Acessar o conteúdo principal

'Narcolanchas': precaridade social e policial mudam cenário do tráfico de drogas na Espanha

Em fevereiro deste ano, dois agentes da polícia morreram no sul da Espanha atropelados por uma “narcolancha”,  que tentava escapar das autoridades. A embarcação de alta velocidade é utilizada por traficantes de drogas para desembarcar as mercadorias no litoral do país.

Imagem de uma 'narcolancha', publicada em 15 de fevereiro de 2024 pela Guarda Civil espanhola, com mais de 4 toneladas de cocaína, apreendida em frente às Ilhas Canárias.
Imagem de uma 'narcolancha', publicada em 15 de fevereiro de 2024 pela Guarda Civil espanhola, com mais de 4 toneladas de cocaína, apreendida em frente às Ilhas Canárias. AFP - HANDOUT
Publicidade

Leticia Fuentes, da RFI

Nas imagens do crime, postadas nas redes sociais, é possível ouvir algumas pessoas aplaudindo os traficantes e insultando a polícia, o que evidencia um problema que se repete diariamente na região da Andaluzia. O tráfico de drogas está em primeiro plano e é, até mesmo, aceito por alguns setores da sociedade, que o vêem como uma saída para a situação econômica precária.

Mas quando o tráfico de drogas começou a ser um problema de Estado na Espanha? Nacho Carretero, jornalista e autor de 'Fariña', é especialista no assunto: "O tráfico de drogas na Espanha é herdeiro do contrabando nas zonas fronteiriças do pós-guerra da guerra civil espanhola. Estamos falando dos anos 30 e 40. O contrabando era uma atividade muito frequente e bem vista pela sociedade”.

Carretero explica como esse contrabando inicial acabou se transformando em tráfico de drogas em grande escala: “Isso foi crescendo. Os clãs foram ficando mais poderosos e maiores, também mais violentos, até chegarmos ao cenário que temos hoje", detalha.

“A droga que chega à Espanha é, sobretudo, a cocaína. Neste caso, ela vem da América Latina, é produzida e cultivada na Colômbia, mas é cada vez mais exportada do Equador, Brasil e América Central, e entra principalmente pela Galícia e Andaluzia”, explica o jornalista.

A Espanha é a principal porta de entrada de droga na Europa e a chegada dos entorpecentes acontece especialmente nos seus portos, em contêineres, ou por meio destes famosos barcos, cada vez mais poderosos. 

"Além da tragédia em si, de ir atrás de dois agentes da lei e matá-los, está o fato de haver muitas pessoas no porto gritando e aplaudindo, insultando os agentes assassinados".

Nacho Carretero destaca ainda que a aceitação do tráfico de drogas no país acontece especialmente devido às questões econômicas e os altos níveis de desemprego: “O tráfico de drogas é percebido como uma atividade legal, uma saída necessária para que se possa trabalhar, porque não há outras possibilidades, com uma cadeia produtiva muito reprimida e taxas de desemprego elevadas".

Forças de segurança em situação precária

A precariedade das forças policiais e a corrupção das instituições não ajudam no combate às drogas. Ainda assim, os números das apreensões são assustadores: só em 2023, as autoridades espanholas apreenderam mais de 308 toneladas de drogas, 10% a mais do que nos últimos anos.

“Há falta de agentes, falta de recursos e falta de melhores salários. Além disso, a Justiça na Espanha está em colapso. Os chamados ‘narco-advogados’ se aproveitam para atrapalhar as operações policiais”, finaliza o jornalista.

No Estreito de Gibraltar, na Galícia, em Valência... As rotas do narcotráfico se multiplicam no país também devido ao desespero de uma força policial que pede ao Governo mais recursos e a ajuda da Marinha para combater o tráfico de drogas.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.