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Um pulo em Paris

Britânicos residentes na França sentem tristeza e vergonha com o Brexit

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Hoje é um dia triste para os britânicos que escolheram morar na França. Muitos dizem estar envergonhados, constrangidos com a opção de deixar a União Europeia feita há três anos e meio pela maioria de seus conterrâneos. O divórcio, após 47 anos de casamento com o bloco, representa para muitos uma separação dolorosa, forçada.

Com o Brexit, o britânico Patrick Head, morador de Perriers-en-Beauficel, na Normandia, não poderá se candidatar à reeleição como vereador nas municipais de março na França.
Com o Brexit, o britânico Patrick Head, morador de Perriers-en-Beauficel, na Normandia, não poderá se candidatar à reeleição como vereador nas municipais de março na França. Foto: Vídeo France 24
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Segundo dados oficiais, a França tem 144.000 britânicos residentes permanentes no país (Instituto Nacional de Estudos e Estatísticas, 2018). Mas outras estimativas citam 400.0000 cidadãos da coroa britânica no solo francês. Até agora, eles estavam tranquilos, aproveitando as quatro liberdades que caracterizam a União Europeia: livre circulação de pessoas, bens, serviços e capital.

A maioria dos britânicos residentes na França são aposentados que compraram pequenas casas de campo ou em vilarejos pitorescos do centro, norte e oeste do país – Normandia, Bretanha, Poitou, Limousin ou Dordogne –, áreas rurais conhecidas pela beleza e a boa gastronomia.

Eles formam pequenas comunidades de conterrâneos, mas vivem perfeitamente integrados à cultura francesa. Exercem um papel econômico relevante para o comércio local, o mercado imobiliário e o turismo, nessas áreas menos atraentes para os jovens franceses.

O presidente francês, Emmanuel Macron, fez um curto pronunciamento em rede nacional de televisão. "Hoje é um dia triste. Esta partida é um choque, é um sinal de alarme histórico que deve ressoar em cada um de nossos países ", disse o líder francês. Macron afirmou que o Brexit só foi aprovado no referendo em junho de 2016 "por causa das mentiras proferidas durante a campanha e pelo fato de a Europa não ter se transformado à altura das expectativas de seus cidadãos". "É preciso recordar a cada minuto o que a mentira pode causar à democracia", alertou o presidente francês.

Custo de vida mais barato

Os britânicos passaram a comprar casas e se instalar na França sobretudo a partir da década de 1990, motivados pelo custo de vida mais barato do que no Reino Unido, por vantagens fiscais, pelo país ser mais ensolarado e pela qualidade da saúde pública, que eles podiam compartilhar enquanto cidadãos europeus. Mas isso vai mudar.

Com o Brexit, a maior preocupação é a perda do acesso à seguridade social francesa. Fora da União Europeia, os britânicos se perguntam se não terão mais reembolso médico do Estado francês. Por enquanto, nada vai mudar durante o período de transição até 31 de dezembro deste ano, mas depois ninguém sabe o que virá. Para os aposentados, este é um motivo de preocupação e angústia. Muitos moram aqui há 15 anos, 20 anos, e não pensam em retornar ao Reino Unido.

Como cidadãos europeus, os britânicos podiam votar nas eleições europeias e participar da política local. Atualmente, existem 700 vereadores britânicos eleitos no território francês, mas, com o Brexit, eles não poderão se candidatar à reeleição nas eleições municipais de março próximo. Os prefeitos dessas cidades dizem estar diante de uma perda imensa, porque os britânicos participam do dinamismo desses municípios.

O jeito será pedir a nacionalidade francesa, mas o processo é burocrático e demora em torno de dois anos. Alguns, que têm a possibilidade de pedir a nacionalidade irlandesa pegaram esse caminho mais rápido, já que a República da Irlanda continua na União Europeia e é menos burocrática que a França. Aqueles que não sabem se continuarão na França a longo prazo, estes precisam se registrar nas autoridades de imigração competentes até 31 de dezembro de 2020 para receber um visto especial de estadia, a chamada “carte de séjour” francesa.

"Fish and chips" em Paris

 

Com a proximidade do Brexit, aumentou o número de britânicos em Paris. O prato predileto de turistas e residentes, o “fish and chips”, peixe com batata frita, entrou para o cardápio de restaurantes da capital.

 

A agência aberta pelo Estado francês para atrair companhias antes instaladas no Reino Unido diz que 136 empresas britânicas vieram para a França desde o referendo de 2016. Em termos de empregos, elas abriram 5.500 vagas de trabalho na região parisiense, a maior parte no setor de Finanças (3.500 novos empregos) e, em menor escala, no setor de serviços – seguradoras, por exemplo. São pessoas de alto poder aquisitivo. Nesta área, Paris se apresenta como a grande vencedora da disputa que teve como concorrentes Frankfurt e Amsterdã, praças financeiras competitivas na zona do euro. No ranking geral de cidades escolhidas pelos britânicos para permanecer no bloco, Paris fica em terceiro lugar, atrás de Dublin e Luxemburgo, que cobram menos impostos.

A empresa operadora do Eurotúnel, que faz a ligação entre os dois países sob o Canal da Mancha, se preparou para continuar transportando um quarto das mercadorias que transitam entre os dois países. O comércio entre o Reino Unido e a União Europeia representa € 140 bilhões por ano e mantém 250.000 empregos de um lado e do outro do canal.

A operadora do Eurotúnel se equipou com um novo sistema eletrônico de controle das passagens, aumentou as vagas de estacionamento nas entradas do túnel e contratou mais funcionários para reduzir o tempo de espera na verificação dos documentos, acreditando que o vaivém entre a França e o Reino Unido continuará intenso.

Agora, só o tempo dirá qual será o impacto do Brexit para os dois lados.

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