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Jornal francês dirigido por jornalista de extrema direita erra na capa e causa mal-estar

O retorno às bancas do Jornal de Domingo, o "JDD", agora sob o comando do novo diretor de redação, Geoffroy Lejeune, um jornalista de extrema direita, recebe especial atenção da mídia e de políticos na França. Lejeune assina a edição que voltou às bancas no domingo (6), após uma greve histórica de 40 dias da redação, em protesto contra essa nomeação e a saída de dezenas de jornalistas. Já na primeira edição, ele cometeu um erro na capa que provoca desconfiança no meio.

Exemplar do Journal du Dimanche (JDD) exposto em uma banca de Paris.
Exemplar do Journal du Dimanche (JDD) exposto em uma banca de Paris. AFP - STEFANO RELLANDINI
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O JDD enfrentou a greve mais longa de sua história devido ao temor de perda de independência editorial com a nomeação de Geoffroy Lejeune, uma escolha pessoal do principal acionista do veículo, o controvertido industrial francês Vincent Bolloré, dono do grupo Vivendi, entre outras empresas. A última vez que o JDD, um jornal com 75 anos de existência, havia chegado às bancas francesas foi em 22 de junho (a distribuição é feita no sábado).

Já na primeira edição sob nova direção, cinco dias depois de assumir o cargo, Lejeune não se omitiu sobre seu posicionamento político. Os jornais Les Echos, Libération, Le Parisien, 20 Minutes, a revista Le Point, enfim, boa parte da imprensa francesa, notam nesta segunda-feira (7) que o diretor optou por "uma edição bem engajada". Pelo menos cinco reportagens são assinadas por ex-colegas que trabalharam com ele na revista Valeurs Actuelles (Valores Atuais), porta-voz da ideologia nacionalista e anti-imigração na França. 

Até aí, não há surpresa. O que poucos esperavam é que o novo diretor cometesse o que é considerado um erro editorial e logo na capa. O tema escolhido para a estreia foi a segurança pública, assunto predileto dos partidos nacionalistas xenófobos. A edição do JDD traz uma carta aberta de familiares de vítimas de agressões e assassinatos, endereçada ao presidente Emmanuel Macron, acompanhada pela manchete: "Não somos apenas casos de polícia". Entre os signatários do manifesto estão os pais de Enzo, um adolescente de 15 anos que foi esfaqueado em 22 de julho na Normandia. Porém, a imagem de capa do jornal mostra uma passeata com pessoas vestidas de branco em homenagem à morte de outro Enzo, cuja família não assina a carta sobre a suposta insegurança no território francês.

"Ilustração"

O novo diretor de redação se defendeu das acusações. Ao site France Info, Geoffroy Lejeune alegou que a escolha das imagens – "uma ilustração" – foi proposital. Segundo o jornalista, "no imaginário coletivo, uma marcha branca é um momento de comunhão e de esperança para as pessoas confrontadas com este tipo de tragédia". A explicação confirmou o que os grevistas temiam: a perda do rigor jornalístico e a imparcialidade no tratamento da informação. 

O industrial Vincent Bolloré, principal acionista do veículo, acumula críticas no mercado por sua obstinação em criar uma "Fox News à francesa", semelhante ao canal americano que apoia o ex-presidente Donald Trump. O empresário iniciou este processo de explorar um nicho ultraconservador na mídia francesa por meio da transformação do antigo canal iTelé, rebatizado de CNews. Agora, adicionou ao seus planos o popular JDD, cuja maioria dos leitores são homens e que votam à direita.

A transformação de um jornal moderado e de linha editorial independente em um instrumento de propagação das ideias da extrema direita preocupa os defensores de valores republicanos de todas as demais correntes políticas na França.

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