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Universidade francesa de elite é investigada por mais de 100 estupros ou agressões sexuais de estudantes

Uma respeitada escola superior de engenharia da França será investigada após os resultados de uma apuração interna, realizada pela própria instituição, para verificar a ocorrência de cerca de 100 estupros, assédio ou abusos sexuais de alunas e alunos. A investigação foi aberta pelo Ministério Público de Evry, na periferia de Paris, depois que a direção da CentraleSupélec procurou a Justiça para informar os fatos.

Direção da CentraleSupélec solicitou a pesquisa interna e afirma ter ficado "chocada" com os resultados.
Direção da CentraleSupélec solicitou a pesquisa interna e afirma ter ficado "chocada" com os resultados. © AFP/Thomas Bregardis
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A descoberta ocorreu por acaso. A escola superior promoveu um questionário anônimo interno para verificar a percepção sobre a igualdade entre homens e mulheres na instituição. Os resultados, porém, revelaram ocorrências graves, que teriam acontecido no último ano escolar (de setembro de 2020 a junho de 2021).

A pesquisa interna, realizada por email com 2.386 alunos, foi feita pela associação de combate ao sexismo Çapèse, a pedido da direção. Os resultados “evidenciaram violências sexistas e sexuais particularmente preocupantes”, afirmou a CentraleSupélec, em um comunicado nesta quinta-feira (7).

“Diante da gravidade dos fatos declarados pelos participantes desta pesquisa inédita, o diretor da escola, Romain Soubeyran, decidiu alertar, por correspondência, a procuradora da República de Evry, para que sejam visados meios complementares de prevenção, ação e acompanhamento das vítimas, mas também sanções aos autores”, acrescentou a instituição.

Festas para os calouros

A investigação interna apontou que 51 mulheres e 23 homens declararam ter sido vítimas de assédio sexual; 46 mulheres e 25 homens dizem ter sofrido agressões sexuais (“contato físico com uma parte sexual - glúteos, sexo, seios, boca, parte interna das coxas -, cometido com violência, à força, ameaça ou surpresa”); e 20 mulheres e oito homens afirmam ter sido vítimas de estupro (“um ato de penetração cometido com violência, à força, ameaça ou surpresa”).

Entre os ou as estudantes que disseram ter sofrido uma dessas violências, "quase 9 a cada 10 afirmaram que o agressor seria um outro aluno e que os fatos teriam ocorrido em um contexto associativo ou dentro da residência universitária”, esclareceu a CentraleSupélec. “Os resultados dessa pesquisa nos chocaram”, disse o diretor.

A associação Çapèse, por sua vez, comentou pelo Twitter que investigações como essa "são necessárias para que todo mundo tome consciência do tamanho do problema das violências sexuais e sexistas no ensino superior".

#MeToo nas universidades

Nas redes sociais, a notícia provoca revolta. “Finalmente vamos poder falar. (…) Se os números são altos, é porque somos muitos a ter sofrido isso”, comentou Elli T. Uma ex-aluna da instituição, Céline P., disse “não ter ficado surpresa”. “O sexismo e a cultura do estupro são constantes. Começa com as músicas com duplo sentido durante os trotes aos calouros. O clima é de apologia do estupro, ódio às mulheres. Com 85% de homens na turma… As mulheres estão seguras”, ironizou.

O caso francês ocorre na esteira de revelações de abusos ocorridos nas chamadas fraternidades das universidades americanas – clubes de alunos com festas marcadas por uso excessivo de álcool e drogas. As acusações já estão sendo apontadas como o novo movimento #MeToo, desta vez dentro das instituições de ensino superior. Segundo o jornal El País, quase 15 mil pessoas assinaram uma petição para fechar a fraternidade de Phi Kappa Psi, da Universidade do Kansas, após a divulgação de mais um caso de estupro nesses encontros, em setembro.

Com informações da AFP

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