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Francês que atacou curdos em Paris reconhece ter "ódio patológico" contra estrangeiros

O francês suspeito de assassinar a tiros três curdos, na sexta-feira (23), em Paris, admitiu sentir "um ódio patológico contra estrangeiros". O ex-condutor de trens aposentado contou aos investigadores que tinha o objetivo inicial de matar imigrantes na periferia da capital francesa, anunciaram autoridades neste domingo (25). 

Manifestantes exibem uma foto de Emine Kara, que era líder do Movimento das Mulheres Curdas na França, durante ato na praça da República, no sábado (24), em Paris. Ela é uma das seis vítimas do ataque racista de sexta-feira (23) em um centro curdo da capital francesa.
Manifestantes exibem uma foto de Emine Kara, que era líder do Movimento das Mulheres Curdas na França, durante ato na praça da República, no sábado (24), em Paris. Ela é uma das seis vítimas do ataque racista de sexta-feira (23) em um centro curdo da capital francesa. REUTERS - SARAH MEYSSONNIER
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Segundo um comunicado assinado por Laure Beccuau, procuradora de Paris, o suspeito, de 69 anos, explicou que, na manhã de sexta-feira, saiu de casa armado com uma pistola automática com o objetivo de assassinar estrangeiros. Ele se dirigiu primeiramente a Saint-Denis, município no norte da capital francesa, onde há uma forte concentração de imigrantes africanos e árabes. O atirador também evocou sua intenção de cometer suicídio. 

No entanto, desistiu dos planos "porque havia poucas pessoas na rua e por causa da roupa que usava, que impossibilitava que carregasse sua arma com facilidade", reiterou o documento. O homem voltou para a casa onde vive com os pais e saiu novamente durante a manhã, dirigindo-se desta vez ao 10° distrito de Paris, onde sabia que havia um centro cultural curdo. No local, atirou contra várias pessoas, matando três e ferindo outras três.

O aposentado foi imobilizado por vários indivíduos em um salão de cabeleireiro nas proximidades do local do crime e foi preso logo depois pela polícia. No momento da detenção, perguntou aos policiais sobre a quantidade de pessoas que havia conseguido matar.  

Aos investigadores, o francês contou que agiu por ser "racista", com um "ódio patológico contra estrangeiros". Também revelou que esse sentimento se intensificou depois que sua casa foi invadida e saqueada, em 2016. Presente no momento do roubo, o homem lutou contra os dois assaltantes e chegou a ferir um deles com uma faca. 

"Após esse incidente, tive vontade de assassinar migrantes e estrangeiros", afirmou o suspeito. Segundo ele, sua intenção na sexta-feira era de utilizar todas as munições que carregava, antes de se suicidar "com a última bala". 

Motivações racistas 

O aposentado já havia sido indiciado no final do ano passado por degradação e violências com armas, com premeditação e com motivações racistas. Em 8 de dezembro de 2021, ele feriu com uma arma branca migrantes de um acampamento de Paris, destruindo algumas barracas do local. Após cumprir um ano de prisão preventiva, ele foi libertado no último 12 de dezembro, e colocado sob controle judicial.

Em 2017, ele também foi condenado a seis meses de prisão com sursis por porte ilegal de armas. No último mês de junho, o francês recebeu ainda uma pena de doze meses de detenção pelas violências cometidas contra um dos homens que assaltou sua casa em 2016.

Interrogado pela polícia, o pai do suspeito afirmou que, na manhã do ataque, ao sair de casa, "ele não disse nada". "Ele é louco", declarou o idoso de 90 anos, descrevendo o filho como "silencioso" e "retraído". Seus familiares também apontam para uma "mudança radical de comportamento" após o roubo de sua casa, há seis anos. 

Já suas intenções contra a comunidade curda são um mistério para seus parentes. Aos investigadores o suspeito afirmou que tinha o objetivo de se vingar dos curdos porque, ao combaterem os membros do grupo Estado Islâmico na Síria, eles mantiveram os jihadistas presos ao invés de matá-los.

Após revista na residência do suspeito, a polícia apreendeu um computador e um smartphone, mas não conseguiu descobrir "nenhuma ligação com uma ideologia extremista", disse Beccuau. A pistola 1911 Colt 45 utilizada no ataque de sexta teria sido adquirida há quatro anos, junto a um membro de um clube de tiros que o aposentado frequentava na época, hoje falecido. O francês escondeu a arma na casa dos pais e garantiu jamais tê-la utilizada antes. 

Quem eram as vítimas 

Cinco das seis vítimas do aposentado são de nacionalidade turca, a sexta é de nacionalidade francesa, segundo as autoridades.

Emine Kara, era uma líder do Movimento das Mulheres Curdas na França, de acordo com o Conselho Democrático Curdo na França (CDK-F). Ela havia feito um pedido de asilo político "rejeitado pelas autoridades francesas", disse o porta-voz da associação, Agit Polat.

Os dois homens falecidos são Abdurrahman Kizil, "um cidadão curdo comum", e Mir Perwer, um cantor curdo reconhecido como refugiado político e "processado na Turquia por sua arte", segundo o CDK-F. As três vítimas feridas já estão fora de perigo.

Contra o suspeito, foi aberta uma investigação sobre os crimes de homicídio, tentativa de homicídio, violência com arma de fogo e delitos contra a legislação sobre armas, cometidos contra indivíduos devido a uma raça, etnia ou religião. O homem saiu da prisão preventiva na noite de sábado (24) devido a seu estado de saúde e foi levado na noite de ontem à ala psiquiátrica da Secretaria de Segurança Pública de Paris. 

O ataque suscitou uma imensa emoção da comunidade curda na França. Uma manifestação foi realizada no sábado na praça da República, centro de Paris, com o apoio de ONGs antirracistas e antifascistas. 

O evento, convocado pelo Conselho Democrático Curdo na França (CDK-F), reuniu milhares de participantes. No entanto, teve de ser cancelado cerca de uma hora após o início devido a confrontos entre curdos e supostos extremistas turcos infiltrados.

A polícia foi acionada e utilizou bombas de gás lacrimogênio para conter os manifestantes violentos. Vários carros foram vandalizados e lixeiras foram queimadas. No total, 11 pessoas foram detidas por degradações e 31 membros das forças de segurança ficaram feridos. 

(RFI com agências)

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