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Brasileira com deficiência mental está desaparecida desde 3 de maio na região parisiense

Depois do desaparecimento da brasileira Fernanda Santos de Oliveira ter tido repercussão nas mídias do Brasil e da França, o grupo Brasileiras de Paris no Facebook se mobiliza também para achar outra brasileira desaparecida na região metropolitana de Paris desde o dia 3 de maio. 

A brasileira Jussara Lopes, que vive com a irmã em uma cidade dos arredores de Paris, desapareceu em 3 de maio.
A brasileira Jussara Lopes, que vive com a irmã em uma cidade dos arredores de Paris, desapareceu em 3 de maio. © Arquivo Pessoal
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Por Paloma Varón, da RFI

Jussara Lopes tem 53 anos e é deficiente intelectual. Ela saiu da casa onde mora com a irmã em Champigny-sur-Marne no dia 3 de maio e não voltou mais.

Em entrevista à RFI, sua irmã, Sheila Antunes, natural de Sorocaba (SP), contou que abriu um boletim de ocorrência depois que o desaparecimento completou 24 horas, no dia 4 de maio, mas sente que o seu caso não é prioridade para a polícia francesa. “Não é a primeira vez que a Jussara sai de casa e não volta, e a polícia não se mobiliza tanto”, reclama.

Sheila afirma que pediu o acesso às câmeras de segurança de sua rua à polícia e o acesso foi negado. "Então, depois do trabalho, eu faço buscas nos hospitais e nas estações de trem, tento seguir as pistas que chegam a mim", conta Sheila.

A última notícia que se tem de Jussara é que ela foi vista em duas ocasiões diferentes no 12° distrito de Paris. Mas, quando Sheila foi até os locais indicados, a irmã já não estava mais lá. Ela faz um apelo nas redes sociais e a grupos de brasileiros na França para que, caso alguém veja a sua irmã, tente ficar com Jussara até que a família ou a polícia estejam a caminho.

Profissional de hotelaria e turismo, Sheila vive na França desde o ano 2000 e obteve a tutela da irmã, sete anos mais velha, em 2010, quando a mãe delas faleceu. Desde então, Sheila, que trouxe a irmã para morar com ela na França, tenta adaptar a sua vida para cuidar de Jussara, “que não sabe ler nem escrever, fala somente algumas palavras de francês, não tem senso de direção e tem a idade mental de uma criança de cinco anos”, explica.

Preconceito e indiferença

Mas a chegada de Jussara teve um impacto na vida de Sheila. “Meu marido não aguentou tê-la em casa e pediu o divórcio”, conta. Depois, sua vida profissional e social também foram afetadas. "Trabalhando com hotelaria, eu ficava muito tempo fora de casa, trabalhava nos fins de semana e feriados e era difícil conciliar com os cuidados dos quais ela necessita".

"Eu sofri muito preconceito por tentar dar uma vida digna à minha irmã. Quando eu estava regularizando os documentos dela aqui, uma funcionária da prefeitura chegou a me dizer: 'Coloca ela em um avião e manda embora'”, afirma Sheila. 

Familiares de Jussara Lopes divulgaram cartazes em francês no qual avisam que a brasileira, desaparecida desde 3 de maio, tem deficiência intelectual.
Familiares de Jussara Lopes divulgaram cartazes em francês no qual avisam que a brasileira, desaparecida desde 3 de maio, tem deficiência intelectual. © Arquivo Pessoal

Jussara, que tem um diagnóstico de demência confirmado desde que se afogou em um rio quando era criança e ficou muito tempo sem oxigênio, não frequenta nenhuma instituição por falta de vagas, segundo a irmã. "Aqui na França é muito difícil conseguir um tratamento, um acompanhamento. Eu já fiz diversos dossiês, entrei com pedidos, mas eles simplesmente não têm vagas", desabafa.

Mudança afetou o senso de direção

Além disso, ela conta que o apartamento onde viviam antes, em Saint-Maur, pegou fogo em julho do ano passado e elas tiveram de se mudar para a cidade onde residem agora, Champigny-sur-Marne. Segundo Sheila, a mudança afetou ainda mais o senso de direção da irmã, que antes conseguia voltar sozinha do Hospital Saint-Maur, onde ficava de 9h às 17h, mas tinha a liberdade de ir e vir.

“O psiquiatra dela uma vez tentou colocá-la em uma instituição fechada, mas, como ela é muito alegre, sociável e comunicativa, disseram que lá não era o lugar para ela. Então, consegui inscrevê-la em algumas atividades em outros hospitais e em um grupo de esportes para pessoas com deficiência aos sábados. Mas nem sempre conseguia levá-la e buscá-la, por causa do meu trabalho. Então, fiz o caminho várias vezes com ela e a ensinei a voltar para a casa sozinha”, relata Sheila. O que não impediu Jussara de desaparecer outras vezes.

Há quatro anos, Jussara ficou 47 dias sem voltar para a casa. "A polícia conseguiu encontrá-la por meio de imagens da (estação de trens) Gare du Nord, em Paris, em que um homem branco e bem vestido molestava sexualmente moradoras de rua. Minha irmã era uma delas”, lamenta Sheila. Eles não estavam buscando pela minha irmã, mas acabaram achando uma pista e depois eu consegui encontrá-la".

Trancada em casa

Depois disso, relata, a polícia sugeriu que ela prendesse a irmã em casa quando saísse para trabalhar. "Eu fiz isso, eu trancava a porta e as janelas, mas ela achou uma chave reserva escondida e conseguiu sair no dia 3 de maio. Quando eu voltei do trabalho à noite, ela não estava mais lá", revela. 

A maior dificuldade, segundo Sheila, é que além da invisibilidade social dos moradores de rua, para os quais a maioria das pessoas não olha quando passa, “ela pode estar muito diferente das fotos, muito magra, com a pele queimada pelo sol ou pelo frio, com outras roupas… é muito difícil reconhecê-la depois de um tempo”.

Esperança

Mas Sheila não perde as esperanças de encontrá-la mais uma vez e já se prepara para o dia em que a irmã voltar. “Eu recusei novos contratos para ter tempo de fazer buscas à noite e estou fazendo curso de vendas on-line para poder trabalhar de casa e assim poder cozinhar para ela, dar os remédios e levá-la para dar uma volta, ela gosta muito de sair e ver gente, é muito sociável”.

Sheila gostaria também de encontrar um meio de implantar um microchip rastreador injetado na pele da irmã, mas ainda não achou na França. "Aqui eles têm estes microchips em animais de estimação, mas não consigo para humanos. Poderia também ser uma pulseirinha que eu pudesse fechar, mas já tentei colocar um relógio com GPS nela e ou roubam dela ou ela mesma arranca", lamenta. 

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