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Apóstolos do decrescimento ou ambiciosos? Propostas cidadãs sobre clima dividem imprensa na França

A “Convenção Cidadã sobre o Clima”, lançada pelo presidente francês, Emmanuel Macron, como resposta ao movimento dos coletes amarelos no ano passado, realiza sua última reunião a partir desta sexta-feira (19), em Paris. O tema é manchete de capa de quase todos os jornais que estão divididos. A atriz francesa Marion Cotillard, que participou da abertura da reunião esta manhã, chamou o evento de “histórico” e disse que está “orgulhosa de ser francesa”.

A resenha da imprensa francesa desta sexta-feira reage às propostas cidadãs para o clima que serão entregues ao presidente Emmanuel Macron.
A resenha da imprensa francesa desta sexta-feira reage às propostas cidadãs para o clima que serão entregues ao presidente Emmanuel Macron. © Fotomontagem RFI
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Marion Cotillard, vencedora do Oscar de melhor atriz em 2008 por “Piaf”, foi uma das personalidades francesas que sugeriu ao presidente Macron a realização dessa Convenção Cidadã. A atriz pediu para participar nesta sexta-feira da abertura da reunião final, segundo a radio France Inter. Em seu discurso, ela se disse “emocionada de ver que a ideia tomou forma”.

“O que vocês criaram e o que estamos vivendo graças a vocês é excepcional, é histórico. Espero que no futuro, o que é excepcional hoje se transforme em norma. Vocês refletem a inteligência, a abertura e a grandeza de nosso povo. Os políticos devem agradecer por esse trabalho notável. Por isso, estou orgulhosa de ser francesa”, declarou a atriz que, durante o movimento dos coletes amarelos havia criticado o governo por sua política social e ambiental.

Processo inédito

Alguns diários reagem com entusiasmo às propostas cidadãs que serão entregues ao presidente Emmanuel Macron. Libération apelidou o evento de “Apelo de 19 de junho”, fazendo uma referência ao famoso “Apelo do General de Gaulle por uma França Livre, que comemorou nessa quinta-feira (18) 80 anos.  O jornal diz que a “Convenção Cidadã do Clima” é um “processo inédito que propõe ideias ambiciosas”.

Cento e cinquenta franceses, escolhidos por sorteio, participam deste “exercício de democracia participativa de luta contra as mudanças climáticas”, lançado no ano passado pelo presidente Emmanuel Macron. Durante nove meses eles refletiram e se reúnem até domingo em Paris para debater e votar suas propostas para o clima. São 150 propostas, uma para cada participante.

O diário progressista lembra que Macron prometeu que transmitiria sem intervenção todas as medidas ao parlamento ou proporia um referendo popular. Libération, para quem esta é a última chance de iniciar uma transição para uma economia de desenvolvimento sustentável, se pergunta se o presidente vai ter coragem política e cumprir sua promessa.

Inscrição da luta contra aquecimento climático na Constituição

As propostas visam a redução de ao menos 40% das emissões de gases que provocam o efeito estufa até 2030, “respeitando uma justiça social”. Entre as ideias principais, reveladas antecipadamente nessa quinta-feira estão: uma revisão constitucional para a inscrição da luta contra o aquecimento climático na Constituição francesa; a jornada de trabalho de 28 horas por semana, a drástica redução do uso de agrotóxicos, uma maior taxação de carros poluidores e a proibição de circulação de veículos nos centros das cidades; cardápio vegetariano nas cantinas das escolas; a renovação energética de imóveis...

Le Monde escreve que a iniciativa, formada principalmente por novatos em questões ambientais, “quer mudar profundamente a sociedade”. A reunião final deve também indicar as fontes de financiamento para viabilizar as medidas.

Ecologia radical

Le Figaro diz que a Convenção Cidadã do clima propõe uma ecologia radical que o jornal conservador resume em: “trabalhar menos, produzir menos e consumir menos”. Os 150 franceses são “os apóstolos do decrescimento” que "conduzirão o país ao caos generalizado", denuncia o editorial. Le Figaro afirma que a importância da ecologia foi evidenciada pela crise do coronavírus. “O aquecimento do planeta é uma realidade, mas o cataclisma econômico anunciado também é", diz o texto, que pede que essas duas frentes sejam combatidas com pertinência.

Les Echos acredita que o presidente Emmanuel Macron irá optar por referendo popular, que colocaria várias questões, para aprovar ou não as propostas da Convenção Cidadã do Clima. Assim, o chefe de Estado levaria os franceses a refletir sobre a importância da transição ecológica e, ao mesmo tempo, neutralizaria as críticas sobre a falta de ambição de sua política ambiental.

O presidente francês informou que irá dar uma resposta as propostas no dia 29 de junho, quando recebe os participantes da Convenção Cidadã do Clima

 

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