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Para enfrentar debate do 2° turno, Marine Le Pen fará treinamento com “clone de Macron”

A equipe de comunicação da candidata da extrema direita à eleição presidencial francesa, Marine Le Pen, já prepara o único debate previsto entre os dois turnos com o presidente Emmanuel Macron (centro-direita), que busca a reeleição no dia 24. O enfrentamento ao vivo na TV está programado para a próxima quarta-feira (20) e é considerado uma ocasião decisiva para Le Pen superar o desempenho medíocre que teve no duelo com o adversário em 2017. Um "falso Macron" será usado para treinar a candidata.

Os dois finalistas da eleição presidencial francesa, Marine Le Pen e Emmanuel Macron, preparam o debate de 20 de abril com suas respectivas equipes de campanha.
Os dois finalistas da eleição presidencial francesa, Marine Le Pen e Emmanuel Macron, preparam o debate de 20 de abril com suas respectivas equipes de campanha. AFP - JULIEN DE ROSA,CHARLES PLATIAU
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Desta vez, Marine Le Pen espera suplantar os erros que cometeu há cinco anos dando aos franceses a impressão de que não estava preparada para o cargo. Na época, a ampla vitória de Macron por 66,1% dos votos contra 33,9% da rival foi atribuída pelos analistas ao fiasco de Le Pen no debate entre os dois turnos. Até hoje, a imprensa diz que o episódio deixou a líder nacionalista "traumatizada". 

Para evitar um novo naufrágio na terceira tentativa de chegar ao Palácio do Eliseu, Le Pen irá se isolar durante as 48 horas anteriores ao encontro. Ela vai se instalar na casa de campo de um membro de sua equipe, no oeste do país, e treinar arduamente para bater Macron na TV e nas urnas. Além de descansar da maratona de comícios dos últimos dias, a líder do partido Reunião Nacional (RN) estará cercada de um grupo de cerca de 15 assessores. Eles irão municiá-la com informações técnicas para responder às questões dos jornalistas das emissoras TFI e France 2, co-organizadoras do debate, e sobretudo contra-atacar os argumentos de Macron. 

O detalhe que eletriza a imprensa nas últimas 24 horas é a informação de que Le Pen fará simulações do debate com um "falso Macron", um conselheiro diplomado na mesma Escola Nacional de Administração (ENA) frequentada pelo presidente. Há décadas, a ENA forma os funcionários de elite que ocupam os mais altos cargos no governo e na administração pública francesa. Segundo o portal de notícias FranceInfo, o "falso" adversário teria a mesma idade de Macron, que está com 44 anos, e ainda por cima seria fisicamente parecido com o líder francês. 

As emissoras de rádio RMC e RTL destacam que Marine Le Pen trabalha há vários meses com um grupo de funcionários públicos de elite para fortalecer seu programa e evitar contradições técnicas ou jurídicas em suas propostas. Esses detalhes serão revisados para o debate. 

Assessores de Macron também preparam fichas com informações, notas técnicas, argumentos e sessões de treinamento com o presidente. Por outro lado, nenhuma viagem está prevista fora da agenda de chefe de Estado em exercício, já bastante ocupada pelas negociações sobre a guerra na Ucrânia. O centrista trabalha principalmente para evitar um tom agressivo com Le Pen, o que poderia ser explorado como misoginia ou nervosismo de quem teme uma derrota. 

Preocupação semelhante existe na equipe da adversária. Para Le Pen, o importante não é demolir Macron, e sim mostrar aos eleitores indecisos que ela está preparada para o cargo e pode ser uma alternativa confiável ao atual presidente. A candidata de extrema direita acredita que parte para o debate com uma vantagem: enquanto Macron defende um balanço de governo, ela propõe um projeto, martelam assessores do RN. 

Imigração e política externa: tensão à vista no debate

As equipes de campanha dos dois finalistas discutem há vários dias os temas que serão abordados nesse duelo. A questão do poder aquisitivo, central no programa de Le Pen e responsável pelo aumento das intenções de voto na candidata, certamente estará em discussão, assim como a imigração. O centrista voltou atrás na reforma da Previdência, o que deve ser denunciado pela rival. Outros assuntos que não deverão faltar são as visões de política externa e europeia dos dois finalistas e medidas para os setores de educação e segurança. 

Enquanto o tema da imigração ocupa menos de uma página no programa de Macron, as propostas da líder nacionalista nessa área se estendem por 46 páginas. Ela propõe medidas radicais para reduzir a imigração e uma reforma para inserir o conceito de "preferência nacional" na Constituição, ou seja, os franceses teriam prioridade sobre estrangeiros no acesso à moradia, aos empregos e programas sociais. A aquisição da nacionalidade francesa pelo casamento não seria mais automática, caso ela venha a ser eleita.

Em seu programa, Macron propõe endurecer regras já existentes, como aumentar as exigências para a concessão de títulos de residência de longa duração, o que dificultaria a vida dos imigrantes em solo francês.

Um momento bastante esperado nesse debate será a exposição das divergências profundas entre os dois candidatos sobre política externa. Duas visões, uma aberta à Europa e ao mundo e outra nacionalista e eurocética, vão se confrontar. 

Macron, um político decididamente pró-europeu, propõe nesta campanha maior autonomia do bloco nos setores energético, tecnológico e militar, para enfrentar as complexas relações com a China e os Estados Unidos. Ele defende o papel da Otan na proteção dos europeus, ao mesmo tempo em que estimula o bloco a desenvolver suas capacidades próprias de defesa.

Le Pen propôs, na quarta-feira (13), uma "aproximação estratégica entre a Otan e a Rússia (...) quando a guerra entre Rússia e Ucrânia terminar e se chegar a um acordo de paz". Na contramão do que defende o rival, a nacionalista quer retirar a França da direção do comando integrado da Otan e rejeita o motor franco-alemão como pilar do bloco. 

Proximidade com Moscou

"Sou totalmente independente de qualquer relação, de qualquer potência, de qualquer governo de qualquer nacionalidade", declarou a líder da extrema direita, frequentemente acusada por seus adversários de uma certa proximidade com o governo russo. 

Le Pen diz ser a favor da transformação da União Europeia em uma "aliança das nações europeias (...) respeitosa com as nações livres e soberanas", e não uma "Europa que ameaça e faz chantagem". Se eleita, ela quer diminuir a contribuição financeira da França ao orçamento europeu e "mudar a Europa por dentro". 

Observadores notam, no entanto, que Le Pen não tem aliados que compartilham essa visão. A guerra na Ucrânia uniu os europeus e a única voz discordante atualmente no bloco é da Hungria, dirigida pelo primeiro-ministro ultranacionalista Viktor Orbán e considerada por muitos como uma ditadura no centro da Europa. 

O presidente francês deve explorar a radicalidade das propostas da rival nessas áreas, que poderiam custar caro à França em termos de isolamento na Europa. 

Macron chegou à frente de Le Pen no primeiro turno, realizado em 10 de abril. Ele obteve 27,8% dos votos contra 23,1% da adversária da extrema direita.

Uma pesquisa Ifop-Fudicial divulgada nesta quinta-feira (14) aponta que Macron venceria o segundo turno com 53,5% dos votos, contra 46,5% para Le Pen. Uma outra sondagem do instituto Ipsos publicada na quarta-feira mostrou uma diferença favorável ao centrista de 10 pontos percentuais. 

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