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Em referendo, território ultramarino da Nova Caledônia rejeita se tornar independente da França

O território ultramarino francês da Nova Caledônia, na região sul do Oceano Pacífico, foi às urnas neste domingo (4) para um referendo sobre a independência da França. O "não" venceu com 53,26% dos votos, na segunda consulta em dois anos sobre a questão.

Mais de 85% dos eleitores da Nova Caledônia foram às urnas neste domingo (4), uma mobilização inédita para uma votação.
Mais de 85% dos eleitores da Nova Caledônia foram às urnas neste domingo (4), uma mobilização inédita para uma votação. THEO ROUBY / AFP
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O estratégico arquipélago francês de 270 mil habitantes se pronunciou, mais uma vez contra a independência da França. O território rico em níquel, a 18.000 quilômetros de Paris, francês desde 1853, representa um dos últimos redutos de soberania europeia na região.

Após a apuração de 70% das urnas e uma mobilização sem precedentes de mais de 85% dos eleitores, 53,3% dos cidadãos da Nova Caledônia decidiram pelo "não" e 46,74% pelo "sim". No entanto, no referendo realizado em 4 de novembro de 2018, os favoráveis à independência eram menos numerosos. Na época, o "não venceu com 56,7% e o "sim" ficou com 43,3% dos votos.

Os resultados deste domingo foram comemorados pelos militantes separatistas que esperam uma vitória no próximo e terceiro referendo. A próxima consulta deve ser realizada até 2022. 

"Se não foi hoje, será no terceiro referendo. Respeitamos o resultado deste domingo", declarou o líder independentista Pascal Sawa, prefeito de Houailou.

Macron: reconhecimento e humildade

O presidente francês, Emmanuel Macron, se pronunciou na tarde deste domingo sobre o resultado do referendo. Ele afirmou que acolhe a vitória do "não" à independência da Nova Caledônia "com um profundo sentimento de reconhecimento" e de "humildade".

"Os eleitores se expressaram e eles confirmaram majoritariamente seu desejo de manter a Nova Caledônia na França. Como chefe de Estado, eu acolho essa marca de confiança na República com um profundo sentimento de reconhecimento. Eu acolho igualmente esses resultados com humildade", afirmou em um discurso pronunciado no Palácio do Eliseu, sede da presidência francesa, em Paris. 

"Eu ouço a voz daquelas e daqueles que incitam a vontade de independência e eu quero lhes dizer: é com vocês, e apenas juntos, que vamos construir a Nova Caledônia de amanhã", reiterou Macron, saudando "uma participação excepcional" e um "segundo compromisso democrático de sucesso, apesar as difíceis condições" devido à pandemia de Covid-19. 

Forte mobilização da população

Segundo o historiador Paul Fizin, a maior mobilização do eleitorado poderia beneficiar os dois lados. Em 2018, alguns cidadãos pró-França, convencidos da vitória como indicavam as pesquisas, não compareceram às urnas. Nas Ilhas Lealdade, reduto da comunidade autóctone dos canacos, muitas pessoas não votaram depois de um apelo de não participação por parte do Partido Trabalhista.

Neste domingo, foram registradas longas filas em várias zonas eleitorais de Noumea, capital do arquipélago. Foi o caso de um centro de votação do bairro canaco de Montravel, ao norte de Noumea. 

"Cheguei às 8h30, já são 11h e ainda não entramos. Mas, em nome da dignidade do país, nós esperamos", declarou Chanié, natural de Lifou. "Eu voto 'sim' porque quero que nossos filhos governem o país, não a França", afirmou.

Daniela, que também enfrentou fila para votar no bairro multiétnico de Vallée des Colons, afirmou que votaria "não". "A França sempre esteve aqui por nós e vai continuar", afirmou.

O referendo dispensou medidas barreiras contra a Covid-19 e o uso de máscara. Graças a uma drástica redução dos voos internacionais e a imposição do isolamento de 14 dias a todos os que chegam ao arquipélago, o território foi declarado livre do coronavírus. 

Processo de descolonização

A consulta, assim como a primeira, é parte de um processo de descolonização iniciado em 1988, após vários anos de violência entre os canacos - povo autóctone - e os caldoches, de origem europeia. Os confrontos terminaram com uma tomada de reféns e um ataque à gruta de Uvea em maio de 1988 que deixou 25 mortos.

Consolidado dez anos mais tarde, o acordo de Noumea instituiu o reequilíbrio econômico e geográfico em favor dos canacos e o compartilhamento do poder político com os caldoches, mesmo que as desigualdades sociais entre os dois lados permaneçam fortes. Segundo o compromisso, um próximo referendo sobre a independência da Nova Caledônia deve ser realizado até 2022.

Já a convivência entre as duas partes costuma ser pacífica. Nas ruas de Noumea e nos bairros populares canacos, os independentistas se manifestaram durante todo o dia, buzinando e desfilando com bandeiras do movimento separatista. Do lado dos pró-França, o clima era mais calmo. 

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