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Manifestantes marcham em direção a Paris contra construção de reservatórios de água

Cinco meses após os violentos confrontos em Sainte-Soline, no centro-oeste da França, centenas de pessoas contrárias à construção de reservatórios de água se uniram nesta sexta-feira (18) na cidade vizinha de Lezay para partirem em uma “caravana” de bicicletas e tratores até a capital Paris.

Para protestar contra a construção de reservatórios de água, manifestantes vão pedalar do centro-oeste da França até Paris.
Para protestar contra a construção de reservatórios de água, manifestantes vão pedalar do centro-oeste da França até Paris. AFP - PASCAL LACHENAUD
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De acordo com a organização da marcha, cerca de 700 "companheiros ciclistas" e 20 tratores se reuniram, ao meio-dia, em Lezay, para iniciarem esta cruzada ecológica, chamada pelo movimento de "marcha da água".

“A ideia é fazer uma atividade positiva depois do que aconteceu em Sainte-Soline (...), dizer que ainda estamos aqui, que ainda somos contra esse projeto de megabacia [de água]”, declarou Annick Huet, responsável por oficinas de ecologia na cidade de Melle, na região de Deux-Sèvres, onde também ficam as cidades de Sainte-Soline e Lezay.

“É melhor que o Tour de France!”, afirma um dos participantes, antes de outro responder: “É o tour do futuro!”

A rota planejada pelos manifestantes atravessa cinco departamentos franceses (Deux-Sèvres, Vienne, Indre-e-Loire, Loir-e-Cher e Loiret) e tem como objetivo denunciar a "apropriação da água" e o financiamento público desses projetos, de acordo com os organizadores.

Na próxima sexta-feira (25), o grupo deve chegar à cidade de Orléans, sede da concessionária de água Loire Bretagne, que cofinancia o projeto destinado a armazenar até 6 milhões de m3 de água durante o inverno, em grandes bacias ao ar livre, para irrigar as culturas no verão, quando as chuvas são escassas.

Uma “marcha da água” alegre

Após os confrontos de grande repercussão entre manifestantes e policiais em março, que terminaram com dois ativistas em coma, as autoridades planejaram um importante plano de segurança. O movimento é sobrevoado por um helicóptero e um drone, as estradas do trajeto foram fechadas ao trânsito e diversos policiais irão acompanhar o comboio de motocicleta.

Ao todo, centenas de policiais foram mobilizados em Lezay para acompanhar a partida do grupo. De acordo com uma fonte, cerca de 3,2 mil agentes da força policial foram mobilizados durante os grandes tumultos que ocorreram em março.

Mas o que se pretende desta vez, com esta "marcha da água", é fazer uma caravana "alegre", com paradas previstas próximas a diversos projetos agrícolas contestados pelo grupo, promete o coletivo “Bassines, non merci” (Represas, não obrigado, em tradução livre) e o sindicato agrícola Confederação Camponesa, que coorganizam o movimento.

Integrantes do coletivo ecológico Levantes da Terra, que participou da organização das últimas manifestações em Sainte-Soline, estiveram presentes, após terem tido suas atividades suspensas, a pedido do Governo francês, uma decisão anulada pela Justiça em 11 agosto.

"É uma emoção especial estar aqui, e sem sermos ameaçados com a dissolução do nosso grupo", comemorou Benoît Feuillu, porta-voz do coletivo.

Os organizadores pretendem construir ali um monumento para marcar a memória do lugar, em "homenagem aos feridos de Sainte-Soline". A marcha prevê ainda uma mobilização "surpresa" no dia 26 de agosto, em Paris.

“Pedimos a suspensão em todos os projetos de reservatórios no território nacional, o que significa parar todos os canteiros de obras em andamento, em particular em Sainte-Soline”, afirmou Julien Le Guet, porta-voz do movimento "Bassines, non merci" nesta sexta-feira.

"Esta marcha é a forma que consideramos ser a mais eficaz de passar a mensagem neste momento. É um mau presságio. Devemos ser muito claros: se amanhã houver início de obras enquanto o comitê de bacias pede a pacificação, como prever qual será a reação das pessoas deste território?”, ele acrescentou.

"Promover o diálogo"

No início de julho, o comitê da bacia do Loire-Bretanha, uma espécie de parlamento da água, que reúne população, políticos e Estado, votou uma moção para "promover o diálogo", rever a governança desse tipo de projeto e levar em consideração as alterações climáticas, em particular a evaporação da água. A iniciativa foi aplaudida por pessoas a favor e contra os reservatórios.

A reserva de Sainte-Soline é o segundo dos 16 reservatórios planejados na área pantanosa do Marais Poitevin. Favoráveis ao projeto, estão cerca de 450 agricultores, apoiados pelo Estado, que defendem um seguro agrícola e uma ferramenta de transição para a agroecologia. Mas os opositores denunciam que, em tempos de mudanças climáticas, a ação é um retrocesso.

O projeto de construção de mega reservatórios tem o objetivo de ajudar os agricultores a enfrentarem as mudanças climáticas. A ideia é construir bacias de grandes proporções para acumular a água da chuva durante determinadas estações do ano, que será usada nos momentos de estiagem.

Entretanto, os contrários ao projeto destacam o impacto sobre o meio ambiente e sobre a biodiversidade. Ao armazenar a água que deveria se infiltrar no solo ou escoar para os rios e córregos, os reservatórios acabam privando os ecossistemas desse recurso vital, que permite a recuperação dos solos durante o período invernal. Além disso, a água estagnada fica exposta à evaporação e à degradação.

(Com informações da AFP)

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