Ministro francês da Educação anunciou medidas anticovid às escolas durante férias em Ibiza, revela site
A França é palco de uma nova polêmica envolvendo um membro do governo de Emmanuel Macron, nesta terça-feira (18). O site Mediapart revelou que o ministro francês da Educação, Jean-Michel Blanquer, anunciou um controverso protocolo anticovid a ser aplicado escolas do país enquanto passava férias na badalada ilha de Ibiza, na Espanha. A oposição exige sua renúncia.
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Segundo o site francês Mediapart, Jean-Michel Blanquer tentou esconder que estava de férias em Ibiza, entre o final de 2021 e o começo deste ano. Foi de lá que ele anunciou, através de uma entrevista ao jornal Le Parisien em 1° de janeiro, uma série de medidas a serem aplicadas pelas escolas do país no dia seguinte.
O setor da Educação já estava revoltado com o curto prazo para colocar as restrições em prática, na volta às aulas após as festas de fim de ano. Para piorar a situação, o Ministério da Educação mudou o protocolo diversas vezes nos 15 dias seguintes, o que levou os professores a realizarem uma greve massiva, na última quinta-feira (13).
No entanto, as revelações sobre a estadia do ministro na badalada ilha espanhola, em um momento crítico da epidemia provocada pela rápida propagação da variante ômicron na Europa, podem custar o cargo do ministro. "Jean-Michel Blanquer só voltou das férias em Ibiza no domingo, 2 de janeiro. Ou seja, na véspera da volta às aulas, apesar da situação sanitária e das consequências ao cotidiano das escolas. Essa atitude provou tensões até mesmo no governo francês", publica o site Mediapart.
De fato, a polêmica engrossou depois que Nicolas Revel, diretor do do gabinete do primeiro-ministro Jean Castex, revelou ao site Político que havia desaconselhado Blanquer a passar suas férias em Ibiza. "Com certeza, não foi a decisão mais inteligente do mundo", disse uma outra fonte do governo, sob anonimato, mencionando a escolha da ilha espanhola célebre por suas festas em um momento crítico da epidemia de Covid-19.
«Les vacances de fin d’année du ministre suscitent depuis plusieurs jours des tensions au sein du gouvernement. Son entretien polémique au Parisien, qui a suscité la colère des enseignants, a été réalisé depuis l’île des Baléares. Ce qui avait été caché.» https://t.co/qs1ZxWJkaS
— Ismaël Bine (@ismael__bine) January 18, 2022
A revelação incendiou os sindicatos do setor da Educação na França. O ministro já estava em pé de guerra com os professores, ao criticar a paralisão da semana passada, afirmando que "não se faz greve contra um vírus". Profissionais das escolas planejam uma nova jornada de manifestações na quinta-feira (20).
"Enquanto ele estava em Ibiza, diretores e diretoras dos estabelecimentos de ensino recebiam e-mails das famílias sobre seus filhos que estavam contaminados com a Covid e eles não sabiam o que fazer no dia seguinte, além de e-mails de professores que também haviam testado positivo. Nenhum protocolo nos foi antecipado", afirma Guislaine David, secretária-geral do sindicato SNUipp-FSU, o maior do ensino fundamental na França.
"Essa revelação é a ilustração da distância e da falta de noção do ministro sobre a realidade da crise sanitária", afirma Stéphane Crochet, do sindicato SE-Unsa. Já para Sophie Vénétitay, secretária-geral do Snes-FSU, a atitude do ministro "mostra sua falta de preocupação e consideração" com os professores.
Governo defende o ministro
Diante da chuva de críticas, o porta-voz do governo francês, Gabriel Attal, alega que o ministro desempenhou suas funções, mesmo à distância. "Há uma regra permanente quando os membros do governo saem de férias: é preciso estar acessível a todo o momento, pronto para trabalhar. Não tenho nenhuma razão para pensar que esse não foi o caso de Blanquer", afirmou.
O porta-voz também tentou minimizar a responsabilidade do ministro no caso, apelidado na França de "Ibizagate". "Lembro que se o protocolo sanitário foi apresentado tarde é porque as recomendações do Alto Conselho da Saúde Pública só chegaram na noite de 31 de dezembro", reiterou.
As justificativas não foram suficientes para acalmar a oposição, que exige a saída do ministro. "Foi demais. Jean-Michel Blanquer tem que renunciar", disse no Twitter Mathilde Panot, presidente do grupo da esquerda radical França Insubmissa na Assembleia Nacional.
O candidato ecologista à presidência, Yannick Jadot, evoca "um nível de desdém e responsabilidade inaceitável". "O problema não é Ibiza, é a falta de compromisso deste ministro, seu improviso e sua falta de preparo".
Na direita, Otham Nasrou, porta-voz de Valérie Pécresse, candidata do partido Os Republicanos à presidência, pede que Blanquer explique "as circustâncias e as razões do fiasco". O ministro se diz "arrependido", afirmando que deveria ter escolhido outro local para passar as férias, em referência à fama da ilha de ser um local badalado e de festas. No entanto, ele não explicou porque não antecipou seu retorno à França, sabendo da complicação que o protocolo anunciado traria à volta às aulas no país.
(RFI com agências)
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