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"Encenação à la Trump": líder da esquerda francesa ironiza discurso de Macron diante de avião presidencial

Antes de viajar à Romênia, onde se encontrou na terça-feira (14) com soldados franceses enviados a uma base militar da Otan, o presidente francês, Emmanuel Macron, realizou um discurso na pista do aeroporto de Orly, diante de um avião presidencial. A alocução foi extremamente criticada por seus rivais, entre eles, o líder da esquerda radical, Jean-Luc Mélenchon, que comparou o chefe de Estado francês ao ex-presidente norte-americano Donald Trump.

O presidente francês, Emmanuel Macron, durante discurso na pista do aeroporto de Orly, antes de embarcar para a Romênia, na terça-feira, 14 de junho de 2022.
O presidente francês, Emmanuel Macron, durante discurso na pista do aeroporto de Orly, antes de embarcar para a Romênia, na terça-feira, 14 de junho de 2022. © GONZALO FUENTES/AP
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A cinco dias do segundo turno das eleições legislativas francesas, Macron decidiu deixar o país para ir à Romênia e em seguida à Moldávia. Ao que tudo indica, ele deve também viajar até Kiev, para se encontrar com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, no que será sua primeira viagem ao país desde o início da invasão russa.

Diante do avião com a inscrição "República Francesa", Macron justificou sua viagem, em plena campanha eleitoral. A coalizão centrista Juntos, liderada por seu partido, A República em Marcha, que obteve 25,75% dos votos no primeiro turno, trava uma disputa acirrada com a aliança da esquerda, Nova União Popular Ecológica e Social (Nupes), que conseguiu 25,66%.

"Nada seria pior do que adicionar a desordem na França à desordem mundial (...). É preciso defender nossas instituições diante de todos aqueles que as contestam e as fragilizam", declarou o presidente em uma das pistas do aeroporto de Orly, na periferia de Paris, antes de embarcar rumo à Romênia.

O presidente francês fez uma clara referência ao partido rival nas eleições legislativas. Na falta de uma estratégia eficiente para o segundo turno e temendo perder a maioria na Assembleia, membros do governo vêm comparando a Nupes com o partido de extrema direita Reunião Nacional. Macron, que desde o anúncio dos resultados do primeiro turno, no último domingo (12), não havia se pronunciado, resolveu sair do silêncio e adotar o mesmo posicionamento. 

Outro comportamento controverso por parte do chefe de Estado e seus ministros é em relação aos distritos eleitorais onde a Nupes disputa vagas de deputados com o partido de extrema direita Reunião Nacional. Ao contrário do que ocorreu no segundo turno da eleição presidencial — quando várias lideranças de esquerda recomendaram o voto em Macron para impedir a vitória da candidata Marine Le Pen — os macronistas agora se recusam a fazer o mesmo. 

Tentativa de dar um novo fôlego à campanha

Na oposição, não faltaram críticas ao discurso de Macron antes de embarcar para a Romênia. Jean-Luc Mélenchon, líder da Nupes e do partido da esquerda radical França Insubmissa, classificou o discurso como "uma encenação à moda de Trump". O ex-presidente americano também tinha o hábito de realizar alocuções diante de aviões da Air Force One. 

No blog do partido A França Insubmissa, o esquerdista escreveu que a iniciativa de "alertar contra um inimigo interior é o símbolo de uma época". "Macron naufraga. [Ele naufraga] nas urnas, com exceção do eleitorado com mais de 60 anos, e nas sondagens (...) a bandeira está a meio mastro", disse.

Já a líder da extrema direita francesa, Marine Le Pen, considerou o comportamento do presidente "completamente inapropriado", que acredita ser um "sinal de descontrole". "O que me chocou foi essa declaração feita na pista do aeroporto, como presidente da República (...) em que ele vem pedir aos franceses para lhe dar plenos poderes, mas os franceses não querem que ele tenha plenos poderes", ressaltou. "A cada vez que Emmanuel Macron tem dificuldades com seu eleitorado, ele viaja ao exterior para tentar obter uma postura", reiterou Le Pen.

Caso o partido de Macron perca a maioria na Assembleia Nacional para a Nupes, o presidente terá dificuldades para implementar sem obstáculos as reformas que prometeu durante a campanha. Seu partido também ficará dependente de acordos com a oposição para aprovar projetos de lei e reformas do Executivo.

O presidente francês não tardou em responder às críticas. "Será preciso me explicar em que visitar nossos soldados é uma forma de desprezo. É a expressão do respeito", declarou, em coletiva de imprensa nesta quarta-feira (15) na base militar da Otan na Romênia. "Ser presidente da República (...) é ser também chefe das Forças Armadas, é estar na liderança da nossa diplomacia e encarnar a voz da França", completou. 

Para o cientista político Pascal Perrineau, a viagem de Macron ao exterior às vésperas do segundo turno das eleições legislativas é uma tentativa de dar um novo fôlego à campanha. "Sua imagem entre os franceses não é boa. Com entre 37% e 40% de popularidade, a impressão é que ele é um presidente distante, que tem pouca fibra social e pouca capacidade de escuta", avalia. "Mas há um outro lado de sua imagem, a de um dirigente respeitado internacionalmente, que representa bem a França no exterior e está à altura de seu cargo no plano europeu", analisa.

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