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"Verão ruim" em algumas cidades francesas intriga negacionistas das mudanças climáticas

A França se prepara para enfrentar uma nova onda de calor a partir desta quinta-feira (17), mas alguns dias de tempo ruim em parte do território inundaram as redes sociais de teorias negacionistas sobre as mudanças climáticas. O jornal Les Echos analisa a resistência de parte da população francesa em reconhecer a gravidade e até a existência das mudanças climáticas.

Com as baixas temperaturas durante o verão, o casaco se tornou item indispensável na praia em Plonevez-Porzay, no oeste da França, em 3 de agosto de 2023.
Com as baixas temperaturas durante o verão, o casaco se tornou item indispensável na praia em Plonevez-Porzay, no oeste da França, em 3 de agosto de 2023. AFP - FRED TANNEAU
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"Por que o aquecimento global não significa o fim de verões ruins" é o título da matéria do diário econômico, que destaca hashtags que apareceram nas redes sociais francesas nos últimos dias, contestando o aquecimento global. "mudanças climáticas, que mentira!", dizem vários internautas diante de temperaturas abaixo da média normal para o verão francês, sobretudo na metade norte do país, onde o clima é geralmente mais ameno.

Les Echos entrevistou especialistas que explicam porque períodos de temperaturas não extremas durante o verão não são uma prova que o aquecimento global não está ocorrendo. O climatólogo Jean-Louis Dufresne, diretor de pesquisa do laboratório de Meteorologia Dinâmica do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), ressalta que a tese das mudanças climáticas não é invalidada devido a um verão considerado "ruim". "Os cientistas jamais afirmaram que a variabilidade natual [das temperaturas] iria desaparecer", diz. "Isso se exprime ao longo do tempo e do espaço", reitera.

A matéria aponta que os especialistas vêm demonstrando que o aquecimento global suscita um aumento da frequência e da intensidade das ondas de calor, com consequências como tempestades, inundações e secas, por exemplo. O diário lembra que, no mesmo período em que algumas cidades francesas registraram temperaturas abaixo do normal em certas regiões da França, os termômetros se aproximaram dos 50°C no Marrocos e no Iraque, por exemplo. "Os oceanos nunca estiveram tão quentes e o volume de gelo da Antártica nunca foi tão baixo nesta época do ano", completa Les Echos.

As teorias negacionistas devem durar pouco tempo, com o aumento do calor em boa parte da França a partir desta quinta-feira. "Os termômetros devem ultrapassar 35°C em três quartos do país", salienta o site da FranceInfo. O Serviço de Meteorologia da França aponta, no entanto, que a região noroeste será poupada do fenômeno devido às chuvas na costa britânica. Um pico de calor é esperado para o início da próxima semana quando do centro ao sul da França as temperaturas devem atingir novamente 40°C. 

Prevenção de riscos no trabalho 

"Onda de calor: o código do trabalho deve ser alterado?" é o título de uma reportagem especial do jornal Libération que trata das dificuldades de pessoas que trabalham ao ar livre, expostas ao calor e ao sol. O Instituto Nacional de Pesquisa e Segurança da França (INRS), especializado em riscos no trabalho considera que a partir de 30°C por funções que exijam esforço físico o calor pode constituir um problema grave para os assalariados. 

Segundo uma pesquisa realizada pelo instituto Sumer, a pedido do Ministério do Trabalho da França, 3,6 milhões de pessoas fazem trabalhos externos no país, expostas ao calor. No entanto, 9,7 milhões de assalariados se dizem incomodados com as altas temperaturas em seus empregos. Segundo a agência Saúde França, no ano passado, sete casos de acidentes mortais podem ter tido relação com o calor. Segundo Libé, os sete óbitos eram homens, na faixa dos 40 anos e que exerciam seus empregos ao ar livre, três deles no setor da construção. 

Diante deste quadro, políticos de esquerda exigem que o Código do Trabalho da França se adapte à era das mudanças climáticas. Em um plano apresentado neste ano, deputados do partido Europa Ecologia Os Verdes pedem que medidas sejam adotadas em prol da segurança dos empregados a partir do momento em que as temperaturas se aproximarem dos 30°C. No entanto, os empregadores são resistentes quanto a possibilidade de adotar protocolos generalizados e preferem analisar as dificuldades individulamente, caso a caso. 

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