"Querida, esqueci a esquerda": imprensa francesa ironiza esforços de Macron para conquistar eleitores progressistas

A apenas 11 dias do segundo turno da eleição presidencial na França, as campanhas dos candidatos Emmanuel Macron e Marine Le Pen estampam as capas dos principais jornais franceses. Em foco, a reforma da previdência e a marcha à ré do presidente francês sobre o projeto de aumentar a idade mínima da aposentadoria para os 65 anos.

O presidente francês, Emmanuel Macron, durante visita à Mulhouse, no leste da França, na terça-feira (12). AFP - LUDOVIC MARIN

"Querida, esqueci a esquerda" é a irônica manchete do jornal Libération, que estampa sua capa com uma foto de Macron correndo. A cena ilustra também a maratona eleitoral do presidente-candidato em busca dos votos dos eleitores progressistas, sobretudo dos que votaram no último domingo (10) em Jean-Luc Mélenchon, da esquerda radical, e no ecologista Yannick Jadot.

Na reportagem especial, Libé critica o comportamento de Macron que, para tentar se reeleger, utiliza novamente o discurso da necessidade de barrar a extrema direita. O problema, segundo o diário progressista, é que o eleitorado que o líder francês pretende conquistar foi extremamente castigado por sua política nos últimos anos e, diante de um novo programa claramente de direita, pode se recusar a ir votar no próximo 24 de abril. 

A operação de Macron para seduzir a esquerda também está na capa do jornal conservador Le Figaro. Para isso, diz o jornal, o presidente promete rever seu projeto de aumentar a idade mínima para a aposentadoria e considera até mesmo realizar um referendo sobre a questão. A estratégia foi classificada como "eleitoreira" por Marine Le Pen na terça-feira (12). 

Reforma da previdência

"Retropedalagem" é o título do editorial do Figaro que lembra que se Macron quiser mesmo conquistar os eleitores de Mélenchon vai ter que estar disposto a fazer uma boa mudança em seu projeto de reforma da previdência, considerando que o candidato da esquerda radical limitava a idade mínima para a aposentadoria aos 60 anos. Mas, tentando agradar os eleitores da França Insubmissa, "Macron corre o risco de irritar quem votou nele no último domingo". 

"Aposentadoria: ponto-chave do voto?", pergunta o jornal La Croix em sua manchete. O diário também questiona se há realmente a necessidade de uma reforma da previdência, apresentada como indispensável pelo governo, mas classificada como "bem gerenciada" pelo último relatório do Conselho de Orientação das Aposentadorias, órgão que elaborou um extenso documento sobre a questão em julho de 2021. 

O jornal também lembra que a taxa de emprego das pessoas com mais de 55 anos na França é uma das menores da Europa e que é "extremamente difícil encontrar um trabalho hoje aos 60 anos". "A maioria dos franceses desta faixa etária que se aposentam hoje nem tem mais emprego", conclui o La Croix.