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Tribunal de Contas francês aponta efeitos nocivos do ensino à distância durante pandemia

A França adota a partir desta segunda-feira (29) mais uma medida para tentar frear a terceira onda da epidemia de coronavírus. Devido à ansiedade crescente das famílias com o aumento de casos positivos nas escolas, entre alunos do ensino elementar e médio, toda classe que tiver um aluno diagnosticado positivo para a Covid-19 será imediatamente fechada nos 19 departamentos franceses submetidos ao lockdown do comércio. A medida é válida para a região de Île-de-France, onde fica Paris. 

As conclusões de um estudo do Tribunal de Contas sobre os efeitos nefastos do ensino à distância são publicadas nesta segunda-feira, 29 de março, pelo jornal Le Figaro.
As conclusões de um estudo do Tribunal de Contas sobre os efeitos nefastos do ensino à distância são publicadas nesta segunda-feira, 29 de março, pelo jornal Le Figaro. © Fotomontagem RFI/Adriana de Freitas
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Nas demais regiões francesas, prevalece a regra adotada anteriormente. Uma classe só é fechada, e o ensino passa a ser feito à distância, quando três alunos são positivos para o coronavírus.  

Nas últimas semanas, cresceu a pressão contra o governo para exigir o fechamento dos estabelecimentos escolares, vistos como focos de propagação da variante britânica do vírus, mais contagiosa. O presidente francês, Emmanuel Macron, tem resistido à proposta, baseado em dados díspares de uma região para outra do país.

Na média nacional, até a semana passada, dos 12,4 milhões de alunos matriculados nas escolas francesas, 0,17% tinham testado positivo ao coronavírus. Entre professores e funcionários, a proporção de contaminados era de 0,22%. Porém, em bairros pobres de periferia, a situação de algumas escolas é alarmante.

Nesse contexto em que epidemiologistas alertam o governo sobre a saturação das UTIs, e pais se inquietam pelo risco de serem contaminados ao deixarem os filhos nos colégios, o Tribunal de Contas francês publica nesta segunda-feira um relatório apontando os efeitos nocivos do ensino à distância. O documento mostra as desigualdades de acesso a computadores, tablets e à internet para os estudantes de famílias de baixa renda. 

Desigualdade material

Segundo reportagem do jornal Le Figaro, no ano passado, quando as escolas ficaram 55 dias fechadas entre março e maio, 600 mil alunos não puderam acompanhar o ensino à distância por falta de equipamento adequado, o que corresponde a 5% do total de estudantes. Em localidades mais pobres, como em Saint-Denis, na periferia de Paris, e na ilha de Guadalupe - território francês na América Central, essa proporção sobe para 10% e 13%, respectivamente. 

O relatório mostra que até famílias que dispunham de computador em casa enfrentaram dificuldades. Com os pais em home office, muita gente também precisou usar o computador familiar para trabalhar.

Professores se organizaram para enviar apostilas pelo correio, mas o Tribunal de Contas constatou que os professores receberam as lições de volta com atraso, quase no fim do lockdown.

"Longe de ser um sucesso, as 'aulas virtuais' utilizadas por 39% dos professores do ensino primário eram só e-mails com instruções para os pais sobre os deveres do dia", escreve o Le Figaro. Ou seja, aqueles pais que não tinham condições de dar aulas para os filhos também foram discriminados. 

Falta de coordenação pedagógica

O Tribunal de Contas francês conclui que houve falhas estruturais de organização do ensino à distância. "O trabalho de equipe entre professores foi amplamente ilusório", diz o documento, já que "cada professor estava isolado em sua casa".

Além dos alunos do ensino primário, que dependiam dos pais para aprender, e daqueles que não tinham computador e internet adequados, outro público prejudicado foram os alunos deficientes, que normalmente contam com o apoio de assistentes de ensino na sala de aula e ficaram sem esse acompanhamento em casa.

Conclusão: o ensino à distância está longe de substituir a escola e ainda aumenta as desigualdades de educação na França. 

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