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França lembra um ano de decapitação de professor que exibiu caricaturas de Maomé na sala de aula

O aniversário de um ano do assassinato do professor francês Samuel Paty por um terrorista está nas capas dos principais jornais franceses desta sexta-feira (15). Em todo o país, escolas organizam uma jornada de reflexão, antes de um dia nacional de homenagens, no sábado (16).

Jornais franceses desta sexta-feira (15) destacam o aniversário de um ano da decapitação do professor Samuel Paty.
Jornais franceses desta sexta-feira (15) destacam o aniversário de um ano da decapitação do professor Samuel Paty. © Fotomontagem RFI/Adriana de Freitas
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"Continuar" é a manchete de capa do jornal Libération, ilustrada com uma foto de alunos e professores segurando rosas brancas e uma imagem de Samuel Paty. O diário afirma que um ano após sua decapitação por um islamista radical, os educadores ainda enfrentam o dilema de como abordar em sala de aula a questão da laicidade, o princípio que separa o Estado da religião. 

Samuel Paty foi morto em 16 de outubro de 2020, perto do Colégio do Bois d'Aulne, onde lecionava História e Geografia em Conflans-Sainte-Honorine, na região parisiense. O crime ocorreu depois de uma polêmica suscitada por aulas sobre liberdade de expressão ministradas pelo professor. Nelas, Samuel Paty exibia caricaturas do profeta Maomé publicadas pelo jornal satírico francês Charlie Hebdo. Em 2015, a redação da publicação foi alvo de um atentado terrorista, deixando 12 mortos. 

"Samuel Paty: a França continua em estado de choque", estampa o jornal Le Figaro em sua manchete de capa. O diário relembra as circunstâncias que antecederam o assassinato, quando o professor foi ameaçado pelo pai de uma aluna, teve seu endereço e o número de seu telefone celular divulgado em um vídeo nas redes sociais que exigia sua demissão, e foi convocado pela polícia para prestar esclarecimentos. Quatro dias depois, "um refugiado russo radicalizado decapitou o professor e publicou a foto do crime no Twitter", lembra Le Figaro

Herdeiros de Samuel Paty

A reportagem do jornal Le Parisien foi a algumas escolas francesas conversar com professores, que se consideram "herdeiros de Samuel Paty". Um educador afirmou ao diário que 16 de outubro "é como se fosse o 11 de setembro para os educadores da França". Enquanto alguns dizem continuar ensinando sobre a liberdade de expressão e exibindo as caricaturas de Maomé como uma forma de resistência, outros admitem se autocensurar temendo ter o mesmo destino de Samuel Paty.

Em editorial, Le Parisien justifica a escolha, ressaltando que "há um ano, os professores se deram conta não apenas que estavam na linha de frente contra o extremismo islâmico, mas que também poderiam pagar com suas vidas uma iniciativa pedagógica mal calibrada". 

Já o jornal 20 Minutes aborda o trauma deste incidente para as crianças e adolescentes que estudam na escola onde Samuel Paty lecionava. Em entrevista ao diário, a mãe de um aluno afirma que as recentes homenagens relacionadas ao aniversário de um ano da morte do professor fizeram com que seu filho voltasse a ter pesadelos. "Gostaríamos de superar essa história", confessa.

Entre alguns estudantes, o assunto virou tabu, afirma 20 Minutes. "É triste falar disso, preferimos falar das homenagens", declara um garoto. Outro jovem afirma conhecer colegas que, no dia da decapitação, indicaram ao terrorista quem era Samuel Paty em troca de € 150 euros. "A genre se pergunta o que vai acontecer com eles", diz. Cinco ex-alunos do Colégio do Bois d'Aulne foram indiciados por ter ajudado o autor do assassinato. Dois deles serão julgados e podem ser condenados a vinte anos de prisão.

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