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França/processo

França: vítimas de padre pedófilo aguardam fim de julgamento para “virar a página”

O padre francês Bernard Preynat é acusado de ter cometido centenas de agressões sexuais em um grupo de escoteiros na cidade de Sante Foye-lès-Lyon, no leste da França, entre 1976 e 1991. Seu julgamento deve terminar nesta sexta-feira (17) e foi acompanhado em parte pelo repórter da RFI, Pierre Olivier.

Bernard Preynat, ex-padre, é acusado de centenas de casos de abusos sexuais entre 1976 e 1991
Bernard Preynat, ex-padre, é acusado de centenas de casos de abusos sexuais entre 1976 e 1991 PHILIPPE DESMAZES / AFP
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Os depoimentos de dez dos 35 jovens que sofreram abusos sexuais, no tribunal, provocaram uma grande comoção nacional. Um deles é Anthony Gourd, vítima do padre entre 1987 e 1990, que descreveu seu calvário durante a infância e suas sequelas – crises de epilepsia que começaram quando ele tinha 17 anos.

“Não é fácil falar disso na frente de todo mundo. São coisas íntimas de nossas vidas, os fatos por si só e as marcas que eles deixaram posteriormente. Faço esse esforço porque sabemos é importante que a Justiça seja feita. Isso nos dá uma energia extra para nos reconstruir. Todos esses anos foram marcados pelo silêncio e esse reconhecimento nos ajuda muito”, disse.

Nem todas as acusações de estupros e agressões puderam ser levadas adiante, porque os crimes prescreveram – o padre, que reconheceu as agressões, afirma que pediu desculpas a cada uma delas, individualmente.

O fundador da associação que ajuda os ex-escoteiros, Alexandre Hezez, assistiu ao processo e lamenta não ter contado sua história no tribunal. “Infelizmente para mim é muito tarde participar desse julgamento”, declara. “Claro que nos identificamos de certa forma com cada história, mas somos diferentes e cada um de nós tem coisas diferentes para dizer. O problema da violência sexual é que entra num terreno muito íntimo e há um aspecto pessoa muito importante”, diz.

Virar a página

Para as vítimas, testemunhar diante do algoz é um desafio, mas também um alívio. É o caso de um dos escoteiros, Pierre-Emmanuel Germain-Thill, que, depois dos abusos, viu o padre pela primeira na delegacia, em 26 de janeiro de 2016. No dia anterior, ele havia prestado queixa. “Nesse primeiro confronto direto, eu ainda estava com muita raiva, tinha vontade de matá-lo. Mas não pude expressar tudo o que eu queria. Falar sobre tudo o que aconteceu me salvou”, conta.

Laurent Duverger, que também fazia parte do grupo de escoteiros, participou de todas as audiências. “Na época, eu o enxergava como um padre, adulto, alguém em outro patamar, contra quem não podíamos apresentar nenhum tipo de resistência. Hoje o que enxergo é um homem sozinho com seus demônios, que luta contra ele. Pessoalmente, isso me fez bem: perceber que se trata apenas de um homem, apenas isso!”, diz.

A expectativa das vítimas, agora, é que o julgamento termine e elas possam, definitivamente, virar a página. Pierre-Emmanuel Germain espera que ele tenha “a decência” de não entrar com um recurso depois da decisão judicial – independentemente de qual seja o veredito.

Padre diz ter sofrido abusos

Na quarta-feira (15), o padre declarou que ele mesmo sofreu abuso sexual na infância, surpreendendo as vítimas. Até agora, ele tinha omitido tais revelações. Mas, para o psiquiatra e perito Michel Debout, designado pela Justiça, Preynat é "meio padre, meio predador" e "não percebe o sofrimento do outro". Segundo o especialista, "para um predador, o outro não existe, ele só o utiliza para satisfazer seus impulsos."

 

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