteligência artificial.

Anunciado em julho, durante a greve dos jornalistas do "JDD", o evento, que começa nesta terça-feira, visa "proteger a informação livre, em meio a uma crise sobre a liberdade de imprensa e a confidencialidade das fontes.
Anunciado em julho, durante a greve dos jornalistas do "JDD", o evento, que começa nesta terça-feira, visa "proteger a informação livre, em meio a uma crise sobre a liberdade de imprensa e a confidencialidade das fontes. AFP - BERTRAND GUAY
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Ao longo de quase um ano estão programados eventos em todo o território francês, abertos à participação dos cidadãos e comitês de trabalho, que deverão culminar com sugestões para assegurar a independência e a qualidade da informação produzida no país. 

Segundo o jornal Libération, que dedica a reportagem de capa ao tema, esse estilo de evento é "tipicamente francês". Quando Macron idealizou o projeto, considerado crucial para a vitalidade da democracia, o chefe de Estado só não imaginava que o debate ocorreria em um contexto delicado.

Nos últimos meses, uma das maiores fortunas da França, o industrial Vincent Bolloré, agregou aos seus investimentos em comunicação o semanário JDD (Journal du Dimanche) e nomeou para a direção de redação um jornalista e ativista de extrema direita, Geoffroy Lejeune. Indignados com essa nomeação, que compromete a independência de um veículo popular com 75 anos de existência, os jornalistas do JDD fizeram seis semanas de greve. Apesar da repercussão do movimento, o bilionário conservador não voltou atrás e o JDD se tornou uma voz da extrema direita na França, como já ficou comprovado com reportagens tendenciosas sobre migrantes e questões de segurança pública. Bolloré já havia comprado no passado dois canais de TV que perderam sua independência: Canal+ e CNews. 

Outro caso constrangedor sobre a liberdade de imprensa envolve o próprio governo. No final de setembro, uma conhecida jornalista de investigação, Ariane Lavrilleux, do site de notícias Disclose, foi detida para interrogatório durante 48 horas, depois de revelar que a França ofereceu informações de Inteligência ao Egito, que acabaram sendo "desviadas" pelo regime do presidente Abdel Fattah al-Sissi. Com os dados fornecidas pela Inteligência francesa, o Exército egípcio bombardeou "núcleos de oposição", causando inclusive a morte de civis. 

Após a publicação da reportagem, o apartamento da jornalista foi revirado de cabeça para baixo por agentes do serviço secreto francês, que levaram documentos na tentativa de descobrir quem foi a fonte da informação. Até o momento, um militar foi preso. O caso, considerado uma afronta à liberdade de imprensa e à proteção de fontes jornalísticas, garantidas pela lei, com certeza fará parte das discussões do debate nacional. 

Apesar das preocupações legítimas com a proliferação de fake news e as consequências do uso da inteligência artificial na profissão, o temor de jornalistas é que o debate promovido por Macron acabe sendo manipulado por grupos de interesse e resulte em ataques à liberdade de imprensa e à proteção de fontes.

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