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Cidade francesa autoriza topless e uso do burquíni em piscinas públicas

Após semanas de polêmica, a cidade de Grenoble, no sudeste da França, tomou uma decisão que incendeia o debate político na França: a autorização do uso do burquíni nas piscinas públicas. Já o topless, que também foi aprovado, passa sem problemas aos olhos da opinião pública.

Câmara municipal da cidade de Grenoble votou a favor e aprovou, na segunda-feira (16), o uso do burquíni nas piscinas públicas municipais.
Câmara municipal da cidade de Grenoble votou a favor e aprovou, na segunda-feira (16), o uso do burquíni nas piscinas públicas municipais. AFP - SAEED KHAN
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Em poucos dias, essa localidade de 158 mil habitantes aos pés dos Alpes, dirigida há oito anos pelo ecologista Eric Piolle, passou a atrair os olhares de toda a França. O motivo: a proposta do prefeito de que as mulheres pudessem frequentar as piscinas públicas do local "como desejassem".

Na segunda-feira (16), o conselho municipal, equivalente à Câmara Municipal, bateu o martelo autorizando tanto o topless quanto o uso do burquíni, um maiô que cobre o corpo inteiro e tem uma espécie de véu islâmico integrado, nas piscinas públicas. Após 2h30 de intensos debates, 29 vereadores votaram a favor, 27 contra e dois se abstiveram. 

Nos últimos anos, o traje de banho utilizado por mulheres muçulmanas vem causando polêmica na França. Os prefeitos de algumas cidades litorâneas do país chegaram a proibir a vestimenta, em nome do respeito da laicidade. 

Integrantes da associação Aliança Cidadã, defensora do uso do burquíni nas piscinas públicas, comemoram a decisão do conselho municipal de Grenoble, em 16 de maio de 2022.
Integrantes da associação Aliança Cidadã, defensora do uso do burquíni nas piscinas públicas, comemoram a decisão do conselho municipal de Grenoble, em 16 de maio de 2022. AFP - JEFF PACHOUD

Um combate feminista

O regulamento interno das piscinas públicas da cidade exigiam, até então, o uso de trajes de banho "decentes" e "uma atitude correta" por parte dos frequentadores. Algumas peças, no entanto, eram proibidas, por uma questão de higiene, como bermudas de praia. Com a decisão, o comprimento dos shorts masculinos também não será mais controlado.

Atacado por políticos conservadores, Eric Piolle evoca um "combate feminista", e lembra que a Constituição francesa autoriza o uso de roupas ou acessórios religiosos no espaço público. Atualmente além de Grenoble, apenas uma cidade francesa permite o uso do burquíni nas piscinas públicas: Rennes, no oeste da França, desde 2018.

No entanto, para a oposição, o burquíni é um símbolo da opressão feminina, imposto por extremistas às mulheres muçulmanas. O presidente da região Auvergne-Rhône-Alpes, Laurent Wauquiez, chegou a acusar o prefeito de Grenoble de "submissão ao islamismo". 

Burquíni nas eleições legislativas

O uso do burquíni nas piscinas de Grenoble anima o debate político semanas antes das eleições legislativas de junho. Os dois campos políticos percebem na polêmica uma oportunidade de mobilizar os eleitores, com duelos virulentos e a divulgação de petições nas redes sociais. 

Para Prisca Thévenot, uma das porta-vozes do grupo Renascimento, do presidente francês, Emmanuel Macron, o prefeito de Grenoble prejudica os valores republicanos com uma decisão "grave". 

"Quando entramos em uma piscina municipal, todos os cidadãos devem respeitar as regras", defende. "Agora acabamos de contornar a regra para responder a uma vontade política religiosa", reitera.

No campo oposto, uma centena de personalidades francesas --entre elas célebres feministas-- assinaram recentemente uma tribuna de apoio ao uso do burquíni. "As mulheres muçulmanas merecem ter espaço nas piscinas como todas as cidadãs (...) e ninguém deve ser estigmatizado devido à escolha de seu traje de banho", diz o texto.

O manifesto foi redigido pela Aliança Cidadã, fundada em 2012 em Grenoble e presente atualmente em outras cidades francesas. A associação também é defensora do coletivo de jogadoras de futebol "Les Hijabeuses", que reivindica o uso do véu islâmico nas partidas, o que é proibido pela Federação Francesa de Futebol. 

Essa não é a primeira vez que o acessório usado pelas muçulmanas se torna o centro de um debate político. Nas últimas eleições francesas, a então candidata da extrema direita Marine Le Pen causou uma forte polêmica ao anunciar sua intenção de proibir o véu islâmico em todo o espaço público

(Com informações da AFP

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