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Atriz iniciadora do #metoo na França abandona cinema devido à "conivência com agressores sexuais"

A atriz Adèle Haenel, uma das iniciadoras do movimento #metoo no cinema francês, anunciou nesta terça-feira (9) que abandona a indústria cinematográfica. O anúncio faz ressurgir as críticas de complacência da 7° arte na França com assediadores, a poucos dias do começo do Festival de Cannes.

A atriz francesa Adèle Haenel no filme "Retrato de uma jovem em chamas", de 2019. A artista iniciou o movimento #metoo do cinema francês.
A atriz francesa Adèle Haenel no filme "Retrato de uma jovem em chamas", de 2019. A artista iniciou o movimento #metoo do cinema francês. AFP/File
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Alguns dias antes da abertura do 76° Festival Internacional de Cinema de Cannes, que começa na terça-feira (16), a atriz francesa Adèle Haenel, que denunciou abusos sexuais no cinema francês, volta a criar alvoroço ao anunciar que abandona definitivamente a indústria cinematográfica devido a sua “indulgência generalizada” com agressores sexuais.

A atriz de 34 anos contribuiu para quebrar o tabu sobre o assédio sexual no cinema francês quando denunciou, em 2019, as agressões sexuais de que foi vítima por parte do diretor Christophe Ruggia, com quem trabalhou quando era adolescente.

Em 2020, Haenel chegou a abandonar a cerimônia dos Césars em protesto ao prêmio dado ao diretor Roman Polanski, acusado de estupro, pelo filme “O Oficial e o Espião”.

Em uma carta à revista semanal de cultura Télérama, ela anunciou na terça-feira, que abandona o cinema, e denuncia “a indulgência generalizada do setor com os agressores sexuais e (…) a maneira como a área colabora com a ordem mortífera ecocida racista do mundo”.

“Em um contexto de movimento social histórico, esperamos ver se os chefões do cinema contam – como os patrocinadores da indústria do luxo – com a polícia para que tudo continue como sempre no tapete vermelho do Festival de Cannes”, ela continua.

A atriz também denuncia todos que “se unem para salvar os Depardieu, Polanski, Boutonnat”, envolvidos em denúncias de crimes sexuais. “Continuar a tornar desejável este sistema é criminoso”, ela acrescenta.

O célebre ator francês Gérard Depardieu é acusado de estupro por 13 mulheres, e Dominique Boutonnat, diretor do poderoso Centro Nacional de Cinema (CNC) da França, é investigado por agredir sexualmente seu sobrinho de 22 anos.

Apesar de jovem, ela é uma das atrizes duas vezes premiada pelo César, o equivalente francês do Oscar. Haenel afirmou que pretende, a partir de agora, seguir carreira no teatro.

Vista grossa

O anúncio de Haenel coloca, uma vez mais, o cinema francês na desconfortável posição de complacente com o assédio sexual. Além de fazer vista grossa para os casos de violência dentro do seu território, a indústria francesa continua a premiar e reconhecer diretores e atores “cancelados” em outros países.

A presença de Johnny Deep em Cannes na próxima semana é um exemplo deste comportamento controvertido. O ator americano apresenta, na abertura do festival, o filme Jeanne Du Barry, de Maïwenn, em que interpreta o rei Luís XV. O longa marca a volta do ator aos cinemas após o processo extremamente mediatizado em que foi acusado por sua ex-esposa, a atriz Amber Heard, de violência física, e inocentado pela Justiça americana.

Em resposta à polêmica gerada pela escolha do filme inaugural em Cannes, o realizador Thierry Fremaux, diretor do festival, declarou que Johnny Deep não foi proibido de trabalhar e que tinha ganho o processo na Justiça.

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