Acessar o conteúdo principal
Quadrinhos/ Macron

Macron posa com camiseta contra violência policial em festival de quadrinhos na França

Primeiro presidente desde François Mitterrand a ir ao grande encontro anual de quadrinhos em Angoulême (sudoeste da França), Emmanuel Macron comemorou nesta quinta-feira (30) a "grande arte" e causou surpresa ao posar com uma camiseta denunciando a violência policial, oferecida pelo ilustrador Jul.

O desenhista Jul presenteia o presidente Emmanuel Macron com uma camiseta que denuncia a violência policial. Angoulême, França, 30/01/2020.
O desenhista Jul presenteia o presidente Emmanuel Macron com uma camiseta que denuncia a violência policial. Angoulême, França, 30/01/2020. Reprodução Twitter
Publicidade

Durante um almoço entre o chefe de Estado e os desenhistas, Emmanuel Macron recebeu das mãos do ilustrador de "Silex e a cidade" uma camiseta representando uma Fera (prêmio concedido em Angoulême) ferida. Abaixo do desenho está escrito: "LBD 2020", referência ao lançador de balas de defesa (LBD) e à sigla BD (sigla em francês para histórias em quadrinhos ou HQ) com o ano de 2020.

A foto de Macron posando com um sorriso com seu presente, postada pelo desenhista nas redes, imediatamente acendeu a web. E fez a oposição reagir. Tanto na direita: "uma ferramenta de propaganda antipolítica que não tem nada a ver nas mãos do Presidente da República", segundo o vice-presidente do partidos Os Republicanos, Eric Ciotti. Como na esquerda: "o presidente banaliza a violência policial", segundo o líder da França Insubmissa Jean-Luc Mélenchon.

Dois dos principais sindicatos policiais também protestaram. "É escandaloso", reagiu Yves Lefebvre, secretário geral do Unite-SGP-FO. Fabien Vanhemelryck, secretário-geral da Alliance, chamou o episódio de "o pior sinal no atual contexto de caos".

Jul disse nesta ocasião que ele teve "uma longa conversa sobre o tema da violência policial" com o presidente.

Liberdade de expressão

Questionado um pouco mais tarde pela imprensa, Emmanuel Macron disse que "rejeita o termo violência policial", garantindo que "a violência seja a primeira na sociedade".

"No entanto, de onde estou, devo defender a criatividade, a liberdade de expressão, incluindo a insolência e a criação de artistas que dizem coisas com as quais não concordo", ele adicionou.

Em uma cidade cercada por numerosos policiais, o episódio marcou a visita presidencial. O chefe de Estado evitou o centro da cidade, onde cerca de 200 manifestantes hostis à reforma da Previdência, advogados e um punhado de autores, o aguardavam.

Na ausência do presidente, esses manifestantes, reunidos na praça da Prefeitura, vaiaram o ministro da Cultura, Franck Riester, que veio lançar o ano dos quadrinhos.

Protesto dos desenhistas

Ao longo do dia, Emmanuel Macron comemorou "grande arte" que é a história em quadrinhos, que é "uma arte que une" gerações e círculos e cuja vitalidade atual é "extraordinária".

O mercado de HQ, mangá e charges teve um crescimento muito forte (+ 34% entre 2008 e 2018) e somou 276 milhões de euros em faturamento em 2018, de acordo com dados do Sindicato Nacional de Edição (SNE).

Mas a situação econômica e social dos autores de histórias em quadrinhos é frequentemente dramática: 53% deles vivem com menos do que o salário mínimo e mais de um terço vive abaixo da linha da pobreza. As mulheres estão em uma situação ainda pior. O acesso dos autores aos direitos sociais nem sempre é garantido.

O relatório Racine encomendado pelo Ministério da Cultura e entregue a Franck Riester alguns dias atrás sugere algumas maneiras de tentar melhorar a situação.

O relatório do ex-presidente da Biblioteca Nacional da França, bastante bem recebido pelos autores, sugere em particular a criação "de um contrato de compra, que poderia compensar em direitos autorais o tempo de trabalho associado à atividade criativa ". Também propõe compensar a participação de autores em feiras ou festivais como o de Angoulême. Franck Riester divulgará as decisões relativas ao relatório durante a primeira quinzena de fevereiro.

Emmanuel Macron prometeu "decisões fortes" para "organizar melhor o mundo comum entre autores, editores e livreiros para dar mais visibilidade e segurança aos autores". Mas os editores, apontados por alguns autores, não pretendem ceder.

O presidente do SNE, Vincent Montagne, também presidente do grupo editorial Média-Participations, líder europeu em quadrinhos, considerou que o relatório Racine merece um "estudo de impacto" antes de qualquer decisão.

Em protesto, os autores vão "parar os trabalhos" na sexta-feira (31) às 16h30, após uma chamada para "baixar os lápis", interrompendo as sessões de autógrafos agendadas.

(Com informações da AFP)

 

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.