Criticado, intelectual africano Achille Mbembe dirige 'cúpula da juventude' África-França com Macron
Centenas de jovens da sociedade civil africana se reuniram com o presidente francês Emmanuel Macron na cidade de Montpellier, no sul do país, em uma cúpula África-França sem precedentes que visa "reconstruir" a relação do país com o continente. Nenhum chefe de Estado africano foi convidado para o evento, o que irritou parte da sociedade. O painel foi selecionado após meses de diálogo em todo o continente africano pelo intelectual camaronês Achille Mbembe, especialista do pós-colonialismo.
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A cúpula desta sexta-feira (8) ocorre em um momento em que a influência da França sobre suas ex-colônias é cada vez mais contestada - especialmente pela Rússia - e enquanto Paris está em crise aberta com o Mali e a Argélia.
Pela primeira vez desde 1973, quando começaram os encontros França-África, nenhum líder africano esteve presente.
A presidência francesa afirma que este novo formato permitirá "ouvir a voz da juventude africana" e "afastar-se de fórmulas e redes obsoletas".
Em outras palavras, "romper com as práticas opacas e redes de influência entre a França e suas antigas colônias.
Jovens empresários, artistas e atletas do continente se encontraram com seus pares franceses e da diáspora para discutir questões econômicas, políticas e culturais.
Um painel de 12 jovens africanos do Mali, Costa do Marfim, Tunísia, África do Sul e Quênia se reuniu com Macron à tarde. O painel foi selecionado após meses de diálogo em toda a África pelo intelectual camaronês Achille Mbembe, que orquestrou o encontro de Montpellier.
Sem contato com a África
Em um relatório entregue ao presidente francês na terça-feira, Mbembe disse que a França está muito desligada de "novos movimentos e experiências políticas e culturais" realizadas pela juventude africana.
Ele também destacou que, de todos os conflitos, "nenhum é tão corrosivo quanto o alegado apoio da França à tirania no continente". O exemplo recente do Chade vem à mente, quando o presidente francês deu seu apoio à junta militar criada pelo filho do presidente Idriss Déby, após o assassinato de seu pai.
O gabinete de Macron insistiu para que a intervenção militar francesa, a soberania, a governança, a democracia e "os assuntos que irritam as pessoas" fossem abordados.
Em declarações à rádio France Inter na quinta-feira, Mbembe sublinhou que a "África é afetada por duas forças: as da inovação e as forças da morte. A principal questão que os jovens farão a Macron é: de que lado você está?" .
Críticos denunciam 'ilusão' de ouvir a África
Enquanto isso, Mbembe, um especialista em pós-colonialismo, foi fortemente criticado por alguns de seus pares africanos por concordar em pilotar a conferência.
Em artigo publicado no site senegalactu.info, o escritor senegalês Boubacar Boris Diop denunciou o acontecimento como "um falso chute no formigueiro".
“O encontro cara a cara entre Macron e a sociedade civil africana teria sido muito mais crível, ou mesmo frutífero, se pelo menos houvesse sinais concretos de seu desejo de mudança”, escreveu ele.
Os intelectuais do coletivo pan-africano Cora criticaram uma sociedade civil adaptada às necessidades da França. Eles afirmam que a França está apenas "ouvindo o povo africano e seus intelectuais" para dar a ilusão de uma África que se sobressai, ao lado dos franceses.
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