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Candidatura de Eric Zemmour à presidência da França revela mal-estar profundo na sociedade francesa

A imprensa francesa analisa nesta quarta-feira (1°) o lançamento da candidatura do jornalista de extrema direita Eric Zemmour, 63 anos, às eleições presidenciais de 2022. O ex-editorialista do jornal Le Figaro e do canal de TV CNews tornou-se o primeiro concorrente ao mais alto cargo da República francesa a comunicar suas intenções em um vídeo divulgado ontem nas redes sociais. Em sua manchete, o jornal progressista Libération se refere a Zemmour como "um pesadelo francês". 

Eric Zemmour faz provocações tão polêmicas que perde o apoio até entre seus pares de extrema direita.
Eric Zemmour faz provocações tão polêmicas que perde o apoio até entre seus pares de extrema direita. Deroche Mylene/ABACA via Reuters - Deroche Mylene/ABACA
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A França já tem 30 candidatos declarados ao primeiro turno das eleições presidenciais marcadas para 10 e 24 de abril de 2022. O polemista Eric Zemmour é o 14° da lista de pretendentes conhecidos dos eleitores; os demais são considerados nanicos. 

"É possível dar risada do que ele diz, mas seria um grave erro", estima o Libération, que chama a esquerda a reagir a esta candidatura. Descrito como um provocador racista, misógino e admirador do falecido Marechal Pétain – chefe de Estado francês durante a Segunda Guerra, considerado por muitos como um colaborador nazista –, Zemmour oficializou sua candidatura ao Palácio do Eliseu em um vídeo divulgado ontem no Youtube. A encenação e o texto lido pelo extremista de direita foram um condensado de "manipulações grosseiras", escreve o diário. "Ao fazer dos muçulmanos seu bode expiatório predileto, Zemmour preenche todos os quesitos citados pelo autor italiano Umberto Eco no livro 'Como reconhecer o fascismo: da diferença entre migrações e emigrações'", recorda o jornal. 

Libération pergunta quem vai proteger os muçulmanos, as mulheres, os judeus, os funcionários públicos, os intelectuais e outros alvos do discurso de ódio desse candidato, e considera que "a esquerda tem a obrigação de conter esse mal francês". Manifestações antifascistas já estão convocadas para o fim de semana, quando Zemmour fará seu primeiro comício de campanha na sala de espetáculos Zénith, em Paris, no domingo. 

Le Figaro aposta em recuperação nas pesquisas

O diário conservador Le Figaro, que empregou Zemmour como editorialista durante vários anos, reconhece que exageros de retórica do candidato causaram queda de intenções de voto nas últimas semanas. Mas o diário acredita que o jornalista tem chances de se recuperar. Além das propostas anti-imigração e de defesa da identidade nacional, um programa liberal para a economia poderia atrair eleitores, diz o Le Figaro

Segundo pesquisa publicada na terça-feira (30), Emmanuel Macron, que ainda não oficializou sua candidatura à reeleição, chegaria em primeiro lugar no primeiro turno (23 a 24%, estável), à frente de Marine Le Pen (19 a 20%), cuja progressão em uma semana – 3 a 4 pontos – é inversamente comparável ao declínio de Eric Zemmour (13%).

Le Figaro apresenta os principais assessores do jornalista: o tesoureiro Julien Madar, 32 anos; a diretora de campanha Sarah Knafo, 28 anos, que também é estrategista e companheira do candidato; e o responsável pela elaboração do programa econômico, Jonathan Nadler, 30 anos, o "cérebro" da campanha. Relativamente jovens, todos são formados nas melhores universidades francesas e americanas e ex-executivos de bancos de investimentos, como Rothschild e JP Morgan. 

O diário liberal Les Echos, especializado em economia, mostra que os políticos franceses de espírito republicano ficaram "consternados" com o lançamento de uma candidatura inspirada no ódio e na divisão do país. O jornal aponta que o amadorismo demonstrado por Zemmour nas últimas semanas fez com que uma parte de seus apoiadores de afastassem dele. O investidor Charles Gave, que havia emprestado € 300 mil ao jornalista, se retirou da campanha, assim como Philippe de Villiers, um político de extrema direita de longa carreira na França. Villiers se justificou dizendo que Zemmour peca por "amadorismo, arrogância e solidão", ou seja, atua sozinho, sem conseguir atrair para si personalidades mais experientes na extrema direita.

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