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Privação material e social atinge 9 milhões de franceses e tem maior índice da última década, diz estudo

Um estudo realizado pelo Instituto Nacional de Estatística e Estudos Econômicos (Insee) com dados de 2022 estima que cerca 14% dos franceses se encontram em situação de privação material e social. Trata-se do maior índice da última década. 

Distribuição de cafés da manhã para os sem-teto na Gaîté-Lyrique em Paris.
Distribuição de cafés da manhã para os sem-teto na Gaîté-Lyrique em Paris. © AFP/Christophe Archambault
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Conforme a pesquisa, cerca de 9 milhões de franceses ou 14% da população da França continental está em situação de privação material e social. Essa proporção atingiu o maior nível desde 2013, quando as primeiras análises do tipo foram realizadas pelo Insee. O aumento da taxa de privação material e social contrasta com o declínio observado no início de 2021 nas condições de vida no ano anterior, quando o indicador atingiu um nível historicamente baixo devido à crise sanitária.

Os confinamentos e restrições instituídos para conter a propagação da epidemia de Covid-19 afetaram então os estilos de vida e o consumo da população. As restrições de deslocamentos e atividades, relacionadas com saídas culturais, de lazer ou de convívio, e o encerramento de comércios e serviços, limitaram as possibilidades de consumo, aliviando assim os constrangimentos nas despesas das famílias. As medidas de apoio ao rendimento, como o desemprego parcial, permitiram simultaneamente manter os recursos, melhorando a situação financeira de alguns agregados familiares.

Novas variantes obrigariam autoridades a adotar novamente a generalizar a obrigatoriedade do uso da máscara
Novas variantes obrigariam autoridades a adotar novamente a generalizar a obrigatoriedade do uso da máscara REUTERS - GONZALO FUENTES

No início de 2022, ao contrário, além da retomada dos hábitos de vida anteriores à crise da saúde, a inflação corroeu o poder de compra das famílias. Num contexto de subida dos preços da energia, o instituto francês contabilizou que uma em cada dez pessoas vive num agregado familiar que não dispõe de meios financeiros para aquecer adequadamente a sua casa ou usufruir de outras condições materiais e sociais

Em entrevista à RFI, uma das autoras do estudo, Julie Solard, chefe da divisão de condições de vida das famílias no Insee, explica que foi possível chegar a este número feito com base em interrogatórios.

“Interrogamos as pessoas sobre 13 privações às quais as pessoas se submeteram por razões financeiras como não poder aquecer suas casas o suficiente (durante o inverno), não poder comprar roupas novas ou não poder ter internet em casa. Uma pessoa é considerada em situação de privação material e social se ela acumula pelo menos cinco elementos dentre os 13”, detalha a pesquisadora.

O órgão também considerou como privações relevantes à diminuição de saídas entre amigos para uma bebida ou idas a restaurantes pelo menos uma vez por mês.

No início de 2022, mais famílias do que antes da crise da saúde relataram ser financeiramente incapazes de substituir móveis usados ​​(26%, em comparação com 24% no início de 2020), ou de comer carne, peixe ou equivalente vegetariano em dias alternados (9%, em comparação com 7% no início de 2020). Da mesma forma, a proporção de famílias que declararam não poder pagar uma semana de férias fora de casa durante o ano aumentou no início de 2022 (24%, contra 22% no início de 2020), enquanto vinha caindo há dez anos.

Quem sofre mais privações?

“As famílias monoparentais são as mais afetadas e em segundo lugar as famílias numerosas”, apontou Solard. No início de 2022, três em cada 10 pessoas que vivem em famílias monoparentais encontravam-se em situação de privação material e social, contra duas em cada 10 pessoas em casais com três ou mais filhos.

A taxa de privação aumentou acentuadamente para essas famílias nos últimos dois anos: +1,3 pontos nas famílias monoparentais entre 2020 e 2022 e +0,9 pontos nas famílias numerosas. Para estes últimos, a evolução está em linha com o aumento observado nos anos anteriores. Para as famílias monoparentais, ao contrário, esse aumento interrompe um movimento de melhoria das condições de vida medido por esse indicador.

Entre todas as dificuldades relatadas, a relacionada com o aquecimento da casa foi o tópico com maior aumento: no início de 2022, 10% das pessoas viviam num agregado familiar que não dispõe de meios financeiros para aquecer adequadamente a sua casa, contra 5 a 7% entre 2014 e 2021.

Outro destaque da pesquisa é que risco de privações aumenta acentuadamente nas áreas rurais. Julie Solard explica que, proporcionalmente, a privação ainda é mais forte na zona urbana, mas no começo de 2022, houve aumento forte nas zonas rurais e localidades intermediarias, ligado ao aumento de preços de combustíveis usados no aquecimento residencial e ao aumento da energia elétrica.

França na média europeia

Ainda segundo a pesquisa, a França está próxima da média de privação social de outros países europeus. No início de 2022, 12,7% da população residente em agregado familiar na União Europeia encontrava-se em situação de pobreza material e social.

Luxemburgo, por exemplo, tem um dos menores índices, abaixo de 5%, assim como países escandinavos. Enquanto países do Leste como Bulgária e Romênia apresentam índices mais altos, mais de 30% dos habitantes da Romênia e da Bulgária encontram-se em situação de privação material e social, de acordo com dados apresentados pelo Insee.

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